Em outubro, o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) avançou 0,4% na comparação mês a mês, abaixo das expectativas do mercado, que apontavam para uma alta de 0,6%. Desse modo, a inflação acumulada em doze meses é de 7,7%, desacelerando 0,5 p.p. frente aos 8,2% do mês imediatamente anterior e vindo melhor que as expectativas, que esperavam uma desaceleração mais modesta, de 7,9%. Destaque para o grupo de Habitação (shelter), que contribuiu com mais da metade do aumento do CPI no mês, Alimentação e Energia, que saltou 1,8% m/m após a alta de 19,8% m/m do óleo combustível (sem ajuste sazonal).
O grupo de Energia foi o principal destaque do mês ao avançar 1,8% m/m, frente a uma queda de 2,1% em setembro. Tal resultado reflete a alta das commodities energéticas, como a gasolina e o óleo combustível, que avançaram 4,0% e 19,8%, respectivamente, refletindo o movimento de alta do Brent nos mercados internacionais devido à interrupção na produção de petróleo no Golfo do México, dado o furacão Ian, e o corte de produção da Opep+. Por outro lado, os serviços de energia caíram 1,2%, haja vista que o modesto avanço de 0,1% dos preços da eletricidade foi compensado pela queda de 4,6% do gás de serviços públicos. Na comparação ano a ano, o óleo combustível lidera as altas, avançando 68,5%, seguido do gás, com 20% e da gasolina, que avançou 17,5% no mesmo período.
Por sua vez, o grupo de Alimentação avançou 0,6% m/m em outubro, levemente abaixo da leitura anterior, isto é, referente ao mês de setembro, quando registrou alta de 0,8%. O resultado reflete a alta dos preços de alimentação no domicílio, que avançaram 0,4% m/m, e dos preços de alimentação fora do domicílio, que avançaram 0,9% m/m. Ao olharmos o avanço em relação ao mesmo mês do ano anterior, observamos uma alta de 12,4% em alimentação no domicílio e 8,6%, no outro. Quatro dos seis componentes do grupo de alimentos em supermercados se elevaram ao longo do mês., evidenciando as fortes pressões orçamentárias que sofrem as famílias norte-americanas. Deve-se destacar também que a alta observada em alimentação fora do domicílio é a mesma dos dois meses anterior.
No que diz respeito ao núcleo (que exclui alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,3%, surpreendendo negativamente o mercado que tinha como consenso alta de 0,5%. O mesmo ocorreu para a métrica de 12 meses, com o núcleo avançando 6,3% enquanto a expectativa de mercado era de 6,5%. A principal contribuição foi o grupo de Habitação (shelter),que avançou 0,8% e cujo destaque foi para alta de 0,6% m/m do índice de Aluguel do Proprietário (OER) que contribuiu com cerca de 14,4 bps no índice CPI cheio. Por sua vez, o índice de Cuidados Médicos recuou 0,5% m/m em outubro, com destaque para a retração de 0,6% do grupo de Serviços Médicos. Ainda na ponta negativa, outros destaques foram o índice de veículos usados que apresentou recuo de 2,4% m/m, acentuando a contração de 1,1% observada em setembro, e as passagens aéreas que, após subirem 0,8% m/m em setembro, voltaram a registrar deflação em outubro (-1,1%). No acumulado dos últimos 12 meses, o destaque vai justamente para as passagens aéreas que avançaram 42,9% no período.
O CPI de outubro surpreendeu positivamente o mercado tanto no índice headline quanto no seu núcleo, ao registrar leituras abaixo do consenso de mercado, o que deve alimentar algum rali nos mercados acionários. Apesar disso, os componentes mais inerciais, sobretudo ligados ao setor de serviços (mais intensivo em mão de obra) devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo. As medidas subjacentes da inflação sinalizam que a normalização do perfil de consumo, que beneficia o setor de serviços, tende a sustentar a inflação de serviços (7,2% a/a) em um patamar elevado nas próximas leituras, à medida em que os custos dos aumentos salariais são repassados ao consumidor final. Ademais, as medidas de inflação residencial seguem significativamente elevadas e sem dar sinais de arrefecimento, sinalizando que o núcleo também deve permanecer pressionado nas próximas leituras. Nesse sentido, a inflação segue bem disseminada e é um fenômeno generalizado na economia americana, atingindo todos os setores.
Nossa avaliação é que diante do atual contexto de um mercado de trabalho apertado e de pressões inflacionárias persistentes, o Banco Central (Fed) deverá seguir elevando a taxa básica de juros (“fed fund rate”) para combater o elevado nível de preços. Uma dúvida que ainda paira no ar, entretanto, é a magnitude do próximo aumento de juros e o nível que a taxa terminal deve atingir ao final desse atual ciclo de alta. Recentemente, a autoridade monetária passou a emitir alguns sinais de que deseja reduzir o atual ritmo de aperto da taxa de juros, dado que já foram realizados quatro aumentos consecutivos de 0,75 p.p. e, em contrapartida, passar a perseguir uma taxa terminal mais alta do que a projetada em setembro pelos próprios membros do FOMC. Nesse contexto, por conta do elevado grau de incerteza do atual cenário, acreditamos que possa emergir um racha interno no Fed entre as alas mais “dovish” e “hawkish” na próxima reunião de dezembro.