No mês de novembro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 4,9 bilhões, ante resultado negativo de US$ 4,4 bilhões no mesmo mês de 2024. O resultado veio um pouco melhor do que a mediana das projeções de mercado (US$ -5,05 bilhões, Broadcast+) e a nossa projeção (US$ -5,4 bilhões). Nos últimos doze meses o resultado foi de US$ -77,7 bilhões (3,47% do PIB), consideravelmente pior do que o registrado no mesmo período de 2024 (US$ -61,5 bilhões; 2,78% do PIB).
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 5,1 bilhões em novembro, um pouco abaixo da nossa projeção de US$ 5,4 bilhões e dos US$ 6,0 bilhões do mesmo mês do ano passado. As importações atingiram US$ 23,6 bilhões, apresentando uma alta de 7,1% a/a, o que indica uma economia ainda aquecida, com a forte absorção doméstica levando a menor superávits da balança comercial. Já as exportações se expandiram apresentaram alguma acomodação, com o crescimento desacelerando de 7,6% a/a para 2,3% a/a, totalizando US$ 28,7 bilhões.
A conta de serviços registrou déficit de US$ 4,5 bilhões em novembro (-11,8% a/a), resultado esse que veio ao encontro do que prevíamos (US$ -4,5 bilhões). Nos 12 meses findos em novembro, o déficit foi de US$ 54,1 bilhões, patamar esse que deve se manter até o final do ano. As despesas líquidas com viagens internacionais somaram US$ 1,2 bilhão, uma alta de 20,7% a/a em decorrência do movimento de valorização da moeda brasileira frente ao dólar. Já a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,1 bilhão, aprofundando a queda para -28,1% a/a.
O déficit em renda primária foi de US$ 6,2 bilhões em novembro, vindo marginalmente melhor do que esperávamos (US$ -6,5 bilhões) e registrando uma alta de 6,4% a/a comparativamente ao déficit de US$ 5,8 bilhões do mesmo mês de 2024. Em 12 meses, o déficit da balança de renda primária foi de US$ 83,4 bilhões. As despesas líquidas de lucros e dividendos associadas aos investimentos direto e em carteira totalizaram US$ 4,8 bilhões em novembro, ante US$ 4,3 bilhões no mesmo mês de 2024, um avanço de 13,3% a/a. Por sua vez, as despesas líquidas com juros somaram US$ 1,4 bilhão no período, uma queda expressiva de 13,4% a/a.
Em novembro, os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram os seguintes fluxos associados as 3 principais categorias de investimento: ativos de renda fixa (US$ -1,763 bilhões), fundos (US$ -290 milhões) e ações (US$ -670 milhões). O resultado líquido de US$ -2,723 bilhões pode ser explicado pela reforma tributária, mais especificamente a introdução da tributação sobre dividendos, que acabou gerando o incentivo para as firmas estrangeiras aqui instaladas repatriarem os lucros para os seus respectivos países de origem antes da promulgação da nova legislação sobre o tema. Vale destacar que esse resultado negativo para o mês de novembro ocorreu num cenário no qual o “Carry to Vol” ainda estava favorável, com o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA aumentando e com uma volatilidade baixa do real.
No tocante a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 9,8 bilhões em novembro, resultado que veio no teto das estimativas dos analistas pelo terceiro mês consecutivo (US$ 9,9 bilhões, Broadcast+) e bem acima da nossa projeção de US$ 6,5 bilhões. Analisando a composição, a maior contribuição veio novamente do item de participação no capital (US$ 7,3 bilhões), com US$ 3,5 bilhões oriundos de participação no capital (ex lucros reinvestidos) e US$ 3,9 bilhões de lucros reinvestidos, enquanto as operações intercompanhia registraram entradas líquidas de US$ 2,5 bilhões. Isso ajudou a compensar o saldo líquido negativo dos investimentos em portfólio (ativos de renda fixa, fundos de investimento e ações locais). Outra característica dos IDPs recentes foi a sua sustentação em patamar elevado se dando por composições diferentes ao longo dos meses, com o resultado de novembro sendo mais saudável do que o de outubro por ter sido mais pulverizado e menos dependente de poucas empresas grandes. Mesmo assim, o elevado déficit em conta corrente continua a ter o IDP como principal fonte de financiamento, o que não permite a ocorrência de nenhuma surpresa negativa nesta métrica. Em 12 meses, o IDP (US$ 84,3 bilhões, 3,76% do PIB) se mantém só um pouco acima do déficit em transações correntes (US$ 77,7 bilhões, 3,47% do PIB).
No geral, a nossa avalição é de que o arrefecimento da atividade ocorrido até agora não foi suficiente para retirar a economia de um quadro de superaquecimento (hiato do produto positivo), condição essa que impede um distensionamento das contas externas. Assim, o vetor de pressão altista sobre a taxa de câmbio continua a existir, o que somado as incertezas eleitorais e aos impulsos fiscais já contratados para o ano de 2026 pode resultar num cenário de desvalorização cambial.










