No mês de julho, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 5,2 bilhões, ante resultado negativo de US$ 3,6 bilhões no mesmo mês de 2023. O resultado veio pior do que o consenso de mercado (-US$ 4,4 bilhões, Broadcast+), com o déficit superando também a nossa previsão (-US$ 4,8 bilhões). No acumulado dos último doze meses, o resultado foi de -US$ 34,8 bilhões (1,56% do PIB), uma piora em relação aos -US$ 33,2 bilhões (1,48% do PIB) dos doze meses encerrados em junho. O número de julho confirmou a piora na dinâmica das transações correntes decorrente do crescimento robusto que vem sendo registrado pela economia brasileira.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 7,1 bilhões, ante US$ 7,6 bilhões em julho de 2023. As exportações de bens totalizaram US$ 31,2 bilhões, alta de 9,3% a/a, ante recuo de 2,8% a/a no mês imediatamente anterior. As importações, por sua vez, atingiram US$ 24,1 bilhões, com uma expansão de 15,2% a/a em julho após ter avanço 13,4% a/a em junho. Com este resultado, no acumulado dos últimos doze meses, o superávit foi de US$ 87,2 bilhões (US$ 347,2 bilhões em exportações e US$ 260,0 bilhões em importações). Daqui em diante, a tendência de desaceleração das principais economias globais deve impor uma pressão baixista sobre os preços das commodities e superar os efeitos da desvalorização do real sobre as exportações líquidas, pesando sobre a balança comercial.
A conta de serviços registrou déficit de US$ 4,8 bilhões em julho, uma alta de 50,3% a/a (déficit de US$ 3,2 bilhões no mesmo mês de 2023). As despesas líquidas com viagens internacionais recuaram 5,9% a/a e somaram US$ 769 milhões, ainda sofrendo com a desvalorização do real vista nos últimos meses. Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,6 bilhão, alta de 70,0% a/a, pressionada pelos preços dos fretes. Com o maior vigor da atividade econômica, volta a prevalecer o padrão de que em períodos de economia aquecida a conta de serviços passa a ser muito deficitária, pressionando o resultado das transações correntes.
Já o déficit em renda primária foi de US$ 7,8 bilhões em julho, queda de 4,8% a/a comparativamente ao déficit de US$ 8,2 bilhões do mesmo mês de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 3,5 bilhões, ante US$ 4,5 bilhões em junho de 2023, um recuo de 21,4% a/a. Já as despesas líquidas com juros que somaram US$ 4,4 bilhões em julho, uma alta de 15,6% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Em julho, os investimentos em carteira no mercado doméstico continuaram a se recuperar, registrando ingressos líquidos de US$ 753 milhões. Esse montante foi composto por um fluxo positivo de US$ 1,485 bilhão em ações brasileiras. O montante restante de -US$ 732 milhões foi relativo à saída líquida de investimentos em fundos (-US$ 626 milhões) e em renda fixa (-US$ 106 milhões). O investimento líquido em ações domésticas se recuperou no mês por conta de alguns fatores. Na seara externa, a percepção de uma maior fraqueza da economia norte-americana aumentou a precificação de cortes de juros pelo Fed esse ano, o que ajudou a afrouxar as condições financeiras globais. Já no ambiente doméstico, a mudança na comunicação dos diretores do banco central brasileiro, que adotaram um tom mais duro (“hawkish”), ajudou a dissipar parte das incertezas que o mercado tinha a respeito da condução da política monetária a partir do ano que vem. Por fim, houve uma percepção por parte dos gestores que o Brasil, por vir surpreendendo positivamente em termos de crescimento econômico, deve apresentar uma performance melhor em relação aos pares emergentes e latino-americanos, o que ajudou a recuperar parte do fluxo estrangeiro de recursos para o país que havia saído ao longo do ano.
Em relação a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 7,3 bilhões em julho, levemente acima do que foi registrado no mesmo mês de 2023 (US$ 7,1 bilhões), superando as projeções dos analistas (US$ 6,0 bilhões, Broadcast+) e a nossa previsão de US$ 6,1 bilhões. O resultado de julho levou o IDP acumulado em doze meses para US$ 71,8 bilhões (3,23% do PIB). Na nossa avaliação, o desempenho mais positivo no mês reflete a redução das incertezas externas, sobretudo em relação à condução da política monetária nos EUA diante da divulgação de dados que corroboram a expectativa do mercado de que o ciclo de afrouxamento monetário terá início já na próxima reunião de setembro. Apesar de o IDP ainda continuar a financiar os déficits em transações correntes no curto prazo, a tendência é que essa folga seja comprimida com o passar do tempo à medida que a atividade econômica mais aquecida continue a pressionar cada vez mais a conta corrente, gerando déficits cada vez maiores.