O Banco Central americano (Fed), decidiu elevar a taxa básica de juros americana (Fed Funds Rate) em 0,75 p.p., o aumento mais elevado desde 1994. Houve um voto dissidente, Esther L. George, que defendeu uma alta menos agressiva de 0,5 p.p. O Fed avalia a decisão como a mais adequada com o seu compromisso de estabilidade de preços e pleno emprego no longo prazo. Nesse contexto, o Banco Central antevê novos aumentos na taxa de juros para as próximas reuniões como forma de atingir os seus objetivos. Além disso, o comitê optou por manter o ritmo de redução do balanço de ativos conforme os termos definidos na reunião de maio.
Segundo o comunicado, a economia americana aparenta ter se recuperado da contração observada no primeiro trimestre de 2022. O mercado de trabalho permaneceu robusto nos últimos meses, visto que a taxa de desemprego ficou estabilizada próxima do nível de pleno emprego. Em contrapartida, a inflação segue bastante elevada, refletindo os descasamentos entre oferta e demanda relacionados à pandemia e da disseminação das altas de preços na economia, sobretudo, da energia.
Ressaltou-se que a invasão da Ucrânia por parte da Rússia é responsável por um enorme prejuízo social e econômico. A invasão e os eventos relacionados estão criando pressões altistas adicionais sobre a inflação e estão pesando sobre o nível de atividade econômica global. Ademais, a política zero-Covid na China a adoção de lockdowns como medida de combate a transmissão do vírus devem exacerbar as disrupções nas cadeias globais de suprimentos. Nesse contexto, o comitê segue atento ao balanço de riscos inflacionários que segue assimétrico para cima.
Como forma de atingir a meta de plena emprego e estabilidade de preços com uma taxa inflação de 2% no longo prazo, o comitê decidiu, com um voto dissidente (Esther L. George), elevar o intervalo da taxa básica de juros (Fed Funds rate) para faixa entre 1,5% e 1,75% ao ano. Ademais, o comitê estabeleceu que manterá a redução do balanço de ativos do Fed, iniciada no dia 1 de junho, em um montante de US$ 47,5 bilhões que deverá ser elevado após 3 meses para US$ 95 bilhões.
Durante a coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, ressaltou a preocupação do comitê com o elevado nível inflacionário e reconheceu os desafios que o elevado nível inflacionário vem impondo sobre a população americana. Reforçou-se o comprometimento do comitê em restaurar a estabilidade de preços da economia, agindo de maneira rápida de acordo com dados econômicos, que apontam para um mercado de trabalho extremamente apertado e um nível inflacionário significativamente elevado. Além disso, houve deterioração das expectativas de inflação que se elevaram notavelmente desde a última reunião do comitê. Como resposta a estes desenvolvimentos, o comitê julgou ser necessário um aumento de 0,75 p.p. na taxa de juros americana, em linha com o comprometimento do Fed de ancorar as expectativas de inflação de longo prazo em 2%.
Entretanto, o ritmo dos futuros aumentos dependerá das próximas leituras dos dados e dos desenvolvimentos do cenário econômico. Destacou-se que o comitê espera que o atual aumento de 0,75 p.p., reflexo da deterioração tanto da inflação quanto das suas expectativas para horizontes mais longos, não se torne o ritmo padrão das próximas reuniões por ser incomumente alto. Entretanto, acredita que sob as perspectivas de hoje, tanto um aumento de 0,5 p.p. quanto de 0,75 p.p. são as opções mais prováveis a serem discutidas na próxima reunião (julho), refletindo o balanço de riscos altista para a dinâmica de preços americana. Por fim, pela primeira vez, foi mencionada a necessidade de que a política monetária avance em território contracionista como resposta à deterioração das expectativas de inflação e para promover a estabilidade de preços no longo prazo.
O comunicado reforçou que o comitê seguirá monitorando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a direção da política monetária no caso do surgimento de riscos que possam impedir o comitê de atingir suas metas. Nesse sentido, serão levadas em consideração as informações sobre saúde pública, mercado de trabalho, inflação, expectativas de inflação, pressões inflacionárias, e dos desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Em relação às perspectivas de política monetária, o gráfico de pontos sinalizou que todos os dirigentes projetam que a taxa de juros ficará acima de 3,0% ao final de 2022, ante 1 diretor na reunião de março. A maioria dos diretores projeta que a taxa de juros ficará entre 3,25% e 3,75%. Para 2022 e 2023, todos os dirigentes projetam uma taxa de juros acima de 2%, dos quais 5 projetam taxas superiores a 4,0% ao final do ano que vem.
O Fed reduziu a projeção de crescimento do PIB para todos os anos. Para 2022, houve redução de 1,1 p.p. na projeção do comitê que aguarda por um crescimento de 1,7%. Para 2023 e 2024, as projeções apontam para crescimento 1,7% e 1,9% (recuos de 0,5 p.p. e 0,1 p.p., respectivamente).
Já as projeções para a taxa de desemprego foram elevadas para todos os anos. Para 2022 a taxa de desemprego foi revisada para 3,7%, ante 3,5%. Para 2023 e 2024, foram acrescentados 0,4 p.p. e 0,5 p.p., de modo que, as projeções ficaram em 3,9% e 4,1%, respectivamente.
Para a inflação, as revisões foram mistas. Para 2022, passou de 4,3% para 5,2%. Em contrapartida, para os anos de 2023 e 2024 as revisões foram baixistas. Para ambos os anos houve queda de 0,1 p.p., de modo que, as projeções passaram para 2,6% e 2,2%, respectivamente. Já a projeção de longo prazo ficou estável em 2,0%.
Por fim, as projeções para a taxa básica de juros foram elevadas para todos os anos. Para 2022, passou de 1,9% para 3,4%; de 2023 passou de 2,8% para 3,8%; e para 2024 passou de 2,8% para 3,4%. Além disso, a mediana das projeções de longo prazo também apresentou leve aumento ao passar de 2,4% para 2,5%.