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Publicado em 27 de Julho às 09:02:19

FOMC (jul/23): Fed eleva taxa de juros em 25bps e deixa porta aberta para uma alta adicional

O banco central norte-americano (Fed) decidiu, de forma unânime, elevar a taxa de juros (fed funds rate) em 25 pontos-base, atingindo a faixa entre 5,25% e 5,50% a.a. O Fed ainda elevou taxa de juros paga sobre saldo de reserva para 5,4% e a taxa de desconto em 25 pontos-base, para 5,50% ao ano. A autoridade monetária voltou a subir juros depois de optar por uma pausa estratégica em junho.

O comunicado sofreu apenas mudanças pontuais. No tocante a atividade econômica, foi reforçado que a expansão está se dando num ritmo moderado, conforme indicado pela divulgação de alguns indicadores recentes, com o Fed reconhecendo a desaceleração recente da economia norte-americana. Adicionalmente, foi destacado que as próximas decisões de política monetária serão tomadas reunião a reunião, levando em conta um amplo conjunto de dados (mercado de trabalho, pressão inflacionária e expectativas) e o efeito cumulativo do aperto já empreendido.

Durante a coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que a inflação continua elevada, em patamar inconsistente com a meta de 2,0%, mas que já apresentou uma melhora em relação aos níveis de meados do ano passado. Ele também ressaltou que ainda há um longo caminho a ser percorrido pela inflação, principalmente a nuclear, apesar da taxa de juros já se encontrar em patamar restritivo depois de um aperto monetário de 525 pontos-base empreendido até agora neste ciclo. Vale destacar que esse aperto já vem pesando sobre alguns setores, como o imobiliário. No tocante ao setor bancário, Powell fez questão de destacar que segue o Fed segue acompanhando-o de perto apesar do maior grau de normalidade com que o setor já vem operando recentemente.

Este ciclo de aperto monetário também já começou a pesar sobre o mercado de trabalho, que não está apresentando o mesmo ritmo de criação de vagas visto no início do ano, mas que ainda está forte (média mensal acima de 200 mil vagas). A moderação pelo lado da demanda por trabalhadores vem se juntando a um aumento da oferta de trabalho, através do aumento da taxa de participação “prime-age” (trabalhadores entre 25 e 54 anos de idade), o que vem levando a uma situação de melhor equilíbrio no mercado de trabalho. Já o aperto no crédito, por sua vez, deve ter um efeito significativo sobre a atividade, a geração de vagas de emprego e a inflação. Porém isso não deve mais acarretar numa recessão econômica neste ano de acordo com os membros Fed, com o caminho para atingir o tão almejado “pouso suave” da economia voltando agora a ficar um pouco mais claro.

Olhando à frente, Powell fez questão de destacar que nenhuma decisão prévia foi tomada a respeito das próximas reuniões, dizendo explicitamente que não é do interesse do Fed fornecer “forward guidance” no momento atual devido à alta incerteza. Sendo assim, uma eventual elevação de juros em setembro continua no radar, assim como a manutenção da fed funds rate no patamar atual. Ao mencionar o último CPI relativo ao mês de junho, que surpreendeu para baixo, o presidente do Fed fez questão de ponderar que esse foi apenas uma única observação e que precisa ver uma maior quantidade de dados promissores dos índices de preços, embora tenha reconhecido que o Comitê espera que a inflação americana siga, de agora em diante, esse ritmo mais moderado do último CPI. Esse ponto, caso de fato expresse uma visão mais disseminada dos diretores do Fed, pode apontar para o fato de que uma alta adicional de juros possa não mais estar sendo vista como necessária para garantir a convergência da inflação para a meta. Uma outra possibilidade também é o Fed repetir nas reuniões de setembro e novembro o mesmo padrão adotado em junho e julho, quando optou por pular uma reunião, adotando uma pausa seguida de uma elevação de 25 pontos-base na taxa de juros. Entretanto, vale ressaltar que essa estratégia não se daria sem custos, uma vez que estudos apontam que alcançar mais rapidamente um patamar mais elevado de taxa de juros obtém melhores resultados do que retardar esse processo ao empreender altas de juros de menor magnitude e mais espaçadas no tempo. O Fed, ao permitir uma inflação alta por mais tempo, corre o risco de ter a sua credibilidade arranhada pelo fato de o mercado interpretar que o Banco Central optou por atrasar e prolongar o ciclo de alta.

Por fim, o núcleo de inflação, que segue elevado, exigirá um período de crescimento econômico abaixo do potencial para garantir a sua convergência para a meta, continuando a demandar juros em patamar restritivo por algum tempo. Uma vez alcançada a taxa terminal ao final desse ciclo, a política monetária teria que permanecer em patamar restritivo por algum tempo, com possíveis quedas de juros só vindo a ocorrer no segundo semestre do ano que vem. Quando eventualmente tiverem início, as quedas de juros poderiam coexistir com a continuidade da redução do estoque de títulos na carteira do Fed (quantitative tightening). Apesar da decisão recente da Rússia de se retirar do acordo de exportação de grãos com a Ucrânia, o que pode se transformar num novo foco de estrangulamento das cadeias globais de suprimentos e voltar a pressionar itens voláteis (commodities alimentícias e energéticas) que já haviam passado pelo processo de desinflação, Powell afirmou que isso não deve ter um impacto relevante sobre a inflação norte-americana.

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