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Publicado em 03 de Maio às 19:10:18

FOMC (mai/23): Fed sobe juros em 25 pontos-base e sinaliza possível fim do ciclo de alta

O banco central norte-americano (Fed) decidiu novamente por elevar a taxa de juros em 25 pontos-base. Assim como na reunião de março, essa decisão foi precedida por turbulências no setor bancário que coincidiram com o período de silêncio do Fed, o que torna mais opaca a forma como se deu o processo de tomada de decisão da autoridade monetária. O comunicado optou por retirar o trecho que sinalizava mais altas de juros à frente, sinalizando um possível fim ao ciclo atual. A continuidade dos desdobramentos referentes ao sistema bancário impõe uma realidade na qual a taxa de juros não poderá subir tanto quanto subiria num cenário contrafactual de não ocorrência de uma crise bancária. Não obstante, o Fed não descartou por completo novas altas na fed funds rate e segue avaliando se os juros, após essa alta de maio, já se encontram em um patamar suficientemente restritivo para combater a inflação e assegurar a sua convergência para a meta de 2,0% ao ano. A autoridade monetária também aproveitou para reforçar o atual nível da meta, apesar de os seus membros terem reconhecido que levará um tempo para se ter um processo de desinflação mais amplo, o que retardará o seu atingimento. Sob essa lógica, o presidente do Fed, Jerome Powell, foi de encontro as expectativas do mercado de que a taxa de juros cairia já no segundo semestre do ano, manifestando que sob as perspectivas de inflação dos membros do Fed esse espaço para cortes não existe.

No tocante a atividade econômica, o comunicado reforçou que ela se expandiu a um ritmo modesto, conforme visto na divulgação do PIB do 1º trimestre. Já o ritmo de criação de vagas de trabalho permaneceu robusto e a taxa de desemprego baixa. O Comitê também reconheceu que a inflação permanece elevada, mas que segue muito atento aos riscos inflacionários.

O parágrafo referente ao setor bancário reforçou a mensagem de que o sistema bancário é sólido e resiliente, mas admitiu que muito provavelmente as condições de crédito mais apertadas devem pesar sobre diversas variáveis econômicas. Nesse cenário de incerteza elevada, o FOMC acompanhará de perto as novas informações e analisará os impactos sobre a política monetária.

Na mudança mais relevante realizada no comunicado, o Comitê deixou de sinalizar novas altas de juros à frente. Além disso, o FOMC optou por manter o ritmo de redução do balanço de ativos conforme os seus planos previamente anunciados. Esse ponto permanece sendo crucial pois essa é uma medida de aperto monetário e que vai se somar ao arrocho nas condições de crédito. Apesar do aumento recente no balanço do Fed ter sido interrompido e já ter retornado à tendência de queda anterior, esse movimento não se deveu a interrupção do “quantitative tightening” (QT) via uma pausa na redução do estoque de títulos (U.S. Treasuries e MBS), e sim via programas de empréstimos e operações de redesconto do Fed que devem continuar à medida que a crise bancária apresenta novos desdobramentos. Soma-se a isso o fato de que como agora a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) controla o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, e eles possuem em carteira muitos títulos do Tesouro Americano (US Treasuries) e hipotecários (MBS) similares aos que o Fed está se desfazendo, a pressão baixista sobre os preços desses títulos deve se intensificar. O excesso de oferta desses títulos vem justamente num período de baixa demanda e reforçaria um dos fatores que levou a corrida bancária no SVB, que foi justamente a perda realizada em títulos do Tesouro de longo prazo devido ao processo de alta de juros e da necessidade de ter em caixa recursos disponíveis suficientes para fazer frente aos saques. A não estabilização no volume total de depósitos dos bancos comerciais exibe bem esse fato, ocorrendo uma migração dos bancos regionais para os grandes bancos à medida que os depositantes buscam maior segurança.

O comunicado também reforçou que o Comitê seguirá monitorando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a direção da política monetária no caso do surgimento de riscos que possam impedir o Comitê de atingir suas metas. Nesse sentido, serão levadas em consideração as informações sobre mercado de trabalho, pressões inflacionárias, expectativas de inflação e os desenvolvimentos financeiros e internacionais.

Durante a coletiva de imprensa, Jerome Powell admitiu que o risco de não pagamento da dívida norte-americana chegou a ser debatido, mas não desempenhou um papel relevante na decisão de juros dessa reunião. Ele também fez questão de reforçar que o Fed não poderia proteger a economia americana num cenário adverso de um eventual default. De modo geral o Fed foi bem ao maximizar a sua flexibilidade, aumentando os seus graus de liberdade da política monetária, sinalizando o possível fim desse ciclo de alta de juros ao mesmo tempo em que não fechou a porta para novos aumentos na taxa. Embora os desequilíbrios entre a oferta e a demanda no mercado de trabalho tenham diminuído, este ainda segue muito apertado. A última divulgação da criação de emprego no setor privado (ADP), que é vista como uma prévia do payroll, referente ao mês de abril surpreendeu muito para cima, com a geração de 296 mil postos quando as expectativas apontavam para apenas 150 mil (Bloomberg). Por sua vez, os salários do setor privado tiveram expansão média anual de 6,7% no mês. Embora tenham desacelerado frente aos 6,9% registrados em março, esses patamares ainda não são consistentes com a meta de inflação de 2,0% ao ano. Visto isso, o Fed ainda pode ter de realizar novas altas de 25 pontos-base na taxa de juros nas reuniões de junho em diante. Num cenário como esse, uma nova deterioração da situação bancária poderia até impedir uma alta de juros numa reunião específica, mas o único efeito seria o de postergar o movimento de alta do Fed para uma reunião futura, visto que a autarquia já evidenciou que a sua prioridade é o combate à inflação.

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