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Publicado em 12 de Abril às 14:07:54

CPI (mar/23): Inflação cheia surpreende para baixo, mas núcleo vem em linha com o esperado

Em março, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) avançou 0,1% na comparação mensal, vindo levemente abaixo das expectativas do mercado (0,2%, Bloomberg). Desse modo, a inflação acumulada em doze meses ficou em 5,0%, um pouco abaixo do esperado (5,1%), desacelerando 1,0 p.p. frente aos 6,0% do mês imediatamente anterior. No que diz respeito ao núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia), a variação mensal foi de 0,4%, vindo de acordo com o esperado. A métrica de doze meses, por sua vez, veio em linha com as estimativas dos analistas e agora se encontra em 5,6%, avançando 0,1 p.p. ante os 5,5% registrados em fevereiro.

Apesar de terem desacelerado na comparação mês a mês, os aluguéis (“shelter”) foram novamente o item com a maior contribuição para a inflação cheia de março, avançando 0,6% m/m. Na métrica em doze meses, essa medida de inflação segue significativamente elevada (8,2%) e sem dar sinais claros de arrefecimento, tendo inclusive se elevado em relação aos 8,1% registrados em fevereiro. Outros itens a apresentarem altas relevantes foram: serviços de transporte (1,4%), alimentação fora do domicílio (0,6%), commodities de cuidados médicos (0,6%), veículos novos (0,4%) e vestuário (0,3%). Dentre as quedas do mês se destacaram os carros e caminhões usados (-0,9%) e os serviços de cuidados médicos (-0,5%).

O grupo de energia aprofundou a deflação em março, saindo de -0,6% para -3,5%, com tanto os serviços de energia (-2,3%) como as commodities energéticas (-4,6%) apresentando recuo de preços. Isso se deu pelo forte recuo nas cotações do petróleo na primeira quinzena do mês devido aos temores da crise bancária pesar sobre a atividade econômica. Na comparação ano a ano, os serviços de energia e as commodities energéticas ainda se encontram em situações completamente diferentes, registrando inflação de 9,2% e deflação de 17,0%, respectivamente.

O grupo de alimentação apresentou estabilidade em março frente a fevereiro. O resultado foi puxado pelo item de alimentação no domicílio, que saiu de 0,3% para -0,3%, dado que o item de alimentação fora do domicílio repetiu o resultado dos dois meses anteriores e avançou 0,6%. Como a parte da alimentação fora do domicílio é enquadrada em serviços, a resiliência da inflação desse item é bem compreensível dada a inércia elevada de serviços. No acumulado dos últimos doze meses, observamos uma alta de 8,4% na alimentação no domicílio e 8,5% na alimentação em geral.

Depois de seis meses seguidos de deflação, os bens duráveis voltaram a apresentar inflação (0,4%) em março. A tão desejada desinflação de bens industriais ocorreu esse mês nos bens não duráveis (-0,6%). Apesar dessa inflexão no segmento de bens duráveis, a melhora no funcionamento das cadeias de suprimento globais, como evidenciado no último dado do Global Supply Chain Pressure Index (GSCPI) do Fed de Nova Iorque, deve fornecer um vento favorável para os bens duráveis retomarem a desinflação nos próximos meses. No acumulado de doze meses, o segmento de duráveis registra deflação de 1,0%, enquanto os não duráveis apresentam inflação de 2,8%.

Na passagem de fevereiro para março a inflação de serviços desacelerou 0,2 p.p., saindo de 0,5% para 0,3%, o que fez com que a inflação em doze meses saísse de 7,6% para 7,3%. Até na métrica de inflação que exclui os serviços de energia (que apresentaram deflação) a tendência foi de queda, saindo de 0,6% para 0,4% na comparação mensal e de 7,3% para 7,1% na comparação anual no mesmo período. Adicionalmente, vale destacar que o processo de desinflação pela primeira vez parece ter alcançado a métrica de serviços ex-habitação (Supercore), com o número mensal se reduzindo de 0,5% para 0,4% e o acumulado de doze meses rompendo o platô de 6,0% no qual se encontrava desde setembro, se encontrando agora em 5,8%. Esse primeiro sinal de arrefecimento em métricas de inflação diretamente afetadas pela ação da política monetária mostra o início de um segundo estágio do processo de desinflação nos Estados Unidos, dado que até agora a desaceleração na taxa de crescimento dos preços estava mais restrita às commodities energéticas. No entanto, o vigor do setor de serviços, que se repetiu no último payroll de março, tende a manter a inflação pressionada, dificultando o processo de convergência da inflação cheia para a meta de 2,0% ao ano dado que os componentes mais inerciais, mais ligados ao setor de serviços e intensivos em mão de obra, devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo.

A eclosão da crise bancária no mês de março fez com que o CPI cheio surpreendesse para baixo, puxado pelo recuo dos itens voláteis (energia e alimentos) e dos temores de uma maior desaceleração da atividade, o que não irá se repetir em abril devido ao corte surpresa na produção de petróleo empreendido pela OPEP+ e por isso não deve ser encarado como um sinal de arrefecimento mais generalizado dos preços. Nesse sentido, o banco central norte-americano (Fed) deve dar mais peso para o núcleo de inflação ao decidir sobre a política monetária. Apesar do Fed em seu último comunicado ter deixado de se comprometer com novas altas na taxa básica de juros (fed funds rate), o resultado do núcleo de inflação deve garantir uma alta de 25 pontos-base na reunião de maio, com a taxa terminal atingindo 5,25% (limite superior). Para as reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) de junho em diante o Fed deve continuar a não se comprometer e sinalizar uma dependência dos dados para fazer qualquer nova alteração na taxa de juros em vista do forte aumento da incerteza acerca da trajetória futura da economia americana como consequência dos estresses financeiros recentes.

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