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Publicado em 04 de Dezembro às 14:31:04

Setor Externo (out/23): Investimento Direto no País (IDP) decepciona, vindo abaixo do piso das projeções

No mês de outubro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 230 milhões, ante resultado negativo de US$ 5,8 bilhões no mesmo mês do ano anterior. O resultado veio ligeiramente melhor do que a mediana de mercado (-US$ 950 milhões, Broadcast+). No acumulado dos dez primeiros meses do ano, a conta corrente apresentou déficit de US$ 20,8 bi. Já no acumulado dos últimos doze meses encerrados em outubro, o déficit foi de US$ 34,0 bi (1,62% do PIB), ante US$ 39,6 bi (1,91% do PIB) no mês imediatamente anterior e US$ 56,7 bi (3,04% do PIB) em relação a outubro de 2022.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 7,4 bilhões, ante US$ 2,0 bilhões em outubro do ano passado, mantendo o superávit expressivo dos últimos meses. As exportações de bens totalizaram US$ 29,7 bilhões, alta de 7,6% a/a, ante redução de 4,2% a/a no mês imediatamente anterior. Já as importações desacentuaram a queda na métrica anual, saindo de um recuo de 23,8% a/a em setembro para um de 12,7% a/a, totalizando US$ 22,3 bilhões. No acumulado em doze meses, o superávit foi de US$ 74,0 bilhões. O resultado positivo no mês refletiu não só a alta das exportações como também a continuidade do movimento de queda, ainda que menos pronunciado, das importações, evidenciando a desaceleração da atividade econômica no Brasil enquanto as exportações ainda se mostram resilientes, beneficiadas pela perda de competitividade da agropecuária argentina em setores como o de grãos e o de carnes devido a implementação das “retenciones” (taxação sobre as exportações do agronegócio) e as condições climáticas mais adversas. Também contribuiu para o melhor resultado das exportações brasileiras a revisão altista do PIB norte-americano do terceiro trimestre (de uma taxa anualizada de 4,9% t/t para 5,2% t/t), enquanto a China, principal destino dos produtos brasileiros, passou apresentar alguns sinais mais promissores de estabilização da atividade econômica depois das várias medidas de estímulo por parte do governo, podendo passar a contribuir ainda mais para o desempenho da balança comercial nos próximos meses. Em contrapartida, os principais indicadores setoriais brasileiros apontam para uma perda de dinamismo da economia brasileira, apontando para uma contração do PIB tanto no terceiro como no quarto trimestre desse ano, o que deve atuar como um fator limitante para o desempenho das importações no período.

A conta de serviços apresentou um novo déficit de US$ 3,5 bilhões em outubro, com queda de 0,5% a/a (déficit de US$ 3,6 bilhões no mesmo mês do ano passado). As despesas líquidas com viagens internacionais avançaram 3,9% a/a e somaram US$ 679 milhões, se beneficiando de uma base de comparação ainda depreciada por conta da pandemia. Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 984 milhões, recuo de 42,8% a/a, ainda refletindo menores gastos com fretes, diante do arrefecimento dos gargalos nas cadeias globais de produção, que foram responsáveis por elevar significativamente o custo do frete global no pós-pandemia. Por fim, as despesas líquidas com aluguel de equipamentos somaram US$ 764 milhões, aumento de 15,3% a/a.

O déficit em renda primária somou US$ 4,2 bilhões em outubro, queda de 7,6% a/a comparativamente ao déficit de US$ 4,6 bilhões do mesmo mês de 2022. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 2,8 bilhões, ante US$ 3,5 bilhões em outubro de 2022. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 1,4 bilhões em outubro de 2023, ante US$ 1,1 bilhão no mesmo período de 2022.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 3,3 bilhões em outubro, bem abaixo dos US$ 5,8 bilhões registrados no mesmo mês do ano anterior e abaixo também até do piso das projeções dos analistas (US$ 3,9 bilhões, Broadcast+). Essa tendência de queda nos fluxos de IDP vem ocorrendo tanto por fatores internos como externos.  Em relação aos fatores internos os responsáveis têm sido o arrefecimento da atividade econômica doméstica e uma agenda governamental menos atrativa ao investimento privado, o que já vem se refletindo na queda da taxa de investimento como proporção do PIB e da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Já no tocante aos fatores externos, os países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, tem passado a ser um dos maiores destinos dos fluxos globais de investimos após a aprovação da Lei de Redução de Inflação (IRA) no ano passado, reduzindo a fatia desses recursos disponíveis para serem investidas em países em desenvolvimento como o Brasil. Ainda assim, no curto prazo, o fluxo de IDP deverá continuar financiando os déficits em transações correntes com alguma folga. O montante atual é mais do que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 1,62% do PIB dos últimos doze meses. No acumulado de doze meses, o IDP totalizou US$ 57,5 bilhões (2,74% do PIB) no mês de outubro, ante US$ 60,0 bilhões (2,89% do PIB) em setembro e US$ 74,5 bilhões (3,99% do PIB) em outubro de 2022. Já no acumulado do ano, o IDP soma US$ 44,9 bilhões.

Os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram ingressos líquidos de US$ 2,1 bilhões em outubro de 2023, compostos por um fluxo positivo de US$ 500 milhões em fundos de investimento e em ações brasileiras, resultante de uma entrada líquida de US$ 1,16 bilhão em ações brasileiras e de uma saída líquida de US$ 660 milhões em fundos. A recuperação do apetite estrangeiro por ações brasileiras se deu após a divulgação de números abaixo do esperado para a inflação norte-americana, o que renovou o apetite por risco dos investidores. O montante restante de US$ 1,6 bilhão foi relativo a investimentos em ativos de renda fixa no país. Finalmente, no tocante a participação no capital o saldo de entrada foi positivo em US$ 4,7 bilhões, enquanto as operações intercompanhia registraram saídas líquidas de US$ 1,4 bilhão.

Por fim, a força mostrada pela balança comercial até aqui, o que vem ajudando as transações correntes a registrarem déficits menores do que o esperado, não deve se repetir no ano que vem. Com a expectativa de retirada das restrições as suas próprias exportações por parte da Argentina, as exportações brasileiras devem passar a enfrentar uma maior competição no mercado internacional no ano que vem pelo fato da pauta exportadora ser similar. Um outro fator que pode pesar sobre as exportações brasileiras no ano que vem é a questão climática. As chuvas na região sul do país já vêm contribuindo para gerar um choque de oferta negativo sobre alguns alimentos, principalmente aqueles in natura, com os seus efeitos já alcançando os preços. Isso é apenas uma mostra da inflação de alimentos que o Brasil pode experimentar em 2024 caso a expectativa de um El Niño mais forte se concretize.

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