O índice de preços ao consumidor americano (CPI) avançou 0,4% m/m em setembro, vindo pior do que o esperado pelo consenso de mercado, cuja projeção era de queda de expansão de 0,2% m/m no período. Com este resultado, no acumulado em 12 meses, o CPI registrou expansão de 8,2%, desacelerando 0,1 p.p. em relação à leitura anterior, entretanto, vindo pior que a expectativa mediana de mercado que era de alta de 8,1%. Os destaques vão para as altas nos grupos de Habitação, Alimentação e Cuidados Médicos, que superaram as pressões baixistas advindas do grupo de Energia, sobretudo do índice da Gasolina que recuou 4,9% no mês.
O índice de Energia foi o principal destaque negativo no mês ao recuar 2,1% m/m na margem, ante contração de 5,0% m/m em agosto. Este resultado refletiu o recuo de 4,9% m/m do preço da gasolina (impacto de -17 bps na inflação de setembro), decorrente da continuidade da queda do preço do barril do petróleo em um contexto de aumento do risco de recessão global e das vendas das reservas estratégicas de petróleo dos EUA. Além disso, o fortalecimento do dólar no período, também contribuiu para o recuo do preço da gasolina no período. Em contrapartida, os índices de Gás natural e de Energia Elétrica avançaram em setembro, apresentando altas de 2,9% m/m e 0,4% m/m, respectivamente. Em 12 meses, o índice de Energia acumula alta de 19,8%. Os principais destaques vão para a alta de 18,2% do preço da Gasolina e de 33,1% do preço do Gás Natural.
Por sua vez, o grupo de Alimentação avançou 0,8% em setembro, repetindo a variação observada no mês de agosto. Este resultado foi reflexo dos avanços de 0,7% m/m do subgrupo de Alimentação no Domicílio, também repetindo a variação observada no mês anterior. As pressões altistas foram bastante disseminadas neste subgrupo, visto que todos os seis subitens pesquisados apresentaram altas no mês. Por sua vez, o índice de Alimentação Fora do Domicílio avançou 0,9% m/m em setembro, também apresentando variação de mesma magnitude em relação ao mês anterior. No acumulado em 12 meses, o índice de Alimentação acumulou alta de 11,2%, puxado por Alimentação no Domicílio que avançou 13,0% e do Índice de Alimentação Fora do Domicílio que acumulou alta de 8,5%.
No que diz respeito ao núcleo (excluí alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,6%, surpreendendo negativamente o mercado que tinha como consenso alta de 0,4%. A principal contribuição foi o grupo de Habitação (shelter) que avançou 0,7%, que se manteve estável em relação a variação observada em agosto, cujo destaque foi para alta de 0,8% m/m do índice de Aluguel do Proprietário (OER) que contribuiu com cerca de 18,8 bps no índice CPI cheio, a maior variação mensal desde junho de 1990. Por sua vez, o índice de Cuidados Médicos avançou 0,8% m/m em setembro, com destaque para o avanço de 1,0% do grupo de Serviços Médicos. Na ponta negativa, os destaques vão para o índice de Veículos Usados que apresentou recuo de -1,1% m/m, acentuando a contração de -0,1% m/m observada em agosto. No acumulado em 12 meses, o núcleo de inflação acelerou em relação à leitura do mês anterior, registrando alta de 6,6% em setembro, o maior incremento em 12 meses desde agosto de 1982, ante 6,3% em agosto, sinalizando que as pressões inflacionárias seguem persistentes e disseminadas na economia americana. Este resultado veio pior do que o projetado pelo mercado, que tinha como consenso a expectativa de alta de 6,5%. No acumulado, o destaque vai para o índice de Habitação que acumulou alta de 6,6% no período e corresponde por cerca de 40% do núcleo da inflação americana.
O CPI de setembro surpreendeu negativamente o mercado tanto no índice headline quanto no seu núcleo, ao registrar leituras acima do consenso de mercado. Nossa avaliação é que, excluindo os efeitos deflacionários da moderação no preço dos combustíveis, que deve ter seu efeito baixista encerrado no mês de agosto devido ao corte de produção dos países da OPEC+ e da perspectiva de redução das vendas das reservas estratégicas de petróleo norte americano, a inflação americana segue persistente. Esta leitura reforça a percepção de que componentes mais inerciais, sobretudo ligados ao setor de serviços (mais intensivo em mão de obra) devem sustentar o nível de preços em um patamar significativamente elevado por mais tempo. As medidas subjacentes da inflação sinalizam que a normalização do perfil de consumo, que beneficia o setor de serviços, tende a sustentar a inflação de Serviços (0,8% m/m) em um patamar elevado nas próximas leituras, à medida em que os custos dos aumentos salariais são repassados ao consumidor final. Ademais, as medidas de inflação Residencial seguem significativamente elevadas e sem dar sinais de arrefecimento, sinalizando que o núcleo também deve permanecer bastante pressionado nas próximas leituras.
Nossa avaliação é que diante do atual contexto de um mercado de trabalho apertado e de pressões inflacionárias disseminadas pela economia americana, o Banco Central (Fed) deverá manter a postura firme de combate ao elevado nível de preços. Dessa forma, dado o conjunto informacional observado e a perspectiva de manutenção das pressões inflacionárias ao longo de 2022, acreditamos que o Fed irá aumentar a taxa de juros americana em 75 bps nas próximas duas reuniões que ocorrerão em 2022. Nesse contexto, projetamos uma Fed Fund rate de 4,75% ao final de 2022, por conta da necessidade de um rápido ajuste de política monetária. Entretanto, por conta do elevado grau de incerteza e dos sinais que apontam para um diagnóstico de uma inflação cada vez mais enraizada na economia americana, acreditamos que o ano de 2023 será marcado por novas altas na taxa básica de juros até atingir o pico em 5,5%.