Em dezembro, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) recuou 0,1% na comparação mês a mês, em linha com as expectativas de mercado (Bloomberg). Desse modo, a inflação acumulada em doze meses ficou em 6,5%, desacelerando 0,6 p.p. frente aos 7,1% do mês imediatamente anterior. No que diz respeito ao núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia), a variação mensal foi de 0,3%, também vindo de acordo com o esperado pelo mercado. O mesmo ocorreu para a métrica de 12 meses, que agora se encontra em 5,7%, perdendo 0,3 p.p. ante os 6,0% registrados em novembro.
Desta vez a grande protagonista foi a gasolina (-9,4%), que foi de longe o item que mais contribuiu para a queda do índice cheio no mês, mais do que compensando a alta nos preços de habitação (0,8%). Acompanharam a gasolina dentre as quedas do mês de dezembro o grupo de energia (-4,5%), os itens de commodities energéticas (-9,4%), commodities excluindo alimentos e energia (-0,3%), veículos novos (-0,1%) e carros e caminhões usados (-2,5%). Por outro lado, registraram inflação o grupo de alimentação (0,3%), e se destacaram os itens de serviços de energia (1,5%) e serviços excluindo energia (0,5%).
O recuo no grupo de energia foi puxado pelas commodities energéticas (-9,4%), com todos os seus subitens apresentando queda de preços, o que foi suficiente para mais do que compensar a alta vista nos serviços de energia (1,5%) e em todos os seus subitens: eletricidade (1,0%) e gás natural (3,0%). Tal resultado reflete a queda forte do preço do petróleo no início do mês de dezembro devido aos temores com a atividade econômica global, o que permitiu quedas consideráveis dos óleos combustíveis e da gasolina. Na direção contrária, os serviços de energia foram um pouco pressionados pelo clima extremo que atingiu os Estados Unidos no Natal, levando a queda de eletricidade em várias áreas do país e aumento da demanda por gás natural para aquecimento. Na comparação ano a ano, o óleo combustível lidera as altas, avançando 41,5%, seguido do gás natural (19,3%) e da eletricidade (14,3%).
Por sua vez, o grupo de alimentação avançou 0,3% m/m em dezembro, um pouco abaixo da leitura anterior (0,5%). O resultado veio de tendências similares registradas nos preços de alimentação no domicílio e de alimentação fora do domicílio. A primeira desacelerou 0,3 p.p. na passagem de novembro para dezembro, saindo de 0,5% para 0,2%, enquanto a segunda recuou 0,1 p.p. no mesmo período, de 0,5% para 0,4%. Ao olharmos o avanço em relação ao mesmo mês do ano anterior, observamos uma alta de 11,8% em alimentação no domicílio e 10,4% no geral. Três dos seis componentes do grupo de alimentos em supermercados se elevaram ao longo do mês, representando um refresco em relação ao mês anterior amparado pela acomodação nos preços das commodities alimentares, aliviando um pouco da pressão orçamentária das famílias americanas com gastos nesse grupo de bens essenciais.
Os componentes mais inerciais, sobretudo ligados ao setor de serviços (mais intensivo em mão de obra) devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo. Na passagem de novembro para dezembro a inflação de serviços se elevou consideravelmente, saindo de 0,3% para 0,6%, o que fez com que, na métrica de doze meses, também houvesse elevação (de 7,2% para 7,5%). Além disso, o processo de normalização do perfil de consumo, que beneficia o setor de serviços, tende a manter a inflação de serviços pressionada. Ademais, as medidas de inflação residencial seguem significativamente elevadas e sem dar sinais claros de arrefecimento, indicando que o núcleo também não deve recuar tão cedo. Até agora o alívio inflacionário nos EUA ficou mais concentrado em alimentação e energia devido ao recuo nos preços das commodities nos dois últimos meses de 2022, com o núcleo de inflação apresentando maior inércia, dificultando o processo de convergência da inflação cheia para a meta de 2,0% ao ano.
Nossa avaliação é que diante do atual contexto de um mercado de trabalho apertado e de pressões inflacionárias persistentes, principalmente do núcleo de inflação, o Banco Central norte-americano (Fed) deve seguir elevando a taxa básica de juros (fed funds rate) para combater o elevado nível de preços. Essas duas últimas leituras de números melhores na margem, embora mais concentrada em alimentos e energia, abrem espaço para o Fed diminuir o ritmo de alta de juros novamente na próxima reunião de fevereiro, elevando os juros em 25 pontos-base ao invés de repetir a elevação de 50 pontos-base de dezembro. Presidentes regionais do Fed já sinalizaram explicitamente que a trajetória mais adequada para política monetária daqui para frente é seguir com altas de 25 pontos-base para avaliar como a economia e a inflação estão reagindo ao forte aperto monetário empreendido até agora.