A criação líquida de 253 mil empregos em setores não agrícolas (nonfarm payroll) nos EUA veio bem acima das estimativas dos analistas, que esperavam a criação de 185 mil vagas (Bloomberg) em abril. Com isso, a geração mensal de empregos voltou a repetir a tendência vista nos meses anteriores, do resultado sempre vir acima das expectativas. Além disso, as revisões relativas aos meses de fevereiro e março subtraíram significativos 149 mil empregos. O número de fevereiro saiu de 326 mil para 248 mil, enquanto o número de março saiu de 236 mil para 165 mil. Somando o resultado de abril com as revisões dos dois meses anteriores, houve 104 mil empregos adicionados, um número bem mais modesto frente aos 253 mil. Já no acumulado do ano até abril, a criação de postos de trabalho foi da ordem de 1,138 milhão.
Assim como nos meses anteriores, a maior contribuição para a criação de vagas de trabalho em abril veio do setor de serviços. A Prestação de Serviços Privados contribuiu com 197 mil vagas em abril, num aumento frente ao número revisado de março de 140 mil. Adicionalmente, o setor governamental também contribuiu bem, com a adição de 23 mil empregos, embora bem menos do que nos meses anteriores quando adicionou 42 mil em março e 55 mil em fevereiro. Outros setores que tiveram contribuições expressivas para o resultado do mês foram: Serviços Privados de Educação e Saúde (77 mil), Assistência Médica (64 mil), Serviços Profissionais e Empresariais (43 mil) e Lazer e Hotelaria (31 mil). Já nos setores mais sensíveis a taxa de juros, houve a criação de 15 mil empregos na Construção e de 33 mil na Produção de Bens. Com o esfriamento da crise bancária em abril, a geração de vagas no setor de Atividades Financeiras se recuperou, criando 23 mil empregos frente ao fechamento de 1 mil postos em março. Em abril apenas dois setores registraram destruição de vagas: Serviços de Ajuda Temporária (-23 mil) e Comércio Atacadista (-2 mil). Com esses dados de abril, o número de empregos nos setores não agrícolas se encontra 3,3 milhões acima do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).
A taxa de desemprego de março foi mantida em 3,5%, mas a de abril contrariou as expectativas de alta de 0,1 p.p e caiu para 3,4% da força de trabalho. No mês de abril, o número de desocupados recuou em 182 mil, totalizando 5,66 milhões de norte-americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego continua a se afastar da taxa de desemprego natural (4,0%), não havendo sinais de desaquecimento do mercado de trabalho americano.
Em abril, o número de desempregados a longo prazo (27 semanas ou mais) avançou marginalmente, de 1,10 milhão para 1,16 milhão, ultrapassando o patamar pré-pandemia (1,11 milhão). Atualmente, este grupo representa 20,4% do total de desempregados, num aumento frente aos 18,9% de março. Já o número de indivíduos empregados a tempo parcial por razões econômicas interrompeu a sequência de altas, sofrendo uma redução de 199 mil, alcançando 3,90 milhões, e se mantendo abaixo do nível observado em fevereiro de 2020 (4,39 milhões).
O número de indivíduos fora da força de trabalho, mas que querem um emprego, aumentou em expressivos 346 mil em abril, totalizando 5,27 milhões, voltando a ficar acima do patamar observado antes da pandemia (5,05 milhões). Essa alta pode sinalizar um aumento da taxa de participação à frente e pressionar ainda mais para baixo a taxa de desemprego caso, ao entrarem na força de trabalho, esses indivíduos encontrem emprego com uma certa facilidade. Corrobora muito para isso o fato do número de vagas em aberto (JOLTS) estar em patamar elevado historicamente e ainda haver 1,6 vagas disponíveis para cada desempregado. Dentre as razões para o desemprego destacam-se as pessoas que perderam o emprego (2,64 milhões ante 2,95 milhões), as que se demitiram (790 mil ante 845 mil), as que estão entrando novamente na força de trabalho (1,76 milhões ante 1,67 milhões) e os novos entrantes na força de trabalho (531 mil ante 492 mil).
A taxa de participação da força de trabalho permaneceu estável em relação a leitura do mês anterior ao registrar 62,6% em abril, resultado que veio ao encontro das expectativas do mercado que tinha como consenso a manutenção da taxa. A razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) também permaneceu estável na passagem de março para abril, em 60,4%. Com estes resultados, ambas as medidas se encontram 0,7 p.p abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).
A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,16 (0,5% m/m), vindo acima das expectativas do mercado que aguardavam alta de 0,3% m/m, alcançando o nível de US$ 33,36 por hora trabalhada. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,4%, levemente acima das estimativas (4,2%). Com isso, os salários interromperam a trajetória de queda e avançaram 0,1 p.p. na passagem de março para abril. Esta medida ainda segue substancialmente acima da meta de inflação de 2,0% ao ano, o que indica que a tarefa do banco central norte-americano (Fed) de desaquecer o mercado de trabalho permanece desafiadora.
Com os dados mais recentes de emprego tendo apresentado surpresas para cima na criação de vagas no setor privado (ADP) e na criação de vagas em setores não agrícolas (Payroll), juntamente com o número de vagas em aberto (JOLTS) ter vindo abaixo do esperado, o que indica que os entrantes na força de trabalho não tiveram muitas dificuldades se alocar, permitindo que a taxa de desemprego caísse, o caminho para desinflacionar o mercado de trabalho será muito mais longo e árduo do que o anteriormente previsto. Mesmo com a crise bancária que atingiu o país em março, e com os desdobramentos que se estendem até hoje, os setores financeiro e da informação continuam apresentando geração positiva de postos de trabalho. Nesse sentido, a resiliência mostrada pelo mercado de trabalho norte-americano é notável. Isso mostra que a tendência prévia na qual vinha o mercado de trabalho do país continua prevalecendo, de modo que ainda é cedo para avaliar o impacto dos recentes acontecimentos bancários. A conjuntura do início do ano, na qual os dados relativos à atividade, emprego e inflação vieram, todos, extremamente fortes, parece estar dando lugar a um cenário de atividade mais fraca por um lado, e de inflação mais persistente e mercado de trabalho ainda apertado por outro.
Visto isso, o resultado desse payroll de abril reforça o cenário de um novo aumento de 25 pontos-base na taxa de juros na reunião do Fed de junho, indo de encontro a sinalização recente do Fed de que o atual ciclo de alta de juros teria chegado ao fim. Outros dados divulgados recentemente também corroboram para a tese de que o Fed terá que empreender altas de juros adicionais. A surpresa baixista registrada pela produtividade do trabalho (-2,7% t/t), ante expectativa de -2,0% t/t e a altista vista no custo unitário do trabalho (6,3% t/t, ante expectativa de 5,6% t/t) fazem com que a manutenção da fed funds rate no atual patamar de 5,25% (limite superior) seja insuficiente para garantir a convergência da inflação para a meta de 2,0% ao ano. Durante a pandemia de Covid-19 em 2020, houve um salto na produtividade do trabalho em decorrência de interrupções de algumas atividades do setor de serviços que eram menos produtivas. Com a reabertura da economia, e com o carro chefe da recuperação econômica sendo justamente o setor de serviços, essas atividades que antes tinham sido interrompidas e possibilitado a alta da produtividade agregada do trabalho voltaram com mais intensidade do que antes à medida que as pessoas foram voltando para a força de trabalho e a taxa de participação foi se recuperando. O alinhamento atual de produtividade em queda e salários em alta para recompor parte das perdas com a inflação dos últimos anos vem pressionando o custo unitário do trabalho. Essa conjunção de fatores desaconselha fortemente eventuais quedas de juros no final desse ano, como vem sendo precificado pelo mercado.