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Publicado em 13 de Junho às 14:19:01

CPI (mai/23): Inflação cheia e núcleo vêm em linha com o esperado

Em maio, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) avançou 0,1% na comparação mensal, vindo em linha com as expectativas do mercado. Desse modo, a inflação acumulada em doze meses ficou em 4,0%, levemente abaixo do esperado (4,1%, Bloomberg), mas desacelerando 0,9 p.p. frente aos 4,9% do mês imediatamente anterior. No que diz respeito ao núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia), a variação mensal foi de 0,4%, também vindo de acordo com o esperado. A métrica de doze meses, por sua vez, veio um pouco acima das estimativas dos analistas (5,2%) e agora se encontra em 5,3%, recuando 0,2 p.p. ante os 5,5% registrados em abril.

Ao voltar a acelerar na métrica mensal, os aluguéis (shelter) foram novamente o item que mais contribuiu para a alta da inflação cheia em maio, avançando 0,6%. Na comparação em doze meses, essa medida de inflação segue significativamente elevada (8,0%) e sem dar sinais claros de arrefecimento, tendo se reduzido apenas 0,1 p.p. em relação aos 8,1% registrados em abril. Outros itens a apresentarem impactos relevantes na inflação de maio foram: carros e caminhões usados (4,4%) e serviços de transporte (0,8%). Dentre as quedas do mês se destacaram os veículos novos (-0,1%) e os serviços de cuidados médicos (-0,1%).

O grupo de energia voltou a registrar deflação, saindo de 0,6% em abril para -3,6% em maio, com as commodities energéticas (-5,6%, ante 2,7%) sendo a principal responsável por essa mudança em vista da queda nas cotações do petróleo decorrente da divulgação de sucessivos dados fracos da atividade econômica global. Na comparação ano a ano, os serviços de energia e as commodities energéticas permanecem em situações completamente diferentes, registrando inflação de 1,6% e deflação de 20,4%, respectivamente.

O grupo de alimentação deixou para trás dois meses seguidos de estabilidade e avançou 0,2% em maio. O resultado foi puxado tanto pelo item de alimentação no domicílio, que passou a registrar inflação (0,1%, ante -0,2%), como pelo item de alimentação fora do domicílio, que acelerou o ritmo de alta de 0,4% para 0,5% na passagem de abril para maio. Como a parte da alimentação fora do domicílio é enquadrada em serviços, a resiliência da inflação desse item é bem compreensível dada a elevada inércia de serviços. No acumulado dos últimos doze meses, observamos uma alta de 8,3% na alimentação fora do domicílio, 5,8% na alimentação no domicílio e 6,7% na alimentação em geral, com todas essas métricas apresentando redução.

Os bens duráveis reverteram a alta vista na passagem de março para abril e saíram de 0,8% para 0,3% em maio. Por sua vez, os bens não duráveis voltaram a registrar deflação de 0,6%, voltando ao mesmo número de março. O tão desejado arrefecimento de preços no setor de bens voltou a ocorrer em maio em todos os segmentos. A continuidade da melhora no funcionamento das cadeias de suprimento globais, como evidenciado no último dado do Global Supply Chain Pressure Index (GSCPI) do Fed de Nova Iorque, deve fornecer um vento favorável para os preços dos bens continuarem a arrefecer nos próximos meses. No acumulado de doze meses, o segmento de duráveis registra estabilidade de preços, enquanto os não duráveis apresentam inflação de apenas 1,0%.

Na passagem de abril para maio a inflação de serviços registrou alta de 0,3%, o que fez com que a inflação em doze meses saísse de 6,8% para 6,3%. Até na métrica de inflação de serviços que exclui os serviços de energia (que apresentaram deflação) a tendência foi de queda, ainda que modesta (6,6% a/a, ante 6,8% a/a). Apesar da métrica de serviços ex-habitação (Supercore) apresentar um leve repique na inflação mensal (de 0,1% em abril para 0,2% em maio), o acumulado de doze saiu de 5,1% para 4,6% no mesmo período. Esse sinal mais forte de arrefecimento em métricas de inflação diretamente afetadas pela ação da política monetária mostra que o processo de desinflação se tornou mais amplo e agora já atinge as principais métricas de núcleo. Num primeiro estágio do processo de desinflação, a desaceleração na taxa de crescimento dos preços estava mais restrita às commodities e ao setor de bens. No entanto, o vigor do setor de serviços, que se repetiu no último payroll de maio, tende a manter a inflação pressionada, dificultando o processo de convergência da inflação cheia para a meta de 2,0% ao ano dado que os componentes mais inerciais, ligados ao setor de serviços e intensivos em mão de obra, devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo.

Com essa desaceleração da inflação, há espaço para o banco central norte-americano (Fed) pausar o ciclo de alta de juros na reunião de junho. Contudo, a resiliência vista no preço dos aluguéis (shelter) vem impedindo uma desinflação do núcleo de preços em ritmo mais rápido, o que pode forçar o Fed a voltar a subir os juros em julho. Além disso, os ganhos médios reais por hora (real average hourly earnings) avançaram 0,2% na métrica anual em maio, após terem recuado 0,6% em abril. Já os ganhos médios reais por semana (real average weekly earnings) diminuíram 0,7% em maio em relação ao mesmo mês do ano passado, após um recuo de 1,2% em abril. Ambas as métricas estão em trajetória de alta após a inflação ter começado a arrefecer, mas ainda se situam em patamares inferiores em relação a média observada no período pré-pandemia. Esse mesmo efeito incide sobre a percepção do mercado acerca da condução da política monetária pelo Fed. Com o índice de inflação cheio devendo entrar em breve num segundo estágio do processo de desinflação (“the last mile”), mais lento do que o primeiro, no qual os últimos pontos de porcentagem de desinflação necessários para levar a inflação para a meta de 2,0% seriam bem mais desafiadores, a taxa real de juros começaria a aumentar em um ritmo menor, tornando a política monetária menos restritiva e, com isso, diminuindo o afrouxamento monetário previsto pelo mercado que o Fed teria que empreender para não desacelerar tanto a atividade econômica. Esse fato deve fazer com que o mercado convirja para a opinião dominante do Fed, que descarta cortes na fed funds rate no segundo semestre desse ano.

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