Em abril, o volume de vendas no setor varejista avançou 0,1% m/m, vindo pior que a mediana de 0,2% m/m (Broadcast+). Na comparação interanual, o volume de vendas do comércio varejista apresentou expansão de 0,5% a/a, também pior que o consenso de mercado que aguardava expansão de 0,8% a/a. Vale ressaltar que as rupturas estruturais nas séries históricas decorrentes de mudanças metodológicas nas pesquisas e por conta da pandemia, impõem dificuldades tanto na previsão do indicador quanto na interpretação dos dados ajustados sazonalmente.
Desse modo, o setor varejista se encontra 4,3% acima do patamar pré-Covid e 1,9% abaixo do ponto mais elevado da série histórica (out/20), com destaque para os segmentos de Supermercados e Combustíveis que se encontram 7,1% e 8,3% acima do nível pré-pandemia, respectivamente. Com o resultado de abril, o carrego estatístico do setor varejista para o segundo trimestre de 2023 é de 0,6% e para 2023, de 2,3%.
Ainda no que se refere ao varejo restrito, embora o setor tenha apresentado leve expansão na margem, cinco das oito atividades analisadas apresentaram taxas negativas na passagem de março para abril. Os principais destaques negativos vão para Tecidos, vestuário e calçados (-3,7%), em linha com o cenário macroeconômico mais adverso que vem penalizando o consumo discricionário das famílias; Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,4%), impactados pelo fechamento de lojas de grandes redes no período, diante da mudança no perfil de consumo no pós pandemia que tem beneficiado serviços em detrimento a bens; Combustíveis e lubrificantes (-1,9%); Móveis e eletrodomésticos (-0,5%), refletindo o encarecimento do custo de acesso ao crédito; e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-7,2%), refletindo os efeitos da variação cambial sobre a demanda por itens deste segmento. Na ponta positiva, apenas Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,3%); Livros, jornais, revistas e papelaria (1,0%); e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,2%), beneficiado pelas vendas de Páscoa concentradas no mês de abril.
No que diz respeito à comparação interanual, o varejo apresentou alta de 0,5% a/a, com cinco das oito categorias pesquisadas recuando, entre elas: Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-18,0% a/a), com sua décima segunda contração consecutiva; Livros, jornais, revistas e papelaria (-5,7% a/a); Tecidos, vestuário e calçados (-11,0% a/a); Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,8%) e Móveis e eletrodomésticos (-2,4%). Já os setores que contribuíram positivamente frente ao mesmo mês do ano anterior foram Hiper, supermercados, produtos alimentícios e fumo (3,1% a/a); Combustíveis e lubrificantes (8,7% a/a), apesar de ser a terceira desaceleração seguida e Artigos farmacêuticos, med., ortop. e de perfumaria (3,0% a/a). Vale ressaltar que as desonerações tributárias que ocorreram em 2022 beneficiaram a expansão da atividade ligada aos combustíveis no segundo semestre do último ano, portanto, o retorno, ainda que parcial, da tributação do PIS/Cofins sobre os combustíveis deve continuar promovendo a desaceleração desta métrica nas próximas leituras.
Em relação às vendas no varejo ampliado (que inclui Veículos, Motos, Partes e Peças; Material de Construção; e Atacado de Produtos Alimentícios), houve recuo de 1,6% m/m, vindo melhor que o consenso de mercado de queda de 2,0% m/m (Broadcast+). Na comparação interanual, houve avanço de 3,1% a/a, também melhor que a projeção mediana de 1,8% a/a. O resultado no mês refletiu as quedas de 5,9% m/m e 0,8%m/m nas vendas de Veículos e motos, partes e peças junto da leve aceleração e nas vendas de Material de construção, respectivamente. No ano, enquanto Veículos e motos, partes e peças (-1,9%) e Material de Construção (-7,6%) caíram entre abril de 2022 e abril de 2023, as vendas no Atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceram 14,5% em relação a abril de 2022.
Na nossa avaliação, embora o resultado de abril tenha apontado para um avanço em relação ao patamar alcançado em março, a análise qualitativa sinaliza perda de fôlego tanto das atividades mais ligadas ao consumo discricionário quanto aquelas mais sensíveis ao ciclo de política monetária, corroborando a nossa visão de que a trajetória nos próximos meses deve ser marcada por uma desaceleração do setor. Esta avaliação é reforçada pelos números divulgados do PIB do primeiro trimestre, que apontam para uma absorção interna mais fraca devido ao cenário macroeconômico mais adverso. Acreditamos que a deterioração do mercado de crédito nos últimos meses, sobretudo nos indicadores de crédito livre para as famílias e do comprometimento da renda familiar com o serviço da dívida atuarão como importantes vetores negativos para o setor varejista em 2023. Em contrapartida, a expansão das políticas de transferência de renda e o programa de renegociação de dívidas, o Desenrola, podem contribuir para suavizar o processo de arrefecimento do comércio. Dessa forma, avaliamos que o processo de contração do consumo discricionário observado nos últimos meses deve permanecer ao longo de 2023, ao contrário de consumo de bens essenciais (alimentos), que deve ser beneficiado pela agenda econômica do novo governo, promovendo a ancoragem do setor ao longo do ano devido ao seu peso relevante na pesquisa mensal do comércio.







