No mês de setembro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 6,5 bilhões, ante resultado positivo de US$ 268 milhões no mesmo mês de 2023, sendo esse o pior resultado para o mês desde 2022. O resultado veio pior do que o consenso de mercado e a nossa previsão (-US$ 5,0 bilhões). No acumulado dos último doze meses, o resultado foi de -US$ 45,8 bilhões (2,07% do PIB), registrando forte piora em relação aos -US$ 39,0 bilhões (1,76% do PIB) dos doze meses encerrados em agosto. O número de setembro reforçou a deterioração na dinâmica das transações correntes, que superou o Investimento Direto no País (IDP) pelo segundo mês consecutivo.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 4,8 bilhões, ante US$ 8,5 bilhões em setembro de 2023. As exportações de bens totalizaram US$ 29,0 bilhões, alta de 0,3% a/a, ante queda de 7,8% a/a no mês imediatamente anterior. As importações, por sua vez, atingiram US$ 24,2 bilhões, com uma expansão de 18,4% a/a em setembro após avanço de 11,9% a/a em agosto, puxadas pela demanda interna aquecida. Com este resultado, no acumulado dos últimos doze meses, o superávit foi de US$ 78,1 bilhões (US$ 344,5 bilhões em exportações e US$ 266,5 bilhões em importações). Nos próximos meses, a tendência de desaceleração das principais economias globais deve impor uma pressão baixista sobre os preços das commodities o que, aliada com uma demanda doméstica aquecida, deve pesar negativamente sobre a balança comercial.
A conta de serviços registrou déficit de US$ 5,0 bilhões em setembro, uma alta de 44,4% a/a (déficit de US$ 3,5 bilhões no mesmo mês de 2023). As despesas líquidas com viagens internacionais avançaram 16,2% a/a e somaram US$ 783 milhões a despeito do movimento de desvalorização do real frente ao dólar. Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,5 bilhão, alta de 49,5% a/a.
Já o déficit em renda primária foi de US$ 6,5 bilhões em setembro, alta de 28,8% a/a comparativamente ao déficit de US$ 5,1 bilhões do mesmo mês de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 4,5 bilhões, ante US$ 3,0 bilhões em setembro de 2023, um avanço de 52,4% a/a. Já as despesas líquidas com juros que somaram US$ 2,1 bilhões no período, uma queda de 3,6% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior. Junto com a conta de serviços, a balança de renda primária se apresentou como uma das principais responsáveis pelo aumento do déficit em transações correntes.
Em setembro, os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram ingressos líquidos de US$ 3,1 bilhões. Esse montante foi composto por um fluxo positivo de US$ 4,3 bilhões em ativos de renda fixa e US$ 410 milhões de investimentos em fundos, ao passo que o investimento em ações brasileiras foi negativo em US$ 1,7 bilhão. A despeito desse resultado líquido positivo, pode haver deterioração nos próximos meses caso o movimento de depreciação do real frente ao dólar se mostre mais duradouro, principalmente sob a perspectiva de uma vitória republicana nas eleições presidenciais dos Estados Unidos no mês de novembro. Esse cenário externo, junto com a percepção de piora fiscal no Brasil contribuiu para reverter o recente otimismo dos investidores estrangeiros em relação ao país apresentar uma performance relativa melhor do que a dos seus pares emergentes. Sob esse cenário, os investidores vêm dando preferência a adoção de uma postura neutra em relação ao Brasil, principalmente no que diz respeito a taxa de câmbio.
Em relação a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 5,2 bilhões em setembro, marginalmente acima do que foi registrado no mesmo mês de 2023 (US$ 5,1 bilhões), vindo um pouco abaixo da nossa projeção de US$ 5,9 bilhões e abaixo também da mediana do mercado (US$ 5,8 bilhões, Broadcast+). O resultado de agosto levou o IDP acumulado em doze meses para US$ 70,7 bilhões (3,20% do PIB). Novamente, o destaque do IDP se deu pelos ingressos líquidos em participação no capital (US$ 3,7 bilhões), sendo US$ 2,2 bilhões em lucros reinvestidos e US$ 1,5 bilhões em participação no capital propriamente dito. Por fim, apesar de o IDP não ter sido capaz de financiar o déficit em transações correntes pelo segundo mês consecutivo, no médio prazo o cenário ainda é benigno, embora menos promissor do que nos últimos anos e do que se esperava para 2024.