No mês de março, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 4,6 bilhões, ante superávit de US$ 698 milhões no mesmo mês de 2023. O resultado veio consideravelmente pior do que a mediana de mercado (US$ -3,1 bilhões, Broadcast+). No acumulado dos últimos doze meses encerrados em março, o déficit foi de US$ 32,6 bilhões (1,46% do PIB), após o pior resultado para o mês desde 2021, mas bem abaixo dos US$ 49,3 bilhões (2,46% do PIB) registrados em março do ano passado.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 5,1 bilhões, ante US$ 9,3 bilhões em março de 2023. As exportações de bens totalizaram US$ 28,5 bilhões, queda de 14,0% a/a, ante crescimento de 12,0% a/a no mês imediatamente anterior. Já as importações interromperam a alta na métrica interanual, saindo de um avanço de 7,8% a/a em fevereiro para uma queda de 1,9% a/a em março, totalizando US$ 23,4 bilhões. No acumulado dos últimos doze meses, o superávit foi de US$ 80,7 bilhões (US$ 346,4 bilhões em exportações e US$ 265,7 bilhões em importações). No geral, as exportações sofreram devido à quebra de safra e a demanda externa mais fraca, o que acabou pesando sobre o déficit em conta corrente.
A conta de serviços registrou déficit de US$ 3,7 bilhões em março, uma alta de 21,4% a/a (déficit de US$ 3,1 bilhões no mesmo mês de 2023). As despesas líquidas com viagens internacionais recuaram 16,7% a/a e somaram US$ 455 milhões, deixando de se beneficiar de uma base de comparação depreciada da época da pandemia. Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,3 bilhão, alta de 13,4% a/a. Esse avanço expressivo ainda se dá pelas pressões altistas sobre os preços dos fretes por conta do conflito no Oriente Médio e da seca no Canal do Panamá.
O déficit em renda primária foi de US$ 6,0 bilhões em março, alta de 6,8% a/a comparativamente ao déficit de US$ 5,6 bilhões do mesmo mês de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 3,8 bilhões, ante US$ 3,6 bilhões em março de 2023, um avanço de 4,7% a/a. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 2,2 bilhões no terceiro mês de 2024, ante US$ 2,0 bilhões no mesmo período de 2023, alta de 11,9% a/a.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram egressos líquidos de apenas US$ 72 milhões em março de 2024, compostos por um fluxo negativo de US$ 3,3 bilhões em fundos de investimento e em ações, resultante de um desinvestimento de US$ 3,4 bilhões em ações brasileiras e de um ingresso líquido de US$ 118 milhões em fundos. O montante restante de US$ 3,2 bilhões foi relativo à entrada líquida de investimentos em renda fixa (títulos de dívida). O fato de o investimento líquido negativo ter se dado majoritariamente em ações esteve associado os maiores ruídos envolvendo a relação do governo com empresas estatais e ex-estatais (Petrobras, Eletrobras e Vale), levando a um movimento de “sell-off”.
Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 9,6 bilhões em março, acima do número registrado em no mesmo mês de 2023 (US$ 7,3 bilhões) e superando também o teto das projeções dos analistas (US$ 9,2 bilhões, Broadcast+). O resultado de março levou o IDP acumulado em doze meses para US$ 66,5 bilhões (2,98% do PIB). O fato de o resultado mais forte do IDP ter ocorrido muito por conta das operações intercompanhia (US$ 5,5 bilhões) deixa pouca margem para que ele se converta em investimentos para aumentar a capacidade produtiva. O adiamento do início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos também deve impactar negativamente as perspectivas para o IDP no restante do ano por conta do diferencial de juros entre os dois países, que agora deve levar mais tempo para voltar a aumentar. A despeito disso, o IDP ainda deve continuar a financiar os déficits em transações correntes com alguma folga.