Em agosto, houve criação líquida de 315 mil empregos em setores não agrícolas (Nonfarm Payroll), ante um resultado revisado (-2 mil) de 526 mil vagas em junho. Este resultado veio levemente acima do consenso de mercado que aguardava o preenchimento de 298 mil vagas no mês. Em 12 meses, foram criadas 5,8 milhões de postos de trabalho em setores não agrícolas.
O preenchimento de vagas de emprego teve como destaque em agosto os segmentos de serviços profissionais e administrativos; saúde e cuidados pessoais e no varejo. Com o resultado do mês de agosto, o número de empregos no setor não agrícola se encontra 250 mil acima do patamar observado no período pré-pandemia (fev/2020).
No que lhe concerne, a taxa de desemprego avançou 0,2 p.p. na passagem de julho para agosto, de modo que, a taxa de desemprego ficou em 3,7% da força de trabalho, surpreendendo o mercado que tinha como consenso a manutenção da taxa em 3,5%. No mês, o número de desocupados aumentou em 344 mil, totalizando 6 milhões de americanos. Com este resultado, tanto a taxa de desemprego quanto o número de trabalhadores desempregados voltam a ficar em um patamar acima do observado antes do início da pandemia, podendo ser o primeiro sinal de arrefecimento do aperto no mercado de trabalho.
Em agosto, o número de desempregados a longo prazo (27 ou mais semanas) ficou estável em 1,1 milhão, mesmo patamar observado durante o período pré-pandemia. Este grupo representa cerca de 18,8% do total de desempregados no mês. Na mesma direção, o número de indivíduos empregados a tempo parcial por razões econômicas permaneceu estável em 4,1 milhões em agosto, de modo que, segue abaixo do nível observado em fevereiro de 2020 (4,4 mihões).
Além disso, o número de indivíduos fora da força de trabalho que querem um emprego recuou em 361 mil, totalizando 5,5 milhões em agosto. Esta medida ainda se encontra acima do nível observado durante o pré-pandemia (5 milhões). Estes indivíduos constituem a parcela da população que continuam sem emprego por não estarem procurando ativamente por uma vaga de trabalho nas últimas 4 semanas, portanto, não contabilizados como desempregados.
A taxa de participação da força de trabalho avançou 0,3 p.p. em relação à leitura do mês anterior ficando em 62,4% (1 p.p. abaixo do nível pré-pandemia), surpreendendo o mercado cuja expectativa era de uma leve elevação para 62,2%. O avanço na taxa de participação sugere o arrefecimento do aperto no mercado de trabalho a partir da melhora da oferta de mão de obra. Por sua vez, a razão entre o número de empregados e a população em idade ativa (Employment-Population ratio) avançou para 60,1%, ficando 1,1 p.p. abaixo do patamar observado em fevereiro de 2020.
A criação de vagas no mês teve como principais destaques os grupos de Serviços profissionais e Administrativos (+ 68 mil); Saúde e Cuidados Pessoais (+ 48 mil), entretanto, segue 0,2% abaixo do nível observado antes da pandemia; e no Varejo (+44 mil).
A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,10 (0,3%), vindo abaixo da expectativa de mercado que aguardava por uma alta de 0,4%, alcançando o nível de US$ 32,36 por hora trabalhada. Com este resultado, nos últimos 12 meses, o salário médio por hora acumula alta de 5,2%, surpreendendo positivamente o mercado que aguardava por uma alta de 5,3%. Entretanto, este número segue substancialmente acima da meta de estabilidade de preços de longo prazo de 2% e deve continuar sendo um fator de pressão inflacionária diante do recuo da produtividade da mão de obra americana.
Houve revisões nos números de junho e julho que ao todo, retiraram 107 mil vagas de emprego no período. Para o primeiro, foram retirados 105 mil vagas de emprego, de modo que, saiu de 398 mil para 293 mil. Já para julho, a revisão foi de -2 mil vagas de emprego, fazendo com que o número saltasse para 526 mil no mês.
O relatório sugere que o mercado de trabalho americano pode estar começando a dar os primeiros sinais de arrefecimento com a moderação do ritmo de aumento do salário médio e pela expansão da força de trabalho, responsável pelo aumento da taxa de desemprego no período. Entretanto, avaliamos que esta primeira leitura positiva não deve ser condição suficiente para uma mudança na postura do Fed no que diz respeito ao combate inflacionário. Os dados divulgados desde a reunião de julho apontam para ambas as direções. A melhora dos indicadores setoriais e de confiança do consumidor mostram que a economia segue resiliente mesmo diante de um cenário mais adverso. Ademais, a aceleração da razão entre vagas de trabalho abertas e trabalhadores desempregados para próximo de 2, sinalizando que há aproximadamente 2 vagas disponíveis para cada desocupado, e a contração da produtividade em um contexto de elevados ganhos salariais mostra que o mercado de trabalho deve continuar sendo um vetor de pressão inflacionária nos próximos meses. Dessa forma, acreditamos que a leitura, embora um pouco melhor que o esperado pelo mercado, do Payroll de agostonão será suficiente para reduzir o ritmo de alta da taxa de juros, de modo que, o Fed deve anunciar um novo aumento de 75 bps em setembro.