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Publicado em 25 de Agosto às 14:30:43

Setor Externo (jul/23): Investimento Direto no País (IDP) se recupera no mês

No mês de julho, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 3,6 bilhões, ante resultado negativo de US$ 5,3 bilhões no mesmo mês do ano anterior. O resultado veio um pouco acima da mediana do mercado (-US$ 4,0 bilhões, Broadcast+). No acumulado do ano até julho, a conta corrente apresentou déficit de US$ 18,2 bilhões. Já no acumulado dos últimos doze meses encerrados em julho, o déficit é de US$ 51,1 bilhões, equivalente a 2,52% do PIB, comparativamente a um déficit de US$ 48,8 bilhões (2,71% do PIB) em julho de 2022.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 7,2 bilhões, ante US$ 4,1 bilhões em julho do ano passado. Ainda por conta do setor agropecuário, a balança comercial continuou a apresentar um bom resultado. As exportações de bens totalizaram US$ 29,2 bilhões, redução de 3,3% a/a. Já a diminuição das importações de bens foi um pouco maior, de 15,7% a/a, totalizando US$ 21,9 bilhões. Essa redução das importações em magnitude maior do que as exportações sinaliza uma desaceleração da atividade econômica mais pronunciada no Brasil do que no resto do mundo. O resultado do PIB do segundo trimestre surpreendeu para cima no caso dos Estados Unidos, enquanto a Zona do Euro conseguiu deixar para trás o quadro de recessão técnica no qual se encontrava. Já a China, principal destino dos produtos brasileiros, continua a surpreender negativamente, o que pode contribuir para uma maior redução no volume de exportações daqui até o final do ano.

A conta de serviços apresentou novo déficit de US$ 3,2 bilhões em julho, com queda de 0,8% a/a (déficit de US$ 3,2 bilhões no mesmo mês do ano passado). As despesas líquidas com viagens internacionais aumentaram 23,7% a/a e somaram US$ 817 milhões com a volta acima do esperado do setor de turismo após a reabertura de vários destinos que ainda não estavam disponíveis nessa mesma época do ano passado. A conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 941 milhões, recuo de 45,0% a/a, novamente influenciada por menores gastos em fretes. As despesas líquidas com o aluguel de equipamentos somaram US$ 1,0 bilhão, um avanço interanual de 53,1% a/a.

O déficit em renda primária somou US$ 7,7 bilhões em julho, aumento de 17,7% a/a comparativamente ao déficit de US$ 6,6 bilhões em julho de 2022. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 4,0 bilhões, ante US$ 3,6 bilhões em julho de 2022. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 3,8 bilhões em julho de 2023, ante US$ 3,0 bilhões em julho de 2022. Do lado da despesa, o aumento dos gastos com o pagamento de juros se deu por influência de títulos emitidos localmente, além do aumento das operações intercompanhia.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 4,2 bilhões em julho, consideravelmente pior que o resultado do mesmo mês do ano anterior (US$ 7,2 bilhões) e abaixo até mesmo da mediana das estimativas dos analistas (US$ 6,0 bilhões, Broadcast+). Em julho, houve ingressos líquidos de US$ 3,5 bilhões em participação no capital e por volta de US$ 700 milhões em operações intercompanhia. No acumulado de doze meses, o IDP totalizou US$ 71,7 bilhões (3,54% do PIB) em julho, ante US$ 74,6 bilhões (3,74% do PIB) em junho deste ano e US$ 61,0 bilhões (3,38% do PIB) em julho de 2022. Já no acumulado do ano até julho, o IDP soma US$ 33,6 bilhões. Para esse ano, a estimativa do Banco Central presente no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho é de que o IDP feche o ano com entradas líquidas de US$ 75 bilhões.

Os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram saídas líquidas de US$ 333 milhões em julho de 2023, compostos por um fluxo positivo de US$ 150 milhões em fundos de investimento e US$ 1,2 bilhões em ações brasileiras, além de um fluxo negativo de US$ 1,7 bilhão em ativos de renda fixa no país. No acumulado de doze meses encerrados em julho, os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram ingressos líquidos de US$ 12,8 bilhões.

O desenho final do Novo Arcabouço Fiscal, apesar de mais restrito do que o texto tanto do Senado como da proposta inicial do governo, não é capaz, por si só, de garantir uma melhora estrutural da capacidade do país gerar superávits primários. Além disso, a nova regra fiscal não deve ser capaz de garantir a estabilização da relação dívida/PIB. Com isso, muito dificilmente o Brasil retomará o grau de investimento, o selo internacional de bom pagador que atesta a qualidade do país e que é indispensável para que alguns fundos no exterior possam investir no Brasil. Um outro ponto que voltou a ser aventado pelo governo e que pode ter impactos negativos significativos sobre a capacidade do país em atrair o capital externo é a contestação do modelo de privatização da Eletrobras no STF. Ainda assim, no curto prazo, o fluxo de IDP deverá continuar financiando os déficits em transações correntes com alguma folga. O montante atual é mais do que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 2,52% do PIB dos últimos doze meses.

No médio prazo, um ponto que chama atenção e que pode conter o fluxo de IDP para o Brasil é a “batalha de subsídios” que está começando a se dar em nível global entre as economias desenvolvidas para fomentarem e acelerarem o processo de transição energética para uma economia mais verde de baixo carbono. Num cenário de políticas industriais agressivas a nível global, sairiam como as maiores receptoras dos fluxos de investimentos as economias com um maior espaço fiscal, por serem elas as capazes de conceder os maiores subsídios. Ações do tipo tendem a privilegiar os fluxos de capitais em prol das economias desenvolvidas, com menos recursos sendo direcionados para países emergentes como o Brasil. Isso pode ter impactos diretos sobre o Novo PAC, que pode não conseguir o volume de investimentos externos que espera pelo fato das isenções fiscais e subsídios para programas de transição energética serem maiores nos países desenvolvidos. Depois de aprovar a Lei de Redução de Inflação (IRA), os EUA já passaram a registrar um aumento considerável no influxo de investimentos externos.

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