Em janeiro, o volume de vendas no setor varejista avançou 3,8% m/m, vindo melhor que o consenso de mercado que aguardava por uma expansão de 3,4% m/m e próximo do teto das projeções de 3,9% m/m (Broadcast+). Vale destacar que este resultado foi o melhor para o mês de janeiro desde o início da série histórica, em 2000. Além disso, o IBGE revisou a leitura de dezembro, que passou de contração de -2,6% m/m para -2,8% m/m, puxada principalmente pelas revisões nas vendas de Tecidos, Vestuário e Calçados (de -6,1% m/m para -6,5% m/m); Combustíveis e Lubrificantes (de -1,6% m/m para 1,9% m/m); e Hiper, Supermercados (de -0,8% m/m para -0,9% m/m). Na comparação interanual, o volume de vendas do comércio varejista avançou 2,6% a/a, superando a mediana das projeções de alta de 1,5% a/a.
Vale frisar que esta é a primeira divulgação da nova série da pesquisa mensal do comércio, que passou por atualizações metodológicas (amostragem de empresas, ajustes nos pesos dos produtos e das atividades).
Desse modo, o setor varejista se encontra 3,3% acima do patamar pré-Covid, com destaque para os segmentos de Supermercados e Combustíveis que se encontram 5,3% e 11,5% acima do nível pré-pandemia, respectivamente. Com o resultado de janeiro, o carrego estatístico do setor varejista para o primeiro trimestre de 2023 é de 1,6% e para 2023, de 1,4%.
Ainda no que se refere ao varejo restrito, sete das oito atividades analisadas apresentaram taxas positivas na passagem de dezembro para janeiro. O avanço marginal de 3,8% m/m interrompeu a sequência de duas quedas consecutivas que acumularam uma contração de 3,5% do volume de vendas no varejo. Os destaques positivos vão para o setor de Tecidos, Vestuário e Calçados (27,9% m/m), após quatro meses de quedas se beneficiando das promoções de verão, que refletem as vendas fracas das varejistas durante a Black Friday e o Natal; Hipermercados, Supermercados, Alimentos, Bebidas e Fumo (2,3% m/m); e Equipamentos e Materiais para Escritório, Informática e Comunicação (7,4% m/m). Na ponta negativa, apenas o segmento de Artigos Farmacêuticos, Médicos, Ortopédicos e de Perfumaria registrou contração de -1,2% m/m, se mantendo em trajetória de contração, sobretudo nas vendas de cosméticos e perfumaria.
No que diz respeito à comparação interanual, as altas também foram disseminadas em seis das oito categorias pesquisadas, sendo Combustíveis e Lubrificantes o principal destaque com a alta de 26,7% a/a, vale ressaltar que as desonerações tributárias que ocorreram em 2022 beneficiaram a expansão dessa atividade nos últimos meses, portanto, o retorno, ainda que parcial, da tributação do PIS/Cofins sobre os combustíveis deve provocar uma desaceleração desta métrica nas próximas leituras. Na ponta negativa, o destaque vai para as vendas de Artigos Farmacêuticos, Médicos, Ortopédicos e de Perfumaria que apresentou contração de 7,6% a/a.
Em relação às vendas no varejo ampliado (que inclui Veículos, Motos, Partes e Peças; Material de Construção; e Atacado de Produtos Alimentícios), houve avanço de 0,2% m/m, vindo pior que o consenso de mercado de expansão de 0,6% m/m (Broadcast+). Na comparação interanual, houve expansão de 0,5% a/a, revertendo, parcialmente, uma sequência de dois resultados negativos consecutivos. O resultado no mês refletiu a alta de 2,9% m/m nas vendas de Material de Construção ter sido parcialmente compensadas pela queda de 0,2% m/m nas vendas de Veículos, Motos, Partes e Peças. No acumulado em 12 meses, o varejo ampliado acumula contração de 0,5%, com destaque para a queda de 8,1% nas vendas de material de construção no período, em linha com uma trajetória de normalização do segmento, haja vista a forte expansão que o setor apresentou após o início da pandemia, beneficiado por uma taxa de juros historicamente baixa e impulsos fiscais. Vale ressaltar que o volume de vendas no varejo ampliado se encontra 1,3% abaixo do nível pré-pandemia (fev/20).
Na nossa avaliação, embora o resultado de janeiro tenha apontado para uma significativa expansão do comércio varejista, acreditamos que trajetória dos próximos meses deve ser marcada por uma tendência de estabilidade do setor. Na comparação em trimestres móveis, o volume de vendas no varejo apresentou alta de apenas 0,1% frente ao trimestre móvel encerrado em dezembro, sendo possível observar essa tendência de estabilidade que vem se desenhando nos últimos meses. Por um lado, vemos um vetor negativo advindo do cenário macroeconômico mais adverso, diante da perspectiva de desaceleração da atividade econômica e da piora tanto do perfil de crédito dos consumidores quando da inadimplência. Em contrapartida, a expansão das políticas de transferência de renda e um mercado de trabalho ainda aquecido devem limitar o impacto dos vetores negativos sobre o setor. Dessa forma, avaliamos que o processo de contração do consumo discricionário observado nos últimos meses deve permanecer ao longo de 2023, ao contrário de consumo de bens essenciais (alimentos), que deve ser beneficiado pela agenda econômica do novo governo, limitando a contração do setor varejista no ano.