Em abril, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) avançou 0,4% na comparação mensal, vindo em linha com as expectativas do mercado. Desse modo, a inflação acumulada em doze meses ficou em 4,9%, levemente abaixo do esperado (5,0%, Bloomberg), desacelerando 0,1 p.p. frente aos 5,0% do mês imediatamente anterior. No que diz respeito ao núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia), a variação mensal foi de 0,4%, também vindo de acordo com o esperado. A métrica de doze meses, por sua vez, veio em linha com as estimativas dos analistas e agora se encontra em 5,5%, recuando 0,1 p.p. ante os 5,6% registrados em março.
Apesar de continuarem a desacelerar na métrica mensal, os aluguéis (“shelter”) foram novamente o item que mais contribuiu para a alta da inflação cheia em abril, avançando 0,4% m/m. Na comparação em doze meses, essa medida de inflação segue significativamente elevada (8,1%) e sem dar sinais claros de arrefecimento, tendo se reduzido apenas 0,1 p.p em relação aos 8,2% registrados em março. Outros itens a apresentarem impactos relevantes na inflação de abril foram: carros e caminhões usados (4,4%) e gasolina (3,0%). Dentre as quedas do mês se destacaram os serviços de energia (-1,7%), a alimentação no domicílio (-0,2%), os veículos novos (-0,2%), os serviços de transporte (-0,2%) e os serviços de cuidados médicos (-0,1%).
O grupo de energia reverteu a deflação, saindo de -3,5% em março para 0,6% em abril, com as commodities energéticas (2,7%, ante -4,6%) sendo a principal responsável por essa mudança em vista da alta nas cotações do petróleo nas primeiras semanas de abril decorrentes do corte surpresa na produção anunciado pela OPEP. Na comparação ano a ano, os serviços de energia e as commodities energéticas ainda se encontram em situações completamente diferentes, registrando inflação de 5,9% e deflação de 12,6%, respectivamente.
O grupo de alimentação continuou a apresentar estabilidade em abril. O resultado foi puxado pelo item de alimentação no domicílio, que novamente registrou deflação (-0,2%, ante -0,3%), dado que o item de alimentação fora do domicílio, apesar de ter diminuído o ritmo de alta, avançou 0,4%. Como a parte da alimentação fora do domicílio é enquadrada em serviços, a resiliência da inflação desse item é bem compreensível dada a elevada inércia de serviços. No acumulado dos últimos doze meses, observamos uma alta de 8,6% na alimentação fora do domicílio, 7,1% na alimentação no domicílio e 7,7% na alimentação em geral.
Os bens duráveis continuaram em trajetória de alta, saindo 0,4% em março para 0,8% em abril. Por sua vez, os bens não duráveis reverteram a deflação 0,6%, dando lugar a uma inflação de 0,5% no mesmo período. O tão desejado arrefecimento de preços no setor de bens foi interrompido em abril em todos os segmentos. Apesar dessas altas de preços, a melhora no funcionamento das cadeias de suprimento globais, como evidenciado no último dado do Global Supply Chain Pressure Index (GSCPI) do Fed de Nova Iorque, deve fornecer um vento favorável para os bens duráveis retomarem a desinflação nos próximos meses. No acumulado de doze meses, o segmento de duráveis registra deflação de 0,2%, enquanto os não duráveis apresentam inflação de 3,2%.
Na passagem de março para abril a inflação de serviços desacelerou 0,1 p.p., saindo de 0,3% para 0,2%, o que fez com que a inflação em doze meses saísse de 7,2% para 6,8%. Até na métrica de inflação que exclui os serviços de energia (que apresentaram deflação) a tendência foi de queda, saindo de 0,45% para 0,36% na comparação mensal e de 7,1% para 6,8% na comparação anual no mesmo período. A métrica de serviços ex-habitação (Supercore) passou a registrar uma desinflação mais forte, com o número mensal se reduzindo de 0,4% para 0,1% e o acumulado de doze saindo de 5,8% para 5,1%. Esse sinal mais forte de arrefecimento em métricas de inflação diretamente afetadas pela ação da política monetária mostra o início de um segundo estágio do processo de desinflação nos Estados Unidos, dado que até agora a desaceleração na taxa de crescimento dos preços estava mais restrita às commodities e ao setor de bens. No entanto, o vigor do setor de serviços, que se repetiu no último payroll de abril, tende a manter a inflação pressionada, dificultando o processo de convergência da inflação cheia para a meta de 2,0% ao ano dado que os componentes mais inerciais, mais ligados ao setor de serviços e intensivos em mão de obra, devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo.
Conforme o esperado, a surpresa baixista ocorrida no CPI cheio de março não se repetiu em abril. O corte surpresa na produção de petróleo empreendido pela OPEP impediu um novo recuo nos preços de energia. Além disso, o aumento nos preços dos veículos usados contribuiu para reverter a desinflação no setor de bens, a despeito de uma contínua melhora nas cadeias de suprimentos globais. Esses dois fatores impediram que a inflação de abril arrefecesse mais, embora sinais promissores tenham aparecido na métrica de serviços ex-habitação (Supercore). Tomados em conjunto, esses fatores dão respaldo para o Fed pausar o ciclo de alta de juros, mas, ao mesmo tempo desaconselham fortemente cortes na fed funds rate no segundo semestre desse ano conforme vem sendo precificado pelo mercado financeiro. Relatório recente do banco central norte-americano (Fed) mostrou que os bancos esperam aperto nas condições de crédito no restante do ano em decorrência do aumento da incerteza e da piora no ambiente econômico. Os bancos também relataram normas mais rígidas para empréstimos na esteira do aumento da aversão ao risco, dos custos de financiamento e de temores acerca das posições de liquidez. Nesse contexto, o Fed deve passar a focar os seus esforços em estabilizar o mercado de crédito, passando a reagir menos a dados de inflação de alta frequência. O presidente regional do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, deu declarações reforçando a importância de mensurar a parcela do aperto monetário que já está sendo feita pelo aperto nas condições de crédito. Embora tenha havido alguma estabilização nos depósitos, ele destaca que os desdobramentos recentes da crise bancária serão essenciais para determinar os passos futuros da política monetária. Visto isso, permanecem em aberto as decisões de juros para as próximas reuniões.