A variação do índice de preços do consumidor (CPI) foi de 1,3% em junho, ante crescimento de 1,0% em maio, vindo pior do que o consenso de mercado cuja projeção era de alta de 1,1% no mês. No acumulado dos últimos 12 meses, houve expansão de 9,1%, a maior variação desde o final de 1981. As altas nos preços foram bastante disseminadas, com destaque para o índice de preços da Gasolina, Habitação (Shelter) e Alimentos, de modo que, a economia americana registrou pelo quarto mês consecutivo variação acima de 6,0%, substancialmente acima da meta de longo prazo de 2,0%.
Embora as altas de preços tenham sido bastante disseminadas pela economia, os números seguem apontando para os impactos altistas da invasão da Ucrânia pela Rússia e da política de lockdowns na China na inflação americana. Além disso, a demanda doméstica segue bastante resiliente, mesmo diante de um elevado nível de preços que vem deteriorando o poder de compra dos americanos é um vetor de pressão altista adicional. Entretanto, acreditamos que o patamar recorde da inflação americana deve começar a fazer efeito sobre a economia em termos de atividade econômica ao reduzir o poder de compra das famílias e minar a confiança dos consumidores.
O índice de Energia foi o principal destaque no mês ao avançar 7,5% em junho, contribuindo com cerca da metade da alta do índice CPI do mês. O resultado refletiu o aumento do preço da gasolina, que avançou 11,2% no mês, decorrente das elevadas restrições na oferta de petróleo nos mercados globais decorrentes da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Os preços da gasolina na bomba, em mais de 40% dos estados americanos, atingiram valores recordes que superaram o patamar de US$ 5,00 por galão em meados de junho, impactando substancialmente o índice de inflação. Além disso, o gás natural apresentou alta de 8,2%, que pelo segundo mês consecutivo ficou acima de 8,8%, refletindo os impactos do aumento das exportações de gás natural para Europa nos preços domésticos. Este resultado constituiu a maior variação mensal desde outubro de 2005. Em 12 meses, o índice de Energia acumulou alta de 41,6%. O principal destaque vai para a alta de 59,9% do índice de preço da gasolina no mesmo período, a maior variação em 12 meses desde março de 1980.
Por sua vez, o grupo de Alimentação apresentou desaceleração de 0,2 p.p. em relação ao mês anterior ao registrar variação de 1,0% em junho. Este resultado refletiu o avanço de 1,0% no índice de Alimentação no Domicílio, que pelo sexto mês consecutivo registra alta acima de 1,0% na margem. As altas foram bastante disseminadas neste grupo, visto que cinco dos seis subgrupos pesquisados apresentaram elevação no mês. Os destaques vão para o índice de produtos lácteos e afins que avançou 1,7% no mês e para o índice de frutas e vegetais que apresentou expansão de 0,7% no mesmo período. Já o índice de Alimentação Fora do Domicílio avançou 0,9%, acelerando em relação ao número observado em maio de 0,7%. Em 12 meses, o índice de Alimentação acumulou alta de 10,4%, puxado pela Alimentação no Domicílio que avançou 12,2%, a maior variação acumulada em 12 meses desde abril de 1979.
No que diz respeito ao núcleo (excluí alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,7%, surpreendendo negativamente o mercado que tinha como consenso alta de 0,5%. A principal contribuição foi o grupo de Habitação (shelter) que avançou 0,6%. A principal contribuição veio do índice de aluguel que avançou 0,8%, registrando a maior variação mensal desde abril de 1986. Na comparação interanual, registrou-se alta de 5,9% do núcleo de inflação, resultante de pressões altistas bastante disseminadas em quase todos os grupos pesquisados. O destaque vai para o índice de Habitação que acumulou alta de 5,6%, a maior variação em 12 meses desde fevereiro de 1991. Além disso, vale destacar as altas de 11,4% do índice de Novos Veículos e de 34,1% do índice de Passagens Aéreas.
Nossa avaliação é que a leitura dos dados de inflação para o mês de junho reforça a necessidade de ajustes mais tempestivos de política monetária por parte do Federal Reserve. Por um lado, o cenário internacional tem se deteriorado desde o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, diante da relevância destes países nos mercados globais de commodities Alimentícias, Energéticas e Metálicas. Ademais, a manutenção da política de tolerância zero Covid na China adiciona risco de intensificação dos gargalos nas cadeias globais de produção, que deve continuar gerando pressões altistas na inflação global. Por fim, a boa saúde financeira das famílias, resultante de um longo período de extrema liquidez nos mercados e políticas fiscais de transferência de renda, deve continuar sustentando uma forte demanda nos próximos meses, que deve continuar pressionando a inflação americana, sobretudo o seu núcleo. Nesse sentido, acreditamos que para a próxima reunião do FOMC, as discussões sobre o aumento da taxa de juros deverão girar em torno de uma alta de 0,75 p.p. ou de 1,00 p.p. diante da necessidade do Banco Central americano ajustar rapidamente a instância de política monetária como forma de combater a inflação que se mostra cada vez mais enraizada na economia americana.