Em agosto, o índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA veio acima do esperado pelo mercado (0,3% m/m, Bloomberg) e da nossa projeção (0,29% m/m), registrando variação de 0,38% m/m. Com isso, a inflação acumulada em doze meses saltou de 2,70% a/a para 2,92% a/a na passagem de julho para agosto, vindo em linha com as projeções do mercado (2,9% a/a) mas um pouco acima da nossa (2,86% a/a).
Os aluguéis (Shelter) continuaram a responder pela maior parcela da alta do CPI cheio do mês, após terem acelerado de 0,2% m/m em julho para 0,4% m/m em agosto. Movimento similar ocorreu no grupo de alimentos, cuja alta saiu de 0,0% m/m para 0,5% m/m no mesmo período. Isso ocorreu pelo fato de a alimentação no domicílio ter deixado para trás a deflação de 0,1% m/m e passado a registrar uma inflação de 0,6% m/m, ao passo que a alimentação fora do domicílio repetiu a alta de 0,3% m/m registrada em julho. Já no acumulado dos doze meses encerrados em agosto observou-se uma alta de 3,9% a/a na alimentação fora do domicílio, 2,7% a/a na alimentação no domicílio e 3,2% a/a na alimentação em geral.
Já o grupo de energia voltou a registar aumento na taxa de variação dos preços (0,7% m/m, ante -1,1% m/m) em agosto. Essa inflexão se deveu as commodities energéticas, que registraram comportamento similar (1,7% m/m, ante -1,9% m/m), uma vez que os serviços de energia continuaram a apresentar deflação (-0,2% m/m, ante -0,3% m/m). No caso do primeiro, o movimento se deu em decorrência do item gasolina ter voltado a registrar aumento de preço (1,9% m/m, ante -2,2% m/m), enquanto no segundo o principal responsável foram os serviços de gás encanado (-1,6% m/m, ante -0,9% m/m).
No que diz respeito ao núcleo da inflação (ex alimentos e energia), a variação mensal de agosto veio ao encontro do esperado pelo mercado (0,3% m/m, Bloomberg), mas um pouco acima da nossa projeção (0,28% m/m), avançando 0,35% m/m. Já na métrica em doze meses, o núcleo da inflação não apresentou surpresas, saindo de 3,06% a/a para 3,11% a/a, vindo ao encontro das projeções dos analistas (3,1% a/a) e da nossa (3,09% a/a). Essa aceleração da inflação mensal que já ocorre desde maio foi puxada pelos itens de carros e caminhões usados (1,0% m/m, ante 0,5% m/m), serviços de transporte (1,0% m/m, ante 0,8% m/m) e vestuário (0,5% m/m, ante 0,1% m/m).
Em agosto, a inflação de serviços se estabilizou num patamar mensal elevado (0,32% m/m, ante 0,33% m/m), o que impediu um arrefecimento significativo da métrica anual (3,79% a/a, ante 3,81% a/a). Dentre a categoria de bens, os duráveis registraram em agosto a maior alta mensal do ano (0,42% m/m), o que fez com que a métrica anual saísse de 1,24% a/a para 1,94% a/a. Já o segmento de não duráveis também registrou forte alta, deixando de apresentar deflação (0,56% m/m, ante -0,20% m/m). Em doze meses, a taxa de variação saiu de 0,52% para 1,12% a/a.
Em relação ao Índice de Preços ao Produtor (PPI) de agosto houve uma surpresa positiva significativa. Tanto o PPI cheio como o núcleo apresentaram deflação (-0,12% m/m), enquanto o consenso de mercado apontava para altas de 0,3% m/m (Bloomberg). As nossas projeções eram de 0,26% m/m para ambos. Além disso, a alta de 0,9% m/m observada nessas métricas em julho foi revisada para baixo (0,7% m/m). Com esse resultado, as métricas em doze meses recuaram de 3,06% a/a para 2,60% a/a e de 3,40% a/a para 2,83% a/a respectivamente na passagem de julho para agosto. A discrepância entre os números do PPI e do CPI pode perdurar dado que os insumos são os itens mais vulneráveis às tarifas e pelo fato de o repasse para o nível do consumidor não dever se dar de forma integral.
Por fim, essa inflação mensal forte vista no CPI, embora em linha com o esperado, traz de volta um fenômeno ocorrido nos anos de pandemia, quando um dado não necessariamente bom, mas em linha com o consenso de mercado, não provocava a reação negativa que um dado naquele nível deveria gerar. No caso concreto desse CPI de agosto, um headline de 0,38% e um núcleo de 0,35% resultam numa taxa de inflação anualizada de 4,69% e 4,23% respectivamente, o que seria incompatível com um corte iminente da taxa de juros. Mesmo assim, as apostas majoritárias dos analistas passaram a adicionar um afrouxamento adicional de 25 pontos base na política monetária em 2025 (totalizando 75 bps) depois dos dados recentes mais fracos referentes ao mercado de trabalho, numa decisão que não seria isenta de riscos por parte do banco central norte americano (Fed).