O banco central norte-americano (Fed) decidiu, de forma unânime, elevar a taxa básica de juros em 25 pontos-base, reduzindo mais uma vez o ritmo de aperto monetário em relação à reunião anterior (dez/22), na qual o Fed deu 50 pontos-base de aumento. Essa redução no ritmo de alta de juros por parte do Fed já vinha sendo esperada pelo mercado há algum tempo e foi respaldada pelo amplo conjunto de dados divulgados no período. A autoridade monetária aproveitou o comunicado para reforçar os seus objetivos de longo prazo e o comprometimento de garantir a convergência da inflação para a meta de 2,0% ao ano.
Segundo o comunicado, embora indicadores recentes que medem gastos com consumo e produção tenham apresentado um desempenho modesto nos últimos meses, o mercado de trabalho segue aquecido diante de um ritmo robusto de criação de vagas de emprego e da manutenção da taxa de desemprego em um patamar baixo (3,5%). O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) reconhece que a inflação arrefeceu um pouco, mas que ainda permanece elevada. Até agora, o alívio inflacionário nos EUA ficou mais concentrado em alimentação e energia devido ao recuo nos preços das commodities nos dois últimos meses de 2022 e em bens (principalmente duráveis) graças ao recuo da demanda e do fim das restrições de oferta. Entretanto, a maior inércia apresentada pela inflação subjacente vem dificultando o processo de convergência da inflação cheia para a meta.
Da parte envolvendo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, foi retirado o trecho que dizia que o conflito e os seus desdobramentos estavam criando pressões altistas sobre a inflação e pesando sobre o nível de atividade econômica global. Isso ocorreu, pois o cenário econômico global tem surpreendido positivamente, tanto em termos de atividade como em termos de inflação. Um inverno mais ameno do que o esperado no hemisfério norte permitiu que o estoque de gás natural dos países europeus fosse suficiente e não pressionasse os preços, aliviando a inflação e não exigindo racionamentos de energia que certamente penalizariam a atividade econômica. Agora, o comunicado passa a dizer apenas que a guerra está contribuindo para elevar a incerteza global, voltando a enfatizar que segue atento aos riscos inflacionários.
O Comitê antecipou que novas altas de juros são apropriadas para garantir que o mandato dual do Fed (meta de emprego e inflação) seja alcançado. Ademais, o FOMC optou por manter o ritmo de redução do balanço de ativos conforme os seus planos previamente anunciados em meados de 2022. Uma mudança importante foi a fixação das novas altas de juros no patamar de 25 pontos-base, com a discussão deixando de ser sobre a magnitude e passando a ser sobre o número de altas como essa que ainda serão necessárias até eventualmente chegar o momento de se encerrar o ciclo.
O comunicado também reforçou que o Comitê seguirá monitorando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a direção da política monetária no caso do surgimento de riscos que possam impedir o Comitê de atingir suas metas. Nesse sentido, serão levadas em consideração as informações sobre mercado de trabalho, pressões inflacionárias, expectativas de inflação e os desenvolvimentos financeiros e internacionais. Os dados de saúde pública foram retirados do conjunto de informação que o Fed leva em consideração ao formular a política monetária. Mesmo com a saída abruta da China da sua política de “covid-zero” e com a consequente disparada de casos da doença fazendo muitos países ocidentais exigirem testes negativos de covid para os cidadãos chineses entrarem nesses países, o efeito disso deixou de configurar um risco a atividade econômica.
Por fim, vale destacar a mudança na composição do Comitê. Dos 12 participantes com direito a voto no FOMC, 8 tem assento permanente (7 membros do conselho do Fed e o presidente regional do Fed de Nova Iorque), enquanto os 4 restantes se alternam entre os 11 presidentes regionais do Fed. Da reunião de dezembro passado para essa agora de fevereiro foram substituídos os 4 membros com mandato rotativo, com 3 membros de viés mais “hawkish” (James Bullard do Fed de St. Louis, Esther George do Fed de Kansas City e Loretta Master do Fed de Cleveland) dando lugar a 3 membros de viés mais “dovish” (Patrick Harker do Fed da Filadélfia, Lorie Logan do Fed de Dallas e Austan Goolsbee do Fed de Chicago). Essas substituições reforçam a ala “dovish” dentro do FOMC, sendo uma questão que pode ter alguma influência sobre a condução da política monetária no final desse ano, período no qual alguns participantes de mercado esperam que ocorra os primeiros cortes na taxa de juros (fed funds rate).
Durante a coletiva de imprensa, o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, admitiu que a inflação deu sinais de melhora, mas que estes estão mais concentrados nos itens voláteis e em bens. Powell sinalizou que gostaria de ver o processo de desinflação alcançar a métrica do setor de serviços ex-habitação, que representa mais da metade do núcleo de inflação e que ainda não apresentou arrefecimento de preços. Ele também destacou que os governos estaduais e locais estão com uma boa saúde financeira, com os gastos em alta e com alguns desses entes federativos considerando até cortes de impostos.