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Publicado em 22 de Março às 19:55:09

FOMC (mar/23): Fed sobe juros em 25 pontos-base e não se compromete para reuniões futuras

O banco central norte-americano (Fed) decidiu elevar a taxa básica de juros em 25 pontos-base. Essa foi uma decisão excepcionalmente difícil em vista de todo o ocorrido recentemente no setor bancário, com a quebra de três bancos nos EUA. O presidente do banco central norte-americano (Fed), Jerome Powell, admitiu que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) chegou a discutir a possibilidade de interromper o ciclo de alta de juros, mas, levando em consideração um conjunto de dados mais amplo, o Fed tomou a decisão correta em vista de surpresas altistas nas divulgações das estatísticas mais recentes de emprego e inflação. A autoridade monetária também aproveitou o comunicado para reforçar os seus objetivos de longo prazo e o comprometimento de garantir a convergência da inflação para a meta de 2,0% ao ano.

Segundo o comunicado, embora indicadores recentes que medem gastos com consumo e produção tenham apresentado um desempenho modesto nos últimos meses, o ritmo de criação de vagas de trabalho acelerou e a taxa de desemprego, ainda que tenha aumentado em 0,1 p.p., permaneceu em um patamar baixo (3,6%). O Comitê também reconheceu que a inflação permanece elevada, mas que segue muito atento aos riscos inflacionários.

O parágrafo que fazia menção a guerra entre a Rússia e a Ucrânia foi substituído por um referente apenas ao setor bancário. O Comitê reforçou que o sistema bancário norte-americano é sólido e resiliente, mas ao mesmo tempo admitiu que os eventos recentes devem causar um aperto nas condições de crédito, com impactos negativos e de magnitude ainda incerta sobre as métricas de emprego, inflação e atividade. Nesse cenário de incerteza elevada, o FOMC acompanhará de perto as novas informações e analisará os impactos sobre a política monetária.

No trecho que foi interpretado como o mais “dovish” do comunicado, o Comitê deixou de se comprometer com novas altas de juros e passou a indicar apenas que alguma política de aperto monetário seria apropriada para garantir que o mandato do Fed seja alcançado. Ademais, o FOMC optou por manter o ritmo de redução do balanço de ativos conforme os seus planos previamente anunciados. Esse é um ponto importante pois essa é uma medida de aperto monetário e que vai se somar ao arrocho nas condições de crédito. O aumento recente visto no balanço do Fed não se deve a interrupção do “quantitative tightening” (QT) via uma pausa na redução do estoque de títulos (U.S. Treasuries e MBS), e sim via programas de empréstimos e operações de redesconto do Fed. Soma-se a isso o fato de que como agora a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) controla o Silicon Valley Bank (SVB), e este possui em carteira muitos títulos do Tesouro Americano (US Treasuries) e hipotecários (MBS) similares aos que o Fed está se desfazendo, a pressão baixista sobre os preços desses títulos deve se intensificar. O excesso de oferta desses títulos viria justamente num período de baixa demanda e reforçaria um dos fatores que levou a corrida bancária no SVB, que foi justamente a perda realizada em títulos do Tesouro de longo prazo devido ao processo de alta de juros e da necessidade de ter em caixa recursos disponíveis suficientes para fazer frente aos saques.

O comunicado também reforçou que o Comitê seguirá monitorando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a direção da política monetária no caso do surgimento de riscos que possam impedir o Comitê de atingir suas metas. Nesse sentido, serão levadas em consideração as informações sobre mercado de trabalho, pressões inflacionárias, expectativas de inflação e os desenvolvimentos financeiros e internacionais.

Durante a coletiva de imprensa, Jerome Powell admitiu que o caminho para o tão desejado “pouso suave” da economia americana ainda existe, a despeito das condições financeiras atuais muito provavelmente se encontrarem mais apertadas do que as métricas indicam. Powell também reforçou que gostaria de ver o processo de desinflação alcançar a métrica de serviços ex-aluguéis, que representa mais da metade do núcleo de inflação (cerca de 56%) e que ainda não apresentou arrefecimento de preços.

A avaliação dos participantes do FOMC sobre a condução apropriada da política monetária sugere que ainda deve haver pelo menos um aumento adicional de 25 pontos-base na fed funds rate, levando a taxa terminal para o intervalo entre 5,0% e 5,25% a.a. Contudo, dada a incerteza que cerca o processo de desinflação nos EUA e mais recentemente os riscos de uma crise bancária global, a taxa de juros terminal esperada pelos membros do FOMC ainda é desconhecida.

O gráfico de pontos (“dot plot”) sugere que a diretoria não revisou significativamente as suas projeções de taxa de juros desde a reunião de dezembro, com a eclosão da crise bancária sendo tão recente que só pode ser incorporada apenas parcialmente nas projeções. Para 2023, a mediana das projeções se encontra em 5,125%. Fato que continuou chamando atenção foi que as estimativas dos membros do FOMC para a política monetária permaneceram com uma variância elevada para os anos de 2024 e 2025. Isso mostra como o processo de desinflação nos Estados Unidos está coberto de incertezas, deixando a trajetória de médio prazo da taxa de juros da principal economia do mundo ainda desconhecida. Para ilustrar esse ponto, a estimativa mais baixa para 2024 é de 3,375%, enquanto a mais alta é de 5,625%. Já para 2025 a amplitude é ainda maior, com a mínima sendo de 2,375% e a máxima de 5,625%.

No que diz respeito à tabela de projeções, houve revisão baixista da taxa de crescimento para os anos de 2023 e 2024, saindo de 0,5% e 1,6% para 0,4% e 1,2%, respectivamente. Essas revisões sinalizam que o Comitê acredita que o atual ciclo de aperto monetário fará com que a economia americana cresça abaixo da taxa de longo prazo (1,8%) até 2025, quando o PIB deve se expandir 1,9%. Além disso, apontou que a taxa de desemprego ficará acima do nível de longo prazo e da taxa de desemprego natural (4,0%) durante todo o horizonte analisado que vai até 2025. Já a taxa de juros deve encerrar 2023 em 5,125% conforme o previsto em dezembro, mas sofreu revisão altista para 2024 (de 4,125% para 4,250%) e permaneceu inalterada para 2025 (3,125%), ficando acima da taxa neutra (2,5%) durante todo esse horizonte. Sob este arcabouço, o Fed acredita que será possível desacelerar a taxa de inflação (PCE) de 3,3% nesse ano para 2,1% em 2025, enquanto o seu núcleo desacelerará de 3,6% para 2,1% no mesmo período, levemente acima da meta de estabilidade de longo prazo de 2,0%.

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