O Banco Central americano (Fed) decidiu, de forma unânime, elevar a taxa básica de juros americana em 0,50 p.p., reduzindo o ritmo de aperto monetário em relação as reuniões anteriores, nas quais o Fed deu 75 bps de aumento por quatro vezes consecutivas. Essa redução no ritmo de alta de juros por parte do Fed já vinha sendo esperada pelo mercado há algum tempo e foi respaldada pelo amplo conjunto de dados divulgados no período entre a última reunião do FOMC (02/11) e essa de agora. O movimento dessa reunião de dezembro reforça o comprometimento do Comitê de política monetária em garantir a convergência da inflação para a meta de 2,0%.
Segundo o comunicado, embora indicadores recentes que medem gastos com consumo e produção tenham apresentado um desempenho modesto nos últimos meses, o mercado de trabalho segue aquecido diante de um ritmo robusto de criação de vagas de emprego e da manutenção da taxa de desemprego em um baixo patamar (3,7%). Por sua vez, a inflação segue elevada, refletindo os impactos do descasamento entre oferta e demanda, relacionado aos gargalos gerados durante a pandemia, e da disseminação das pressões inflacionárias na economia, sobretudo nos componentes mais inerciais que compõem o núcleo da inflação americana.
A única alteração feita nesse comunicado em relação ao anterior (novembro) foi na parte do conflito envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Foi mantido o trecho no qual destaca-se que a guerra está causando um enorme prejuízo social e econômico, e alterada a parte que diz que o conflito e os eventos relacionados estão criando pressões altistas adicionais sobre a inflação e estão pesando sobre o nível de atividade econômica global. Agora o comunicado passa a dizer apenas que a guerra e os seus desdobramentos estão contribuindo para gerar pressões altistas na inflação. Nesse contexto, o Comitê ressalta novamente que segue atento aos riscos inflacionários.
Como forma de atingir a meta de pleno emprego e estabilidade de preços, com uma taxa de inflação de 2,0% no longo prazo, o comitê decidiu, de maneira unânime, elevar o intervalo da taxa básica de juros (fed funds rate) para faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano. Além disso, antecipou que novas altas de juros são apropriadas para garantir que o mandato dual do Fed (meta de emprego e inflação) seja alcançado. Ademais, o Comitê optou por manter o ritmo de redução do balanço de ativos conforme os termos definidos na reunião de maio.
Por fim, o comunicado reforçou que o comitê seguirá monitorando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a direção da política monetária no caso do surgimento de riscos que possam impedir o comitê de atingir suas metas. Nesse sentido, serão levadas em consideração as informações sobre saúde pública, mercado de trabalho, inflação, expectativas de inflação, pressões inflacionárias, e dos desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Durante a coletiva de imprensa, o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, reforçou que o comitê segue estritamente comprometido em garantir a estabilidade de preços, sinalizando que este é um alicerce da economia americana. O adiamento do combate inflacionário resultaria em maiores custos para sociedade que vem sofrendo com a deterioração do poder de compra. Sinalizou que, embora a economia tenha desacelerado na margem, o mercado de trabalho segue bastante aquecido, com um número total de vagas de emprego abertas maior do que o de trabalhadores disponíveis. Adicionalmente, destacou que as pressões inflacionárias são bastante disseminadas na economia americana, fazendo com que a sua convergência para a meta exija a manutenção da fed funds rate em território contracionista até que claros sinais de desinflação possam ser observados na economia. Segundo Powell, este cenário será alcançado através de uma desaceleração econômica (crescimento abaixo da tendência de longo prazo) e do desaquecimento do mercado de trabalho – através de um recuo do número de vagas abertas.
Ademais, reforçou que a redução do ritmo de alta de juros (de 75 bps nas quatro reuniões anteriores para 50 bps agora em dezembro) ainda representa uma elevação grande para padrões históricos, e que decisões futuras serão tomadas reunião a reunião, dependendo dos dados divulgados até então. Quando perguntado sobre o mercado de trabalho, Powell disse que a grande maioria das firmas (com exceção apenas para as de tecnologia) tem procurado ao máximo reter a mão de obra devido a dificuldades que muitas delas vem encontrando para contratar e reter trabalhadores.
A avaliação dos participantes do FOMC sobre a condução apropriada da política monetária sugere que ainda deve haver novos aumentos na fed funds rate que adicionem 75 bps a mais de alta na taxa de juros, levando a taxa terminal para o intervalo entre 5,0% e 5,25% a.a. Contudo, dada a incerteza que cerca o processo de desinflação nos EUA, a trajetória para se chegar a essa taxa de juros terminal esperada pelos membros do FOMC ainda é desconhecida, podendo se dar através de uma alta de 50 bps na reunião de fevereiro e 25 bps na de março, ou então de três altas de 25 bps seguidas.
O gráfico de pontos sugere que a diretoria revisou significativamente para cima as suas projeções de taxa de juros desde a reunião de setembro. Para 2023, 17 dos 19 membros do Comitê projetam uma taxa de juros acima de 5,0%, valor superior ao teto das projeções do último gráfico de pontos que era de 4,875%. Mas o que mais chamou a atenção nessas novas previsões dos membros do FOMC para a política monetária foi a dispersão das estimativas para a fed funds rate nos anos de 2024 e 2025. Isso mostra como o processo de desinflação nos Estados Unidos está coberto de incertezas, deixando a trajetória de médio prazo da taxa de juros da principal economia do mundo ainda desconhecida. Para ilustrar esse ponto, a estimativa mais baixa para 2024 é de 3,125%, enquanto a mais alta é de 5,625%. Já para 2025 a amplitude é ainda maior, com a mínima sendo de 2,375% e a máxima de 5,625%.
No que diz respeito à tabela de projeções, o destaque vai para a significativa revisão baixista da taxa de crescimento para o ano de 2023, que saiu de 1,2% em setembro para 0,5% agora em dezembro. Além disso, a taxa para 2024 também sofreu revisão baixista na margem, saindo de 1,7% para 1,6%, sinalizando que o Comitê acredita que o atual ciclo de aperto monetário fará com que a economia americana cresça abaixo da taxa de longo prazo (1,8%). Além disso, apontou que a taxa de desemprego ficará acima do nível de longo prazo (4,0%) durante todo o horizonte analisado que vai até 2025. Já a taxa de juros vai encerrar 2022 em 4,375% conforme o previsto em setembro, mas sofreu revisão altista para 2023 (de 4,625% para 5,125%), 2024 (de 3,875% para 4,125%) e 2025 (2,875% para 3,125%), ficando acima da taxa neutra de (2,5%) durante todo esse horizonte. Sob este arcabouço, o Fed acredita que será possível desacelerar a taxa de inflação (PCE) de 5,6% em 2022 para 2,1% em 2025, enquanto o seu núcleo desacelerará de 4,8% para 2,1% no mesmo período, levemente acima da meta de estabilidade de longo prazo de 2,0%.