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Publicado em 21 de Dezembro às 14:55:01

Setor Externo (nov/22): Transações correntes apresentam déficit de apenas US$ 60 milhões

No mês de novembro as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 60 milhões (o melhor resultado para o mês desde 2006), bem abaixo das projeções do mercado, que apontavam para um déficit de US$ 2,1 bilhões (Bloomberg). Desse modo, o déficit em doze meses até novembro de 2022 é de US$ 52,4 bilhões, isto é, 2,78% do PIB, atingindo o menor patamar desde abril (2,55%). No acumulado do ano até novembro o déficit é de US$ 44,6 bilhões. Segundo o Banco Central do Brasil a conta corrente deve fechar 2022 com um déficit de US$ 60 bilhões.

No que se refere à balança comercial, a mesma apresentou um superávit de US$ 5,1 bilhões no mês, uma melhora expressiva frente ao saldo negativo de US$ 2,3 bilhões de novembro de 2021. Isso se deu, pois, as exportações cresceram 39,3% a/a e as importações 3,0% a/a. No mês de novembro, as exportações somaram US$ 28,9 bilhões e as importações, US$ 23,7 bilhões. No acumulado de 2022 até novembro o saldo da balança comercial é de US$ 41,8 bilhões.

Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 2,5 bilhões em novembro, uma melhora considerável frente ao déficit de US$ 3,5 bilhões em outubro e US$ 2,8 bilhões em novembro de 2021. Com a retomada pós-pandemia, o déficit de viagens se elevou em cerca de 115% em comparação com novembro do ano passado, indo a US$ 641 milhões, ao passo que as despesas com transportes se reduziram em 10,2%, somando US$ 1,5 bilhões, devido aos combustíveis voltarem a registrar inflação em novembro depois de cinco meses seguidos de deflação. Mas a maior virada ocorreu no item de demais serviços, que saiu de um déficit de US$ 509 milhões em outubro para um superávit de US$ 127 milhões em novembro, sendo esse o principal driver para a redução do déficit de serviços.

O déficit na conta de renda primária acompanhou esse movimento de serviços e também apresentou redução, saindo de US$ 4,1 bilhões em outubro para US$ 3,0 bilhões em novembro. Já em relação a novembro de 2021, a redução do déficit foi da ordem de 18,4%. Deve-se destacar a redução das despesas líquidas com lucros e dividendos, que recuaram consideravelmente em relação a um ano antes, indo de US$ 2,9 bilhões para US$ 2,3 bilhões, e também em relação ao mês anterior (outubro) quando o desembolso foi de US$ 3,0 bilhões. Além disso, as despesas líquidas com juros se reduziram em US$ 401 milhões, saindo de US$ 1,1 bilhões em outubro para US$ 656 milhões em novembro.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou US$ 8,3 bilhões em novembro, uma robusta melhora frente aos US$ 5,0 bilhões em novembro de 2021, e vindo acima das projeções do mercado de US$ 7,3 bilhões (Bloomberg). Apesar do aumento da incerteza fiscal em vista da divulgação da proposta da PEC da transição e do arcabouço que será proposto pelo novo governo em 2023 que permeou todo o mês de novembro, o investimento em ações totais foi positivo no mês (US$ 2,4 bilhões). Desse modo, no acumulado do ano até novembro, o IDP totalizou US$ 82,3 bilhões, um crescimento de 59,4% em relação ao mesmo período do ano anterior e já se encontra em patamar acima dos US$ 80 bilhões esperados pelo banco central para 2022. Em 12 meses, o IDP somou US$ 77,1 bilhões, isto é, 4,09% do PIB. Deve-se destacar, portanto, que o investimento no país vem apresentando uma recuperação robusta, já tendo alcançado o patamar pré-Covid.

Ainda no que se refere à conta financeira, novembro foi um mês de entrada líquida de investimentos em fundos (US$ 137 milhões), renda fixa (US$ 1,2 bilhões) e ações (US$ 2,2 bilhões). Esse fluxo de investimentos externos no país contribuiu para a grande melhora da conta financeira na passagem de outubro para novembro, com um déficit de US$ 6,1 bilhões dando lugar a um superávit de US$ 406 milhões.

Em nossa avaliação, a combinação de um cenário externo mais adverso e o surgimento dos primeiros sinais de desaceleração da economia brasileira adiciona um viés mais positivo para as transações correntes nos próximos meses. Acreditamos que a desaceleração econômica dos Estados Unidos e da Europa (ambos com grande risco de entrarem em recessão em 2023) será responsável por um arrefecimento do volume de exportações, refletindo os impactos da política monetária contracionista necessária para conter a inflação global ainda elevada. Por outro lado, o abandono por parte da China da sua rígida política de “covid-zero” pode dar algum impulso às exportações brasileiras. O processo já iniciado de desaceleração gradual da economia brasileira será responsável por conter um pouco o ímpeto da demanda interna, impondo viés de baixa para as importações. Por fim, deve-se destacar que o fluxo de Investimento Direto no País (IDP) continua a financiar o déficit em transações correntes.

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