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Publicado em 24 de Outubro às 14:24:55

Setor Externo (set/22): Transações correntes apresentam déficit de US$ 5,7 bilhões

Durante o mês de setembro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 5,7 bilhões, bem acima das projeções do mercado, que apontavam para um déficit de US$ 3 bilhões (Bloomberg). Desse modo, o déficit em doze meses até setembro de 2022 é de US$ 46,2 bilhões, isto é, 2,6% do PIB, o que representa uma piora em comparação com o déficit de 1,5% do PIB em setembro do ano anterior. De acordo com dados do Banco Central, a piora em relação ao mesmo mês do ano anterior se deve à redução de US$ 196 milhões no saldo da balança comercial e na elevação de US$ 536 milhões e US$ 3,1 bilhões nos déficits em serviços e em renda primária, respectivamente.

No que se refere à balança comercial, a mesma apresentou um superávit de US$ 2,4 bilhões no mês, uma leve piora frente aos US$ 2,6 bilhões de setembro de 2021. Acontece que o crescimento de 24,5% das exportações foi anulado pelo crescimento de 28,2% das importações. Desse modo, as exportações somaram US$ 30,6 bilhões e as importações, US$ 28,3 bilhões. Em 2022 até setembro, o saldo da balança comercial é de US$ 34,8 bilhões, uma melhora de 0,83% na comparação ano a ano, ou US$ 286 milhões a mais.

Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 1,9 bilhão, 39,6% pior que em setembro de 2021. Deve-se destacar que as despesas com viagens internacionais se elevaram em 106,9%, indo a US$ 491 milhões e as despesas com transportes se elevaram em 101,1%, somando US$ 748 milhões, sendo os principais drivers para a ampliação do déficit.

De modo semelhante, o déficit na conta de renda primária se elevou em 92,7% em relação ao mesmo período de 2021, somando US$ 6,5 bilhões. Deve-se destacar o crescimento das despesas líquidas com lucros e dividendos, que mais que dobraram em relação a um ano antes, indo de US$ 2,5 bilhões para US$ 5,3 bilhões. Além disso, as despesas líquidas com juros se elevaram em US$ 326 milhões ao somarem US$ 1,2 bilhão em setembro.

Por fim, em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou US$ 9,2 bilhões em setembro, uma robusta melhora frente aos US$ 4,6 bilhões em setembro de 2021 e acima das projeções do mercado de US$ 5 bilhões (Bloomberg). Somando US$ 5,7 bilhões, as operações intercompanhia capitanearam o IDP ao se elevaram US$ 7 bilhões em um ano. Do outro lado, a participação no capital contribuiu com US$ 3,4 bilhões, especialmente devido ao crescimento de 28% nos reinvestimentos de lucros no Brasil. Desse modo, no acumulado do ano até setembro, o IDP totalizou US$ 70,6 bilhões, um crescimento de 63,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em 12 meses, o IDP somou US$ 73,8 bilhões, isto é, 4,1% do PIB. Deve-se destacar, portanto, que o investimento no país vem apresentando uma recuperação robusta, se aproximando do patamar pré-Covid.

Além disso, ainda no que se refere à conta financeira, os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram US$ 2,6 bilhões em saídas líquidas no mês. O principal driver foi o fluxo de saída de US$ 3,9 bilhões em ações e fundo de investimento, levemente contrabalanceado pelo fluxo de entrada de US$ 1,2 bilhão em títulos da dívida. Diante disso, no acumulado em 12 meses os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram US$ 2,5 bilhões em fluxos de saída.

Em nossa avaliação, a combinação de um cenário externo mais adverso e as recentes revisões positivas para o crescimento adicionam um viés negativo para o saldo das transações correntes nos próximos meses. Acreditamos que a desaceleração econômica da China, Estados Unidos e Europa serão responsáveis por um arrefecimento do volume de exportações, refletindo os impactos da política monetária contracionista, política de tolerância zero-Covid e os impactos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia sobre a inflação global. Por outro lado, a surpresa positiva em termos de atividade econômica será responsável por elevar a demanda interna, impondo viés altista para as importações. Ademais, a perspectiva de maiores remessas de lucros e dividendos ao exterior devem continuar pressionando a conta de renda primária. Entretanto, deve-se destacar que o fluxo de Investimento Direto no País (IDP), em franca trajetória de crescimento, será responsável por compensar essa dinâmica em transações correntes.

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