Pelo terceiro mês consecutivo houve queda no volume de vendas no setor varejista. O comércio varejista vem sendo impactado pelo cenário macroeconômico adverso para o setor, diante da política monetária contracionista, encarecimento do crédito, além da mudança do padrão de consumo de bens para serviços. Em julho, as vendas recuaram 0,8% m/m frente junho, resultado pior que a projeção mediana do mercado (0,2% m/m, Broadcast). Na comparação com o mesmo mês do ano anterior o volume de vendas apresentou recuo de -5,2% a/a.
Com o resultado de julho, o setor varejista, que vem apresentando grande volatilidade nas últimas leituras, praticamente retorna ao patamar pré pandemia (0,5% acima). O carrego para o 3º trimestre é -1,9% e de 0,4% para o ano de 2022. No ano, o varejo apresenta crescimento de 0,4% e, em doze meses, uma queda de 1,8%.
No mês, o resultado negativo foi generalizado entre as atividades econômicas (queda em nove dos dez grupos pesquisados), com crescimento somente no grupo de Combustíveis & Lubrificantes (12,2%), diante da queda no preço dos combustíveis (deflação de 14,15% no mês). Entre as variações negativas no mês, vale destacar a queda em Tecidos & vestuário (-17,1%), com a redução de receitas de cadeias comerciais, principalmente na parte de calçados. Além disso, importante salientar o recuo em Móveis & Eletrodomésticos (-3,0%), artigos farmacêuticos (-1,4%) e Hiper & Supermercados (-0,6%).
Nas vendas no varejo ampliado (inclui as atividades de Veículos, motos, partes e peças e de Material de construção) houve queda de 0,7%, com recuo de -2,7% na atividade de Veículos e de -2,0% em Material de Construção. Os dados do setor automotivo corroboram nossa previsão de enfraquecimento das vendas, no contexto de redução das concessões de crédito para aquisição de veículos para as pessoas físicas. Do ponto de vista da recomposição de estoques para o setor industrial, esse é um dado favorável, reduzindo as pressões inflacionárias no setor.
Apesar do setor varejista se encontrar no nível pré pandemia, existem grandes diferenças setoriais entre as atividades. Há atividades muito acima, caso de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (20,7%), Combustíveis e lubrificantes (11,3%), Material de construção (2,3%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,2%). Já outras estão em patamar muito abaixo, caso de Livros, jornais, revistas e papelaria (-37,2%), com uma trajetória de perda muito por conta da própria lógica contemporânea do mercado, além de Tecidos, vestuário e calçados (-25,6%), Móveis e eletrodomésticos (-18,4%) e Veículos e motos, partes e peças (-12,4%). Mesmo que algumas ainda estejam em patamar bem acima do nível pré, a desaceleração é generalizada entre as atividades.
Apesar da queda mais intensa que a esperada no setor varejista, a tendência vem em linha com nossa expectativa de desaceleração do setor, diante do cenário de política monetária mais restritiva, impactando as concessões de crédito para as pessoas físicas, principalmente via cartão de crédito. Outro padrão que se consolida a cada mês é a mudança do padrão de consumo das famílias. O setor de bens vem perdendo dinamismo, enquanto o consumo das famílias (serviços) cresce de forma contínua.