O índice de preços ao consumidor americano (CPI) avançou 0,1% m/m em agosto, vindo pior do que o esperado pelo consenso de mercado, cuja projeção era de queda de -0,1% m/m no período. Com este resultado, no acumulado em 12 meses, o CPI registrou expansão de 8,3%, desacelerando 0,2 p.p. em relação ao mês anterior. Os destaques vão para as altas nos grupos de Habitação, Alimentação e Cuidados Médicos, que superaram a contração do índice de Energia resultante da queda de 13% do preço da gasolina cobrado na bomba durante o mês de agosto.
O índice de Energia foi o principal destaque no mês ao recuar 5,0% na margem. Este resultado refletiu o recuo de 10,6% m/m do preço da gasolina (impacto de -50 bps na inflação de agosto), decorrente da continuidade da queda do preço do barril do petróleo em um contexto de aumento do risco de recessão global. Além disso, o fortalecimento do dólar no período, também contribuiu para o arrefecimento do preço da gasolina nos EUA. Em contrapartida, tanto a energia elétrica quanto o gás natural avançaram em agosto. O primeiro registrou alta de 1,5%, se mantendo estável em relação ao mês anterior em que foi observada expansão de 1,6%. Por sua vez, o serviço de gás natural reverteu a maior parte da queda observada no mês anterior (-3,6%) ao apresentar alta de 3,5% em agosto. Em 12 meses, o índice de energia acumula alta de 27,1%, ante 32,9% acumulados até o mês de julho. Os principais destaques vão para a alta de 25,6% do índice de preço da gasolina e de 33% do gás natural no mesmo período.
Por sua vez, o grupo de Alimentação avançou 0,8% em agosto, a menor variação na margem desde dezembro de 2021, ao desacelerar 0,3 p.p. em relação ao número do mês anterior. Este resultado foi reflexo dos avanços de 0,7% do subgrupo de Alimentação no Domicílio, que apresentou desaceleração de 0,6 p.p. em relação ao resultado de julho, rompendo com a sequência de 7 meses consecutivos de inflação acima de 1,0% na margem. As pressões altistas foram bastante disseminadas neste subgrupo, visto que todos os seis subitens pesquisados avançaram no mês. Tanto o índice de Carnes, quanto de Bebidas não Alcoólicas apresentaram alta de 0,5% em agosto. Já o índice de Leite e Derivados avançou 0,3% no mês, o menor incremento na margem desde novembro de 2021. Por sua vez, o índice de Alimentação Fora do Domicílio avançou 0,9% em agosto, acelerando 0,2 p.p. em relação ao número observado em julho. No acumulado em 12 meses, o índice de Alimentação acumulou alta de 11,4%, ante 10,9%, puxado por Alimentação no Domicílio que avançou 13,5%, registrando a maior variação em 12 meses desde o período encerrado em março de 1979.
No que diz respeito ao núcleo (excluí alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,6%, surpreendendo negativamente o mercado que tinha como consenso alta de 0,3%. A principal contribuição foi o grupo de Habitação (shelter) que avançou 0,7%, acelerando 0,2 p.p. em relação ao número observado em julho, cujo destaque foi a alta de mesma magnitude do índice de Aluguel do Proprietário (OER) que contribuiu com cerca de 16,7 bps no índice CPI cheio. Por sua vez, o índice de cuidados médicos avançou 0,7% em agosto, com destaque para o avanço de 0,8% do grupo de serviços médicos (impacto de 5,4 bps). Na ponta negativa, vale destacar o recuo de 4,6% no Índice de Preços de Passagens Aéreas, beneficiado pelo recuo do preço do querosene de aviação no período. No acumulado em 12 meses, o núcleo de inflação voltou a ficar acima de 6%, ao registrar expansão de 6,3% em agosto, sinalizando pressões inflacionárias ainda persistentes na economia americana. Este resultado veio pior do que o projetado pelo mercado, que tinha como expectativa alta de 6,1%. O destaque vai para o Índice de Habitação que acumulou alta de 6,2% no período e corresponde por cerca de 40% do núcleo da inflação.
O CPI de agosto surpreendeu negativamente o mercado tanto no índice headline quanto no seu núcleo, ao registrar leituras acima do consenso de mercado. Nossa avaliação é que, excluindo os efeitos deflacionários da moderação no preço dos combustíveis, que deve continuar ao longo do mês de setembro, a inflação americana segue persistente, sinalizando que os componentes mais inerciais devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo. As medidas subjacentes da inflação de Bens (9,5 bps) e de Serviços (33,5 bps) mostram que a resiliência do consumo das famílias americanas tem permitido um maior repasse dos custos ao consumidor que foram responsáveis por um impacto de 43 bps na inflação de agosto. A manutenção da trajetória de queda dos preços dos combustíveis, que deve beneficiar o orçamento das famílias nos próximos meses sustenta a nossa avaliação que a inflação, sobretudo de Serviços Subjacentes, deve permanecer em um patamar elevado nas próximas leituras, tornando mais árduo o trabalho do Fed em garantir a estabilidade de preços. Ademais, as medidas de inflação Residencial seguem significativamente elevadas e sem dar sinais de arrefecimento, sinalizando que o núcleo também deve permanecer bastante pressionado nas próximas leituras.
No que diz respeito ao mercado de trabalho americano, indicadores salariais seguem apontando para ganhos robustos no rendimento médio por hora trabalhada, que deve se traduzir em uma maior e persistente inflação de serviços nos próximos meses, diante da normalização do perfil de consumo das famílias americanas. Além disso, a combinação entre o elevado nível inflacionário e um mercado de trabalho superaquecido deve continuar pressionando os salários nos próximos meses, que pode tornar a inflação ainda mais persistente na economia americana. Dessa forma, acreditamos que o Banco Central americano deva elevar novamente a taxa de juros em 0,75 p.p., reforçando o seu comprometimento em garantir a convergência da inflação americana para a meta de 2% no médio prazo. Nesse contexto, projetamos uma Fed Fund rate em 4,25% ao final de 2022, diante da necessidade de um rápido ajuste da política monetária. Entretanto, por conta do elevado grau de incerteza e dos sinais que apontam para um diagnóstico de uma inflação cada vez mais enraizada na economia americana, seguimos com um viés altista para a nossa projeção de taxa de juros americana.