O Banco Central americano (Fed), de maneira unânime, elevou a taxa básica de juros americana em 0,75 p.p., se mantendo no atual ritmo de rápido aperto monetário como forma de combater o elevado nível inflacionário. Este resultado representa o quarto aumento consecutivo desta magnitude, reforçando o comprometimento da autoridade monetária em garantir a convergência da inflação para a meta de 2,0%. A grande novidade desse comunicado em relação aos anteriores foi, assim como no caso do Banco Central Europeu (BCE) na semana passada, o Fed começar a se referir a temas como o efeito cumulativo do aperto monetário empreendido até aqui, os lags da política monetária na inflação, e os seus desdobramentos sobre as condições financeiras e econômicas, abrindo a porta para uma redução do ritmo de aperto monetário já a partir das próximas reuniões.
Segundo o comunicado, embora indicadores recentes que medem gastos com consumo e produção tenham apresentado um desempenho modesto nos últimos meses, o mercado de trabalho segue aquecido diante de um ritmo robusto de criação de vagas de emprego e da queda da taxa de desemprego para 3,5% (o seu menor patamar em 50 anos). A inflação, por sua vez, segue elevada, refletindo os impactos do descasamento entre oferta e demanda em decorrência dos gargalos gerados durante a pandemia e da disseminação das pressões inflacionárias na economia, sobretudo nos componentes mais inerciais que compõem o núcleo da inflação americana.
Ressaltou-se que o conflito em andamento entre a Rússia e a Ucrânia tem sido o responsável por um enorme prejuízo social e econômico. A guerra e os eventos relacionados estão criando pressões altistas adicionais sobre a inflação e estão pesando sobre o nível de atividade econômica global. Nesse contexto, o Comitê segue atento ao balanço de riscos inflacionários.
Como forma de atingir a meta de pleno emprego e estabilidade de preços, com uma taxa de inflação de 2,0% no longo prazo, o comitê decidiu, de maneira unânime, elevar o intervalo da taxa básica de juros (Fed Funds rate) para faixa entre 3,75% e 4,00% ao ano. Nesse sentido, antecipou que a manutenção do atual ciclo de alta de juros é o mais adequado para garantir que as metas de emprego e inflação sejam alcançadas. Além disso, o Comitê optou por manter o ritmo de redução do balanço de ativos conforme os termos definidos na reunião de maio.
Por último, o comunicado reforçou que o Comitê seguirá monitorando as implicações da condução da política monetária na economia e estará preparado para ajustar a sua direção no caso do surgimento de riscos que possam impedir o Comitê de atingir suas metas. Nesse sentido, serão levadas em consideração as informações sobre saúde pública, mercado de trabalho, inflação e suas expectativas, pressões inflacionárias, e dos desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Durante a coletiva de imprensa, o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, reforçou que o Comitê segue estritamente comprometido em garantir a estabilidade de preços, sinalizando que este é um alicerce fundamental da economia americana. Para tal, o Comitê avalia que a política monetária deverá permanecer em um patamar contracionista por um bom período.
O Comitê também destacou que a economia americana apresenta alguns sinais de desaceleração, sobretudo o setor imobiliário que vem sendo impactado pela elevação das taxas de hipotecas. Em contrapartida, o mercado de trabalho continua superaquecido, com um descasamento entre demanda e oferta de mão de obra. Segundo Powell, embora a variação dos ganhos salariais tenha interrompido a rápida aceleração dos últimos meses, ela se estabilizou em um patamar elevado e inconsistente com a meta de inflação de 2,0%. Nesse contexto, a combinação de um elevado nível inflacionário e um mercado de trabalho com desempenho bastante robusto é suficiente para que o Fed continue o aperto monetário e encerre o ciclo com uma taxa de juros em patamar acima do projetado na reunião de setembro.
Quando perguntado sobre o processo decisório da magnitude do ajuste da reunião de dezembro, Jerome Powell, sinalizou que não é necessário observar claros sinais de arrefecimento da inflação americana para reduzir o ritmo de altas da taxa de juros. Para o presidente, a velocidade do ajuste de dezembro é uma questão secundária e o verdadeiro foco é determinar a taxa terminal do atual ciclo de alta. Entretanto, reforçou que este ponto está cercado de incertezas e que a desaceleração do ritmo de alta pode acontecer na reunião de dezembro ou na subsequente. Apesar do sinal mais dovish dado pelo Fed de que a sua campanha para domar a inflação possa estar próxima da sua fase final, o sinal mais hawkish de que a taxa terminal pode ir ainda mais longe do que o projetado na reunião de setembro é a mensagem que deve prevalecer, impactando os mercados financeiros de maneira negativa e causando queda dos principais índices.
Por fim, foi comentado que ainda é muito prematuro pensar em parar de subir a taxa de juros nos EUA e não acredita que o Comitê tenha exagerado no ritmo de aperto dado nas últimas reuniões. Além disso, reforçou que em um cenário que o Fed tenha exagerado na velocidade de ajuste monetário, o Banco Central poderá usar suas ferramentas para ajustar a política monetária. Em contrapartida, em um cenário em que o Fed não faz o ajuste na magnitude correta o risco é de que a inflação se torne enraizada na economia americana.