A variação do índice de preços do consumidor (CPI) foi de 0,8% em fevereiro, ante crescimento de 0,6% em janeiro, na série com ajuste sazonal. Este resultado ficou levemente acima da mediana das projeções de mercado de 0,7%. Por sua vez, a taxa de inflação nos últimos 12 meses acumulou alta de 7,9%, renovando a maior variação anual em quarenta anos, ficando acima do consenso de mercado de 7,8%.
O avanço no mês foi concentrado nos grupos de energia, alimentação e habitação. A expressiva alta dos componentes mais voláteis é decorrente da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que têm impactado substancialmente o preço global de commodities agrícolas e energéticas. A expectativa era de que o pico da inflação americana seria observado no mês de fevereiro, entretanto, por conta da nova dinâmica de preços decorrentes do conflito, a inflação americana deverá continuar sendo pressionada nos próximos meses. Por outro lado, observamos desaceleração no índice de veículos usados.
Os índices de transportes, que incluí gasolina, alimentação e habitação (shelter) apresentaram as maiores altas no mês e juntos contribuíram por cerca de 84% da variação do índice headline (67,2 b.p.).
O índice de energia apresentou alta de 3,5%, ao apresentar uma expressiva aceleração se comparado ao número do mês anterior (0,9%). Este resultado foi influenciado pela alta de 6,6% no preço da gasolina, que atingiu o recorde histórico de preço cobrado ao varejo (preço na bomba) e contribuiu com aproximadamente 1/3 da variação do índice cheio. Esta alta foi parcialmente compensada pelo recuo de 1,1% do índice de preço da energia elétrica. Em 12 meses, o grupo de energia acumulou alta de 25,6%, devido às fortes contribuições da gasolina (38%) e do gás natural (23,8%) no período.
Por sua vez, o grupo de alimentos apresentou leve aceleração (10 b.p.) em relação ao mês anterior ao avançar 1,0% em fevereiro. Este resultado decorreu da significativa aceleração da alimentação no domicílio que saiu de alta de 1,0% para 1,4%. Em contrapartida, a alimentação fora do domicílio desacelerou em relação ao mês anterior ao passar de alta de 0,7% para 0,4%. Em 12 meses, o índice de alimentação acumulou alta de 7,9%.
No que diz respeito ao núcleo (excluí alimentos e energia) da inflação, a variação mensal foi de 0,5%, ficando em linha com o consenso de mercado. A principal contribuição foi do grupo de habitação que avançou 0,5% no mês, por conta da alta do aluguel residencial de 0,6%, o maior avanço desde 1987. No interanual, registrou-se um avanço de 6,4%, a maior variação anual em três décadas, também ficou em linha com a projeção mediana de mercado.
Nossa avaliação é que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia adiciona um viés altista para a inflação americana, que já se encontrava em um patamar bastante elevado desde antes do início da guerra. Nesse contexto, a avaliação de que as sanções aplicadas à Rússia serão mantidas, mesmo com o fim do conflito, nos leva a acreditar que os preços das commodities agrícolas e energéticas se manterão em um nível bastante elevado nos próximos meses. Embora a leitura dos dados de atividade econômica e de inflação apontem para a necessidade de um ajuste significativo na política monetária nos EUA, avaliamos que, diante do cenário de elevada incerteza, o Banco Central americano iniciará o ciclo de aumentos da taxa básica de juros na próxima semana com uma elevação de 25 b.p. e encerrando o ano em 2,5% a.a.