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Publicado em 26 de Junho às 14:17:46

Setor Externo (mai/23): Balança comercial registra o melhor resultado da série histórica

No mês de maio, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram superávit de US$ 649 milhões, ante déficit de US$ 4,6 bilhões no mesmo mês do ano anterior. O resultado veio bem abaixo da mediana do mercado (US$ 1,45 bilhão, Broadcast+). No acumulado do ano até maio, a conta corrente apresentou déficit de US$ 12,6 bilhões. Já no acumulado dos últimos doze meses encerrados em maio, o déficit é de US$ 48,5 bilhões, equivalente a 2,45% do PIB, comparativamente a um déficit de US$ 51,2 bilhões (2,89% do PIB) em maio de 2022.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 9,7 bilhões (o melhor resultado da série histórica), ante US$ 3,4 bilhões em maio do ano passado. As exportações de bens totalizaram US$ 33,3 bilhões, aumento de 11,2% a/a. Já as importações de bens diminuíram 11,3% a/a, totalizando US$ 23,6 bilhões. Essa redução se deu pela atividade econômica mais fraca pelo lado da demanda, e que deve enfraquecer ainda mais no 2º semestre, impondo viés baixista para as importações pelo restante do ano. A manutenção de um bom resultado na balança comercial se deu pelo crescimento da produção do setor agropecuário, expresso no aumento das exportações de grãos.

Já a conta de serviços apresentou novo déficit de US$ 3,1 bilhões em maio, com queda de 8,5% a/a (déficit de US$ 3,4 bilhões no ano passado). A conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,2 bilhão, recuo de 35,0% a/a, novamente influenciada por menores gastos em fretes. As despesas líquidas com aluguel de equipamentos somaram US$ 618 milhões, um aumento interanual de 2,7% a/a. As despesas líquidas com viagens internacionais se reduziram em 11,7% a/a e somaram US$ 634 milhões. Isso se deu pelo fato dos gastos de estrangeiros no Brasil terem registrado o maior resultado da série, ao passo que as viagens de brasileiros ao exterior ainda não retornaram ao patamar pré-pandemia. Por sua vez, as despesas líquidas com os demais serviços mais do que dobraram nos últimos doze meses (alta de 133,1% a/a), saindo de US$ 304 milhões em maio de 2022 para US$ 709 milhões em maio desse ano.

O déficit em renda primária somou US$ 6,0 bilhões em maio de 2023, aumento de 21,3% a/a comparativamente ao déficit de US$ 4,9 bilhões em maio de 2022. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 4,6 bilhões, ante US$ 4,2 bilhões em maio de 2022. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 1,4 bilhão em maio de 2023, ante US$ 716 milhões em maio de 2022. Do lado da receita, a alta deveu-se quase integralmente a remuneração das reservas, enquanto do lado da despesa o aumento dos gastos com o pagamento de juros foi devido a subida das taxas no exterior.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 5,4 bilhões em maio, consideravelmente melhor que o resultado do mesmo mês do ano anterior (US$ 4,0 bilhões), mas bem abaixo da mediana das estimativas dos analistas (US$ 7,0 bilhões). Em maio, houve ingressos líquidos de US$ 4,9 bilhões em participação no capital e US$ 438 milhões em operações intercompanhia. No acumulado de doze meses, o IDP totalizou US$ 83,4 bilhões (4,21% do PIB), ante US$ 82,0 bilhões (4,16% do PIB) em abril e US$ 57,0 bilhões (3,22% do PIB) em maio de 2022. Já no acumulado do ano até maio, o IDP soma US$ 29,7 bilhões. A estimativa do próprio Banco Central para o IDP de 2023 (US$ 75,0 bilhões) deve sofrer revisão no próximo Relatório Trimestral de Inflação (RTI) em vista das surpresas baixistas observadas nas divulgações recentes e da desaceleração da economia.

Os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram saídas líquidas de US$ 4,0 bilhões em maio de 2023, compostos por saídas líquidas de US$ 1,8 bilhão em ações e fundos de investimento e de US$ 2,2 bilhões em títulos de dívida. Do US$ 1,8 bilhão de saídas líquidas em maio, US$ 951 milhões vieram de investimentos em fundos no Brasil e US$ 816 milhões em ações brasileiras. Nos doze meses encerrados em maio de 2023, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$ 9,8 bilhões.

Em nossa avaliação, o setor agropecuário segue como um grande vetor positivo para continuar impulsionando as exportações brasileiras, enquanto as importações devem passar a sofrer cada vez mais dos ventos contrários da desaceleração da atividade, que deve se intensificar no segundo semestre do ano. Com isso, a balança comercial de bens deve continuar apresentando superávits expressivos. Na seara externa, os mesmos fatores de preocupação permanecem, com as políticas de reversão da globalização que propõem a aproximação (nearshoring/friendshoring) ou a internalização (reshoring) das cadeias produtivas tendendo a remoldar os fluxos internacionais de capitais e levando a uma realocação dos investimentos. Tendo como prioridade a reformulação das cadeias de suprimento globais, privilegiando as relações entre os países ricos, esse movimento tende a desfavorecer países emergentes, como o Brasil, com uma diminuição do fluxo de investimentos. Ainda assim, no curto prazo, o fluxo de Investimento Direto no País (IDP) deverá continuar financiando os déficits em transações correntes com alguma folga. O montante atual é mais do que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 2,45% do PIB dos últimos doze meses.

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