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Publicado em 25 de Julho às 14:49:12

Setor Externo (Jun/25): Déficit em transações correntes volta a superar o investimento direto

No mês de junho, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 5,1 bilhões, ante resultado negativo de US$ 3,4 bilhões no mesmo mês de 2024. O resultado veio próximo do piso das projeções de mercado (US$ -5,7 bilhões, Broadcast+) e bem pior do que a nossa projeção (US$ -2,8 bilhões). Nos últimos doze meses o resultado foi de US$ -73,1 bilhões (3,42% do PIB), registrando forte piora em relação aos US$ -28,9 bilhões (1,28% do PIB) do mesmo período de 2024.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 5,3 bilhões em junho, ficando aquém do projetado por nós (US$ 6,4 bilhões). As exportações de bens totalizaram US$ 29,3 bilhões, praticamente o mesmo patamar de um ano atrás (US$ 29,0 bilhões). As importações, por sua vez, atingiram US$ 24,0 bilhões, alta de 2,8% a/a. A balança comercial vem se sustentando por conta da safra agrícola recorde do início do ano, que até agora vem evitando um resultado ainda pior do saldo comercial, uma vez que as importações continuam robustas em vista da atividade econômica aquecida.

A conta de serviços registrou déficit de US$ 4,5 bilhões em junho, uma alta de 3,7% a/a (déficit de US$ 3,4 bilhões no mesmo mês de 2024), vindo próximo da nossa projeção de US$ 4,2 bilhões. Nos 12 meses findos em junho o déficit foi de US$ 56,4 bilhões, mas deve sofrer uma melhora no 2º semestre. As despesas líquidas com viagens internacionais somaram US$ 1,3 bilhão, uma alta de 17,0% a/a em relação ao US$ 1,1 bilhão registrado em junho de 2024. Essa alta também foi relevante na comparação mensal (6,9% m/m) muito por conta da desvalorização do dólar e da consequente valorização do real no período. Já a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,2 bilhão, alta de 8,0% a/a.

O déficit em renda primária foi de US$ 6,2 bilhões em junho, vindo em linha com a nossa projeção (US$ 6,3 bilhões) e registrando uma alta de 25,5% a/a comparativamente ao déficit de US$ 4,9 bilhões do mesmo mês de 2024. Em 12 meses, o déficit da balança de renda primária foi de US$ 75,1 bilhões, no mesmo patamar que esperamos que encerre o ano (US$ 75,0 bilhões). As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 3,8 bilhões, um pouco melhor do que esperávamos (US$ -4,2 bilhões), ante US$ 2,6 bilhões em junho de 2024, um avanço de 45,6% a/a. Por sua vez, as despesas líquidas com juros somaram US$ 2,4 bilhões no sexto mês do ano, uma alta de apenas 1,8% a/a.

Em junho, os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram os seguintes fluxos associados as 3 principais categorias de investimento: ativos de renda fixa (US$ 4,56 bilhões), fundos (US$ -742 milhões) e ações (US$ -1,497 bilhão). Isso fez com que o resultado líquido agregado fosse de US$ 2,321 bilhões no mês, puxado pela atratividade das posições de “carry-trade”.

No tocante a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 2,8 bilhões em junho, resultado que veio não só aquém da nossa projeção (US$ 4,5 bilhões), como também abaixo do piso das estimativas do mercado (US$ 3,4 bilhões, Broadcast+). Diferentemente de maio, apenas o item de participação no capital contribuiu positivamente para o IDP (US$ 6,4 bilhões), ao passo que as operações intercompanhia registraram saídas líquidas de US$ 3,6 bilhões. Na métrica em 12 meses, o IDP (US$ 67,0 bilhões, 3,14% do PIB) deixou de ficar acima do déficit em transações correntes (US$ 73,1 bilhões, 3,42% do PIB) por uma margem não desprezível.

A pior combinação para as contas externas brasileiras se dá em momentos nos quais coexistem atividade econômica aquecida (pesando sobre as balanças de serviços e de rendas) com incerteza elevada (impactando negativamente o IDP), que é justamente o quadro que o Brasil se depara no momento. Desde o anúncio das tarifas recíprocas do “Liberation Day” no dia 2 de abril, o IDP mensal entrou em trajetória de queda mesmo com o Brasil, à época, sendo taxado com a tarifa mínima de 10%. Caso a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras com destino aos Estados Unidos anunciada recentemente entre em vigor a partir de agosto, esperamos uma piora ainda mais acentuada nos fluxos de capitais para o Brasil, tornando ainda mais difícil financiar o alto déficit em transações correntes, e deixando apenas a desvalorização cambial ou o arrefecimento da atividade econômica como instrumentos para ajustar os desequilíbrios das contas externas brasileiras.

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