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Publicado em 25 de Abril às 15:09:42

Setor Externo (mar/23): Transações correntes registram superávit de US$ 286 milhões

No mês de março, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram superávit (US$ 286 milhões) pela primeira vez desde junho de 2022, ante déficit de US$ 3,0 bilhões no mesmo mês do ano passado, mas vindo bem abaixo da mediana das projeções, que apontava para um superávit bem mais expressivo de US$ 1,0 bilhão (Broadcast+). No trimestre encerrado em março a conta corrente apresentou déficit de US$ 11,8 bilhões. Já no acumulado dos últimos doze meses, o déficit é de US$ 52,3 bilhões, isto é, 2,66% do PIB, comparativamente a US$ 41,3 bilhões (2,43% do PIB) em março de 2022.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 9,5 bilhões no mês (o maior da série histórica), ante US$ 6,1 bilhões em março do ano passado. O resultado refletiu o saldo entre US$ 33,3 bilhões em exportações e US$ 23,8 bilhões em importações, acréscimos de 12,1% a/a e 0,9% a/a, respectivamente. Com as exportações avançando consideravelmente mais do que as importações na métrica anual, viu-se uma melhora de US$ 3,4 bilhões no saldo da balança comercial. Esse resultado recorde se deu pelo crescimento da produção do setor agropecuário, expresso no aumento das exportações de grãos.

Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 2,9 bilhões em março, redução de 14,1% a/a. As despesas líquidas com viagens internacionais continuam rodando abaixo dos patamares anteriores pré-pandemia, alcançando US$ 546 milhões. Além disso, contribuíram para o recuo de US$ 469 milhões no déficit da conta de serviços na métrica anual a redução do déficit em transportes (US$ 1,1 bilhão, ante US$ 1,5 bilhão) e nos “demais serviços” (US$ 336 milhões, ante US$ 518 milhões). Por sua vez, o aluguel de equipamentos se destacou mais uma vez e teve despesas líquidas que totalizaram US$ 805 milhões ante US$ 651 milhões na comparação com março de 2022, um aumento de 23,7%.

O déficit na conta de renda primária não acompanhou o movimento visto em serviços e avançou 6,4% a/a, saindo de US$ 6,0 bilhões para US$ 6,4 bilhões. Por sua vez, as despesas líquidas de lucros e dividendos totalizaram US$ 4,0 bilhões, ante US$ 5,0 bilhões em março de 2022. As despesas líquidas com juros somaram US$ 2,4 bilhões em março, um aumento considerável frente aos US$ 1,1 bilhão do mesmo mês do ano passado devido ao aumento das operações intercompanhia.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 7,7 bilhões em março, numa melhora frente aos US$ 6,9 bilhões no mesmo mês do ano passado, vindo abaixo das estimativas dos analistas (US$ 9,4 bilhões, Broadcast+). Os ingressos líquidos em participação no capital atingiram US$ 6,4 bilhões em março e de US$ 1,2 bilhão em operações intercompanhia. No acumulado em doze meses, o IDP totalizou US$ 89,7 bilhões (4,57% do PIB), numa alta frente aos US$ 88,9 bilhões (4,54% do PIB) do mês imediatamente anterior e num aumento expressivo em relação aos US$ 47,7 bilhões (2,80% do PIB) registrados em março de 2022. Em 2023 até março, o IDP já soma US$ 21,0 bilhões. Para 2023, o ingresso de investimentos estrangeiros no país deve fechar o ano na faixa de US$ 75-80 bilhões.

Dos investimentos em carteira no mercado doméstico, foi registrado o ingresso líquido de US$ 1,7 bilhão em ativos de renda fixa e a saída líquida de US$ 3,3 bilhões em ações e US$ 348 milhões em fundos, totalizando US$ 2,0 bilhões em saídas líquidas. No agregado de doze meses, a posição em carteira no mercado local sofreu um aporte líquido de US$ 7,1 bilhões.

Em nossa avaliação, embora a crise bancária recente nos EUA e na Europa tenha sido aparentemente controlada, alguns fatores de risco sobre as transações correntes permanecem, e novos que parecem emergir merecem atenção. Dentre os fatores que permanecem temos o aumento da incerteza sobre a trajetória econômica global de curto e médio prazo, o que, por sua vez, impõe um viés de baixa sobre a atividade econômica. No Brasil, a tendência cada vez mais clara de desaceleração interna tende a desestimular as importações, enquanto os fatores externos acima citados devem pesar negativamente sobre as exportações. Já dentre os fatores novos, temos que políticas de reversão da globalização como aquelas que propõe a aproximação (nearshoring/friendshoring) ou a internalização (reshoring) das cadeias produtivas tenderão a remoldar os fluxos internacionais de capitais, levando a uma realocação dos investimentos. Essa remodelagem tende a desfavorecer países emergentes como o Brasil pelo fato de que as nações desenvolvidas são as maiores responsáveis por esses fluxos de investimentos e, com elas planejando um estreitamento dos laços entre si, o fluxo desses recursos para países em desenvolvimento deve sofrer alguma redução, uma vez que a prioridade será a reformulação das cadeias de suprimentos globais. Ainda assim, no curto e no médio prazo, o fluxo de Investimento Direto no País (IDP) deverá continuar financiando os déficits em transações correntes com alguma folga.

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