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Publicado em 20 de Março às 22:24:59

FOMC (mar/24): Fed projeta 75 pontos-base de juros em 2024 e menos reduções em 2025 e 2026

O Banco Central norte-americano (Fed) decidiu, de forma unânime, manter a taxa de juros (Fed Funds Rate) no intervalo entre 5,25% e 5,50% a.a. O Fed também manteve a taxa de juros paga sobre o saldo de reserva em 5,4% e a taxa de desconto em 5,5% ao ano. A autoridade monetária voltou a manter a taxa de juros inalterada e indicou que deve ser apropriado iniciar o ciclo de corte de juros em algum momento nesse ano, mas sem fazer menção a algum mês específico. Diferentemente da reunião passada (jan/24), quando o comunicado trouxe muitas mudanças em relação ao comunicado anterior, o documento referente de março trouxe apenas uma única alteração referente ao mercado de trabalho. A parte que dizia que a geração de vagas de trabalho apresentou uma moderação desde o início do ano passado foi retirada, permanecendo o trecho que diz que a criação de postos permanece forte.

Durante a coletiva de imprensa que sucedeu a divulgação do comunicado, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que mais dados ainda são necessários para a autoridade monetária concluir se as leituras piores de inflação dos meses de janeiro e fevereiro representam um “soluço” natural do processo desinflacionário, ou se esses dados são o início de um movimento de reaceleração da inflação. Vale destacar que o índice de preços ao produtor (PPI) de fevereiro, além de vir bem acima do esperado, mostrou uma composição que é desfavorável para o índice de preços de gastos com consumo (PCE), métrica de inflação que, além de ser a favorita do Fed, vinha tendo um comportamento mais benigno do que o do índice de preços ao consumidor (CPI) nos últimos meses.

Na coletiva também foi destacado o momento singular (“two-sided risk”) no qual o Fed se encontra agora, o que dificulta a tomada de decisão acerca da política monetária. De um lado, há o risco de o Fed atrasar demais o início do ciclo de afrouxamento monetário, pesando negativamente sobre a atividade econômica e o emprego. Por outro, há o risco de um início prematuro do ciclo de cortes, que pode alimentar as pressões inflacionárias ainda existentes, voltando a alimentar o processo de alta dos preços. A maior dificuldade do Fed no momento consiste em calibrar a política monetária a esses dois riscos.

Na discussão envolvendo o balanço do Fed, Powell reforçou que a meta de longo prazo é que ele seja composto apenas de treasuries (títulos do governo norte-americano), não possuindo mais MBS (títulos garantidos por hipotecas). No intuito de evitar turbulências de mercado, principalmente no que diz respeito a demanda por reservas, o Fed pretende desacelerar o ritmo de redução do seu balanço “razoavelmente em breve”. A avaliação constante das condições do mercado monetário é crucial para evitar que se repita o ocorrido em 2019, quando a redução excessiva da liquidez por conta da redução da carteira de títulos no balanço do Fed forçou a autarquia a voltar a injetar dinheiro do mercado de acordos de recompra (repo).

Diferentemente do início desse ciclo em 2022, quando o Fed interrompeu o “quantitative easing” (QE) antes de dar início ao movimento de alta de juros, o “quantitative tightening” (QT), ainda que reduzido, deve coexistir com o começo do processo de corte de juros. Pela percepção de que o Fed estava “atrás da curva” quando iniciou o processo de alta de juros, não fazia sentido ter dois instrumentos da política monetária agindo em direções contrárias (com o QE afrouxando e a alta de juros apertando as condições financeiras). Já agora, com as expectativas de inflação ainda desancoradas e com a inflação corrente ainda rodando em patamar acima da meta de 2,0%, é mais prudente iniciar o ciclo de corte de juros com a manutenção de uma medida (QT) que não permita que as condições financeiras afrouxem demais.

Já no que diz respeito à tabela de projeções, houve revisão altista significativa da taxa de crescimento do PIB para 2024 (de 1,4% para 2,1%), assim como para os anos de 2025 e 2026, de 1,8% e 1,9% para 2,0%, respectivamente. Essas revisões sinalizam que o Comitê acredita que o atual ciclo de aperto monetário não será suficiente para fazer a economia crescer em linha com o produto potencial (1,8%). Vale destacar que, anteriormente, o fato de o PIB americano desacelerar, passando a crescer abaixo da taxa de longo prazo, tinha sido uma das condições elencadas pelo presidente do Fed para não continuar a apertar a política monetária. No tocante a taxa de inflação medida pela métrica do PCE, houve revisões para os anos de 2024 e 2025. O índice cheio e o núcleo foram revisados para cima, de 2,1% para 2,2% em 2025 e de 2,4% para 2,6% em 2024, respectivamente. Sob este cenário, o Fed acredita que só será possível atingir o centro da meta (2,0%) em 2026.

Por fim, no tocante as revisões envolvendo a taxa de juros (Fed Funds Rate), a mediana para esse ano ficou inalterada em 4,6%, com os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) prevendo 75 pontos-base de cortes ao longo do ano, em linha com o nosso cenário. Já para os anos de 2025 e 2026, os diretores do Fed passaram a prever menos cortes de juros e, portanto, uma Fed Funds Rate mais elevada. As projeções saíram de 3,6% para 3,9% em 2025 e de 2,9% para 3,1% em 2026. Apesar disso, a variância elevada das estimativas dos membros do FOMC para a política monetária (“dot plot”) observada na reunião de dezembro apresentou alguma redução agora em março, apontando para o início da formação de algum consenso entre os membros do Fed acerca do patamar da taxa de juros no futuro. No entanto, como as projeções dos membros do FOMC são um retrato, e, portanto, fluidas no tempo, o Fed não tem nenhum compromisso de segui-las. Mesmo assim, a queda na variância dessas estimativas já serve como um fator de redução de incerteza. Para o longo prazo, a mediana das projeções se elevou de 2,5% para 2,6%, o que pode ter se dado por uma percepção de que a taxa real de juros neutra teria aumentado.

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