O banco central norte-americano (Federal Reserve) decidiu dar continuidade ao ciclo de afrouxamento monetário iniciado em setembro, porém com um corte de menor magnitude, de 25 ao invés de 50 pontos base, levando a taxa de juros (Fed Funds rate) para o intervalo entre 4,50% e 4,75% a.a. A decisão unânime do colegiado veio em linha com o esperado. O Fed também reduziu a taxa de juros paga sobre o saldo de reserva (compulsórios) de 4,9% para 4,65% ao ano e a taxa de desconto de 5,0% para 4,75% a.a.
Em relação a reunião anterior (set/24), o comunicado deixou de mencionar que a geração de vagas de emprego desacelerou, passando a dizer que, no agregado do ano, as condições do mercado de trabalho como um todo afrouxaram e que este não configura uma fonte de pressão inflacionária. Já no tocante à inflação, os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) retiraram o trecho que dizia que houve progresso adicional na convergência da inflação para a meta de 2,0%, reconhecendo só que houve algum progresso, o que parece indicar que a confiança do Fed acerca da inflação ainda se encontrar em uma trajetória benéfica diminuiu. A despeito disso, esses fatores ainda permitiram aos dirigentes afirmarem que os riscos ao mandato dual do Fed de pleno emprego e estabilidade de preços permanecem praticamente equilibrados.
Na coletiva de imprensa que se seguiu a decisão de política monetária, o presidente do Fed, Jerome Powell, evitou comentários mais a fundo sobre os temas políticos e de natureza fiscal, mas quando perguntado sobre eles disse que não deixaria o posto até o término do seu mandato em maio de 2026 e que os déficits fiscais atuais não são insustentáveis no presente, mas sim a trajetória da dívida. Apesar disso, ainda podemos ver embates entre o presidente eleito, Donald Trump, e o Fed num estilo parecido com o que temos presenciado no Brasil desde o início de 2023 com as fortes críticas do governo à condução da política monetária por parte da presidência do banco central brasileiro. Por outro lado, Powell destacou que, ao menos no curto prazo, o resultado eleitoral nos EUA deve ter um efeito nulo sobre as decisões do Fed. Na esteira desse fato ele reforçou que o mais adequado em termos de condução da política monetária seria continuar sem “forward guidance”, com uma abordagem “data dependent” em vista do elevado grau de incerteza que permeia o cenário, com o ambiente demandando a manutenção de uma postura mais cautelosa por parte da autoridade monetária, deixando a extensão e a magnitude do ciclo de aperto monetário dependentes da evolução dos dados nos próximos meses.
Já no tocante ao balanço de riscos, a principal ameaça apontada foi o risco geopolítico, que na visão do Fed está elevado, mas que em compensação teve apenas efeitos limitados na economia americana até agora. Em relação a trajetória de juros, não é possível descartar a necessidade de uma pausa na reunião de dezembro, assim como não dá para descartar a possibilidade de o Fed interromper o ciclo de cortes e voltar a aumentar a taxa de juros em 2025, embora este não seja o cenário base da autoridade monetária.
Visto isso, vemos como crescente a chance de o Fed ser forçado a interromper o ciclo de afrouxamento monetário na próxima reunião de dezembro em vista dos dados de atividade econômica ainda forte e métricas importantes de inflação que tiveram o seu processo de desinflação interrompido e até mesmo revertido na ponta. Para 2025, optamos por ainda não revisar o nosso cenário base de apenas um corte de 25 pontos base na Fed Funds rate por trimestre, totalizando 100 pontos base de afrouxamento monetário total no ano que vem.