Em dezembro, o volume de vendas no setor varejista recuou 2,6% m/m, vindo significativamente pior que o consenso de mercado que aguardava por uma contração de 0,8% m/m e próximo do piso das projeções de -2,9% m/m (Broadcast+). Além disso, o IBGE revisou a leitura de novembro, que passou de contração de -0,6% m/m para -0,9% m/m, puxada principalmente pelas revisões nas vendas de Tecidos, Vestuário e Calçados; e Livros, Jornais, Revistas e Papelaria. Na comparação interanual, o volume de vendas do comércio varejista avançou 0,4% a/a.
Desse modo, o setor varejista se encontra 1,1% abaixo do patamar pré-Covid e 6,75% abaixo do pico alcançado em out/20. Com este resultado, o setor apresentou avanço de 1,0% no ano, sendo este a menor alta registrada pela série iniciada em 2017, incluindo o período da pandemia em 2020. Diante disso, o carrego estatístico para o primeiro trimestre de 2023 é de 0,1% e para 2023, de 0,0%.
Ainda no que se refere ao varejo restrito, sete das oito atividades analisadas apresentaram taxas negativas na passagem de novembro para dezembro. A queda marginal de 2,6% m/m foi a segunda consecutiva e a de maior magnitude no ano, resultado muito impactado pelos setores de Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,9% m/m ante –0,9% m/m em novembro); e Tecidos, vestuário e calçados (-6,1% m/m ante -2,1% m/m em novembro), sendo que o último já registra a quarta queda consecutiva. Vale destacar que Combustíveis e lubrificantes (-1,6% m/m ante -5,4% m/m em novembro) aprofundou o resultado negativo do mês anterior; bem como Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8% m/m ante -0,1% m/m em novembro). Já os grupos de Móveis e eletrodomésticos (-1,6% m/m ante 1,9% m/m em novembro) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,4% m/m ante 1,5% m/m em novembro) reverteram os resultados positivos entrando em patamar negativo. Por fim, apenas dois grupos apresentaram melhora no mês, Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-0,6% m/m ante -3,4% m/m em novembro) e Livros, jornais, revistas e papelaria (0,1% m/m ante -3,5% m/m), com este último conseguindo ser a única atividade com variação positiva em dezembro.
No que diz respeito ao acumulado de 2022, na ponta positiva, Combustíveis e lubrificantes (16,6%) foi a maior influência. As desonerações tributárias controlaram os preços dos combustíveis no último ano, o que ajuda a explicar o resultado positivo dessa atividade no acumulado em doze meses, mas foi possível ver uma desaceleração do grupo nos meses finais devido a novas altas desses produtos. Por outro lado, Móveis e eletrodomésticos (-6,7%) teve o pior desempenho no ano, em linha com nosso cenário de perda de dinamismo dos setores como reflexo da política monetária contracionista e da normalização do perfil de consumo de bens para serviços.
Em relação às vendas no varejo ampliado (que inclui Veículos, Motos, Partes e Peças e Material de Construção), houve avanço de 0,4% m/m e recuo no interanual de -0,6% a/a. Foi a primeira queda anual desde 2020. Tanto as vendas de Veículos, Motos, Partes e Peças (2,4% m/m) quanto de Material de Construção (1,3% m/m) apresentaram resultados positivos no mês, o segundo consecutivo em ambos os casos. No entanto, essa melhora no último bimestre não foi suficiente para compensar a trajetória negativa ao longo de 2022, sendo que o acumulado do ano ficou em -0,6% para o varejo ampliado. Ambos os grupos apresentaram recuo no ano, mas Materiais de construção (-8,7%) foi bem pior em relação aos Veículos, Motos, Partes e Peças (-1,7%). Este resultado está em linha com uma trajetória de normalização do segmento, haja vista a forte expansão que o setor apresentou após o início da pandemia, beneficiado por uma taxa de juros historicamente baixa e pelos impulsos fiscais.
Portanto, o resultado de dezembro mostra que cinco das oito atividades que compõem a pesquisa estão desacelerando em relação ao resultado anterior. As duas últimas leituras negativas do índice cheio estão em linha com nosso cenário de gradativa desaceleração do setor diante de fatores adversos da economia. Vale destacar que os últimos resultados negativos têm como destaque a significativa contração dos grupos ligados ao consumo discricionário, reforçando que o cenário macroeconômico desafiador tem limitado o desempenho do comércio varejista. Acreditamos que o ano de 2023 será marcado pela manutenção deste pano de fundo, com a manutenção da política monetária em terreno significativamente contracionista, inflação elevada e aceleração da inadimplência. Dessa forma, avaliamos que o processo de desaceleração do consumo discricionário será intensificado ao longo do ano, ao contrário do consumo de bens necessários (alimentos), que deve ser beneficiado pela agenda econômica do novo governo, limitando a contração do setor nos próximos meses. Assim, com a junção desses vetores opostos, projetamos um desempenho próximo à estabilidade para o setor no ano de 2023.