A variação do índice de preços do consumidor (CPI) foi de 1,2% em março, ante crescimento de 0,8% em fevereiro, ficando 0,1 p.p. acima do consenso de mercado. Por sua vez, a taxa de inflação nos últimos 12 meses acumulou alta de 8,5%, renovando a maior variação anual em quarenta anos, ficando levemente acima da projeção mediana de mercado de 8,4% para o mesmo período. Este resultado representou o sexto mês consecutivo que a inflação americana se encontra acima de 6,0%, distante da meta de longo prazo de 2,0%.
O avanço no mês foi concentrado nos grupos de energia, alimentação e habitação. A expressiva alta dos componentes mais voláteis é decorrente da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, como consequência do impacto substancial no preço global de commodities e insumos agrícolas e nos preços das commodities energéticas. A gasolina apresentou alta de 18,3% no mês e foi responsável por cerca da metade da variação do índice cheio. Já o índice de alimentação apresentou alta de 1,0%, puxada pela alimentação no domicílio que teve alta de 1,5% no mês.
Os índices de transportes, que incluí gasolina, alimentação e habitação (shelter) apresentaram as maiores altas no mês e juntos contribuíram por cerca de 80% da variação do índice headline (106,8 b.p.).
O índice de energia apresentou alta de 11,0%, acelerando significativamente em relação ao mês anterior (3,5%). Este resultado decorreu do avanço de 18,3% do preço da gasolina e de 22,3% de óleo combustível. O preço da gasolina cobrada na bomba permaneceu estável, próximo do patamar mais elevado da série histórica, após subir por 11 semanas consecutivas. Vale ressaltar que o preço do combustível segue pressionado pelos efeitos da guerra no leste europeu, que tem ditado a dinâmica do preço do barril de petróleo nas últimas semanas. Além disso, o desequilíbrio entre a oferta e a demanda também têm influenciado o preço da gasolina, visto que os estoques seguem abaixo da média dos últimos anos em algumas regiões americanas. Em 12 meses, o índice de energia acumulou alta de 32,0%. O principal destaque vai para a alta de 48,0% da gasolina no mesmo período.
Por sua vez, o grupo de alimentos ficou estável em relação ao número do mês anterior ao avançar 1,0% em março. Este resultado refletiu o avanço de 1,5% da alimentação no domicílio, puxada pelas altas de 2,0% do grupo de outros alimentos consumidos no domicílio e de 1,5% no índice de frutas e vegetais. Já a alimentação fora do domicílio apresentou alta de 0,3% no período. Em 12 meses, o índice de alimentação acumulou alta de 8,8%. A inflação de alimentos tende a continuar sendo pressionada nos próximos meses como consequência dos efeitos da guerra sobre as exportações globais de trigo e na produção de insumos agrícolas.
No que diz respeito ao núcleo (excluí alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,3%, surpreendendo positivamente o mercado que tinha como consenso alta de 0,5%. A principal contribuição foi o grupo de habitação (shelter) que avançou 0,5% no mês, contribuindo com cerca de dois terços da variação mensal do núcleo. A principal contribuição veio do índice aluguel que avançou 0,4% no período. Por sua vez, o grupo de hospedagem fora de casa avançou 3,3% em março após variar 2,2% em fevereiro. No interanual, registrou-se alta de 6,5% do núcleo da inflação, o maior valor registrado desde agosto de 1982.
Nossa avaliação é que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia seguirá pressionando a inflação americana nos próximos meses, devido aos impactos sobre os preços de combustíveis e alimentos. O elevado nível de preços, que deteriora o poder de compra das famílias, impacta o consumo nos EUA, visto que limita a renda disponível a ser gasta com o consumo de bens e serviços não essenciais. Embora os salários tenham apresentado altas consecutivas nos últimos meses, os aumentos têm vindo abaixo da inflação, adicionando um viés negativo para o consumo nos próximos meses. Vale ressaltar que a piora do cenário inflacionário ocorreu em um momento em que a inflação americana já se encontrava em um patamar bastante elevado. Este fato, aumenta a pressão para que o Fed acelere o aperto monetário para conter a dinâmica inflacionária. Nesse sentido, diante dos indicadores que apontam para uma economia superaquecida e de um persistente processo inflacionário, acreditamos que o Banco Central americano irá acelerar o ritmo de aumento de juros para 0,5% na próxima reunião do comitê. Acreditamos que este será o primeiro de quatro aumentos consecutivos de mesma magnitude, de modo que, a taxa de juros americana encerrará o ano em 3,0%.