Em novembro, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) avançou 0,1% na comparação mês a mês, abaixo das expectativas do mercado (Bloomberg), que apontavam para uma alta de 0,3%. Desse modo, a inflação acumulada em doze meses é de 7,1%, desacelerando 0,6 p.p. frente aos 7,7% do mês imediatamente anterior e vindo melhor que as expectativas, que esperavam uma desaceleração mais modesta, para 7,3%. No que diz respeito ao núcleo (que exclui alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,2%, vindo abaixo da mediana de mercado (0,3%). O mesmo ocorreu para a métrica de 12 meses, com o núcleo avançando 6,0% enquanto as expectativas eram de 6,1%.
Novamente o destaque foi para o grupo de habitação (0,6%), que foi de longe o item que mais contribuiu para a alta do índice cheio no mês, mais do que compensando a queda nos preços de energia (-1,6%). Acompanharam habitação dentre as altas do mês de novembro os itens de comunicação (1,0%), educação (0,3%), seguro automotivo (0,9%), lazer (0,5%) e vestuário (0,2%). Por outro lado, registraram deflação os itens de passagens aéreas (-3,0%), carros e caminhões usados (-2,9%), e cuidados médicos (-0,7%).
O grupo de energia apresentou recuo significativo no mês (-1,6%), com itens como gasolina (-2,0%), gás natural (-3,5%) e eletricidade (-0,2%) apresentando deflação em novembro. Tal resultado reflete a queda das commodities energéticas (-2,0%), representadas principalmente pela tendência de baixa do Brent nos mercados internacionais devido aos lockdowns na China na esteira da política de “covid-zero” que vigorou mais fortemente em novembro e que teve impacto negativo na demanda por petróleo. Seguindo nessa mesma direção, os serviços de energia caíram 1,1%, puxados principalmente pelo forte recuo nos preços do gás natural em decorrência de um clima mais ameno do que o esperado no hemisfério norte para o período. Na comparação ano a ano, o óleo combustível lidera as altas, avançando 65,7%, seguido do gás (15,5%) e da eletricidade (13,7%).
Por sua vez, o grupo de alimentação avançou 0,5% m/m em novembro, levemente abaixo da leitura anterior referente ao mês de outubro (0,6%). O resultado veio de tendências opostas registradas nos preços de alimentação no domicílio e de alimentação fora do domicílio. Enquanto o primeiro acelerou a alta de outubro (0,4%) para novembro (0,5%), o segundo desacelerou, passando de 0,9% para 0,5%. Ao olharmos o avanço em relação ao mesmo mês do ano anterior, observamos uma alta de 12,0% em alimentação no domicílio e 10,6% no geral. Quatro dos seis componentes do grupo de alimentos em supermercados se elevaram ao longo do mês, evidenciando que as famílias norte-americanas ainda sofrem pressões orçamentárias relevantes vindas desse grupo de bens essenciais.
O CPI de novembro surpreendeu positivamente o mercado tanto no índice cheio (headline) quanto no seu núcleo, ao registrar leituras abaixo do consenso de mercado, o que deve alimentar algum rali nos mercados acionários. Apesar disso, os componentes mais inerciais, sobretudo ligados ao setor de serviços (mais intensivo em mão de obra) devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo. As medidas subjacentes da inflação sinalizam que a normalização do perfil de consumo, que beneficia o setor de serviços, tende a sustentar a inflação de serviços (7,2% a/a) em um patamar elevado nas próximas leituras. Ademais, as medidas de inflação residencial seguem significativamente elevadas e sem dar sinais claros de arrefecimento, indicando que o núcleo também pode permanecer pressionado nas próximas leituras. Nesse sentido, a inflação segue bem disseminada e é um fenômeno generalizado na economia americana, atingindo todos os setores.
Nossa avaliação é que diante do atual contexto de um mercado de trabalho apertado e de pressões inflacionárias persistentes, o Banco Central norte-americano (Fed) deverá seguir elevando a taxa básica de juros (fed funds rate) para combater o elevado nível de preços. Essas primeiras leituras de números melhores na margem vão ao encontro do que a autoridade monetária vem sinalizando recentemente de não dar tanta importância à magnitude do aumento de juros em cada reunião do FOMC, mas sim à taxa terminal desse ciclo de alta de juros, que deve permanecer em patamar mais elevado por mais tempo para assegurar que os componentes mais inerciais retornem à meta de 2,0% a.a. Sob essa lógica, esse resultado do CPI de novembro (0,1% m/m) contribui para fortalecer ainda mais as apostas do mercado de uma alta de juros de 50 bps na reunião do Fed dessa quarta-feira (14/12).