Com a greve dos servidores do Banco Central, o relatório das contas externas não estava sendo divulgado. Com o fim da paralisação, os dados referentes ao mês de março foram divulgados hoje.
As transações correntes registraram déficit de US$2,8 bilhões em março, ante déficit de US$5,2 bilhões no mesmo mês do ano passado. A expectativa do mercado era superávit de 400 milhões. Em doze meses, o déficit em transações correntes somou US$23,5 bilhões (1,41 % do PIB). A redução do déficit na comparação interanual ocorreu pela melhora na balança comercial (aumento de US$6,6 bilhões), com aumento das exportações. Por outro lado, com a retomada econômica, as contas de serviços e rendas vieram mais deficitárias (aumento de lucros e viagens internacionais).
Em março, a balança comercial registrou superávit de US$6,1 bilhões, ante saldo negativo de US$514 milhões no mesmo mês do ano passado. As exportações apresentaram forte aceleração, totalizando US$29,7 bilhões. Já as importações ficaram em US$23,6 bilhões. Ambas as contas rodam em nível recorde nos últimos doze meses, com as exportações somando US$301 bilhões e as importações US$253 bilhões
Os serviços apresentaram déficit de R$2,2 bilhões, aumento de 106,8% em relação ao mesmo mês do ano passado. Vale destacar o aumento expressivo com a conta de viagens internacionais (de -US$100 milhões para -US$648 milhões). Com a recuperação econômica e o fim de diversas restrições a mobilidade, os brasileiros voltaram a consumir no exterior. Entretanto, esse indicador ainda se encontra distante do período pré pandemia. Em doze meses, a conta de viagens apresenta um déficit de US$3,5 bilhões (nível pré pandemia era de -US$11 bilhões).
A conta de rendas apresentou um déficit de US$6,9 bilhões, aumento de 69% a/a. O crescimento ocorreu principalmente, pelo aumento dos lucros e dividendos. Com a recuperação econômica, e consequentemente a recuperação dos lucros, vem ocorrendo uma retomada aos níveis pré pandemia dessa categoria. No acumulado em 12 meses, o saldo dos lucros e dividendos é negativo em US$35,3 bilhões, patamar similar ao observado antes da pandemia.
No acumulado do ano, as maiores diferenças em relação ao ano passado ocorrem na balança comercial, com o crescimento das exportações e na conta de lucros e dividendos com a recuperação econômica e o crescimento dos lucros.
Na conta financeira, o investimento direto no país (IDP) totalizou US$7,6 bilhões em março, melhor que a expectativa do mercado (US$6,0 bilhões, Broadcast). O resultado advém do ingresso líquido na participação do capital (US$6,2 bilhões). Já as operações Inter companhia somaram ingresso líquido de US$1,4 bilhão. Em doze meses, o IDP acumula US$51,2 bilhões (3,1% do PIB), ante US$50,7 bilhões no mês anterior. O aumento do risco fiscal em conjunto com a proximidade de uma eleição polarizada com discursos populistas pode retardar a recuperação desse indicador que é sensível a confiança de médio/longo prazo. As discussões em torno da manutenção do auxílio brasil em R$600 e questionamentos sobre o teto de gastos aumentam incertezas em relação a sustentabilidade fiscal e afetam a trajetória da dívida pública, tornando agentes mais receosos em relação aos investimentos.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram saídas líquidas de US$5,5 bilhão, com ingressos líquidos de US$1,1 bilhão em ações e fundos de investimento, porém saídas líquidas de US$6,6 bilhões em títulos de dívida. Em doze meses, os ingressos líquidos em carteira totalizaram US$19,8 bilhões.