A variação do índice de preços do consumidor (CPI) foi de 0,3% em abril, ante crescimento de 1,2% em março, ficando 0,1 p.p. acima do consenso de mercado. Por sua vez, a taxa de inflação nos últimos 12 meses acumulou alta de 8,3%, desacelerando em relação ao mês anterior, entretanto, segue próxima da maior variação anual em quarenta anos. O resultado também veio pior que o esperado pelo mercado cuja expectativa era de uma inflação acumulada de 8,1% em abril. Esta leitura aponta para pressões inflacionárias bastante disseminadas em toda a economia americana, registrando o sétimo mês consecutivo em que a variação de preços nos EUA se encontra acima de 6,0%, substancialmente acima da meta de longo prazo de 2,0%.
O avanço no mês foi concentrado nos índices de Habitação, Alimentação, Passagens Aéreas e Novos Veículos. Embora o relatório aponte que provavelmente a inflação americana tenha atingido o pico, as aberturas apontam para a disseminação das altas de preços na economia. Os efeitos da guerra podem ser vistos na alta da alimentação no domicílio, diante do encarecimento tanto das commodities agrícolas quanto dos insumos utilizados na plantação. Em contrapartida, os preços da energia apresentaram arrefecimento no mês, diante do alívio nos preços da gasolina, que recuaram 6,1%.
O índice de energia apresentou recuo de 2,7%, desacelerando significativamente em relação ao mês anterior (11,0%) em que foi registrado aumentos recordes no preço dos combustíveis ao consumidor final. O destaque vai para a contração de 6,1% no preço da gasolina no mês, diante do arrefecimento do preço do barril de petróleo após um período de forte alta decorrente do início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Ademais, o preço do gás apresentou aceleração em relação a março ao passar de 0,6% para 3,1% em abril. Este resultado reflete o aumento da exportação desta commodity para o continente europeu, fazendo com que a inflação de energia do velho continente seja importada para os EUA. Em 12 meses, o índice de energia acumula alta de 30,3%, ante 32,0% no mês anterior. O principal destaque vai para a alta de 48,0% da gasolina no mesmo período.
Por sua vez, o grupo de Alimentação apresentou desaceleração de 0,1 p.p. em relação ao número do mês anterior ao ficar em 0,9%. Este resultado refletiu o avanço de 1,0% na Alimentação no Domicílio, que desacelerou 0,5 p.p. em relação à leitura do mês anterior. As altas foram bastante disseminadas neste grupo, visto que cinco dois seis subgrupos pesquisados apresentaram elevação no mês. O destaque vai para o Índice de produtos lácteos e afins que avançaram 2,5% no mês, a maior variação mensal desde julho de 2007. Além disso, o índice de bebidas não alcoólicas apresentou alta de 2,0% no mesmo período. Já a Alimentação Fora do Domicílio, avançou 0,6%, acelerando 0,3 p.p. em relação à leitura anterior. Em 12 meses, o grupo de Alimentação acumulou alta de 9,4%, puxada pela Alimentação no Domicílio (10,8%), que tende a continuar pressionada diante dos efeitos da guerra sobre os preços das commodities agrícolas e de fertilizantes.
No que diz respeito ao núcleo (excluí alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,6%, surpreendendo negativamente o mercado que tinha como consenso alta de 0,4%. A principal contribuição foi o grupo de Habitação (shelter) que ficou estável em relação ao mês anterior ao registrar alta de 0,5%. A principal contribuição veio do índice aluguel que avançou 0,6% no período. Por sua vez, o grupo de hospedagem fora de casa avançou 1,7% em abril após variar 3,3% em março. Já os índices de Passagens Aéreas, que registrou o maior aumento em toda a série histórica, e Novos Veículos avançaram 18,6% e 1,1% no mês, respectivamente. No interanual, registrou-se alta de 6,2% do núcleo da inflação, com destaque para a alta de 5,1% do índice de Habitação e de 22,7% no preço dos Veículos Usados.
Nossa avaliação é que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia deve seguir pressionando a inflação americana nos próximos meses, que já se encontrava bastante elevada antes do início do conflito, devido aos impactos sobre os preços dos combustíveis e alimentos. A combinação entre um elevado nível de preços e uma demanda doméstica bastante aquecida pelos pacotes de estímulo governamentais, tende a ser um componente de pressão adicional ao nível de preços americano que vem deteriorando o poder de compra dos consumidores. Vale destacar que, mesmo diante de um mercado de trabalho bastante apertado, com uma ampla oferta de vagas de emprego, a recomposição salarial em 12 meses segue abaixo da inflação registrada para o mesmo período. Esta dinâmica faz com que a renda das famílias seja depreciada, o que afeta negativamente sua decisão de consumo. Dessa forma, acreditamos que este resultado reforça a necessidade do Banco Central americano ajustar rapidamente a condução da política monetária, sobretudo no que diz respeito à levar a taxa de juros americana para o nível neutro (2,5%) antes do final de 2022 e encerrar o ano em território contracionista. Nesse sentido, mantemos nossa avaliação que o último aumento de 0,5 p.p. na Fed Funds rate será repetido nas próximas três reuniões do comitê, seguido por mais dois aumentos de 0,25 p.p., de modo que, a taxa de juros deva encerrar o ano em 3,0%.