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Publicado em 01 de Setembro às 15:38:43

Payroll (ago/23): Taxa de desemprego salta para 3,8%

A criação líquida de 187 mil empregos em setores não-agrícolas (nonfarm payroll) nos Estados Unidos em agosto voltou a vir acima das expectativas (170 mil, Bloomberg). Além disso, as revisões relativas aos meses de junho e julho subtraíram 110 mil empregos. O número de junho saiu de 185 mil para 105 mil, enquanto o de julho saiu de 187 mil para 157 mil. Somando o resultado de agosto com as revisões dos dois meses anteriores, houve apenas 77 mil empregos adicionados, um número bem mais modesto frente aos 187 mil. Já no acumulado do ano até agosto, a criação de postos de trabalho foi da ordem de 1,88 milhão.

Assim como nos meses anteriores, a maior contribuição para a criação de vagas de trabalho em agosto veio do setor de serviços. A Prestação de Serviços Privados contribuiu com 143 mil vagas em agosto, muito próximo do número revisado de julho de 141 mil. Dentro desse setor, a maior geração de vagas veio dos Serviços Educacionais e de Saúde, que adicionaram 102 mil postos. O setor governamental também continuou a contribuir positivamente para a criação de vagas, com a adição de 8 mil empregos, mas entrando em trajetória de desaceleração frente a média do primeiro semestre do ano (59 mil). Já nos setores mais sensíveis a taxa de juros, houve a criação de 22 mil empregos na Construção e de 36 mil na Produção de Bens. A geração de vagas no setor de Atividades Financeiras continuou em território positivo, criando 4 mil empregos e evidenciando que a crise no setor bancário já foi superada. Em agosto, três setores registraram destruição de vagas: Comércio e Transporte (-20 mil), Ajuda Temporária (-19 mil), e Informação (-15 mil). Com esses dados de agosto, o número de empregos nos setores não-agrícolas se encontra 4,05 milhões acima do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).

A taxa de desemprego de agosto saltou para 3,8% da força de trabalho, contrariando as expectativas do mercado de manutenção em 3,5%. No mês, o número de desocupados avançou em 514 mil, totalizando 6,36 milhões de norte-americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego volta a se aproximar da taxa de desemprego natural (4,4%, CBO), dando sinais de que o aperto monetário empreendido pelo banco central norte-americano (Fed) até aqui parece estar começando a impactar mais fortemente essa métrica do mercado de trabalho.

Em agosto, o número de desempregados a longo prazo (27 semanas ou mais) avançou de 1,16 milhão para 1,30 milhão, se mantendo acima do patamar pré-pandemia (1,11 milhão). Atualmente, este grupo representa 20,4% do total de desempregados, num aumento frente aos 19,9% de julho, e acima também do patamar de 19,5% vigente no período pré-pandemia (fev/20). Essa aparente estabilização em patamar próximo ao que vigorava antes da eclosão da pandemia indica que um potencial efeito de histerese não parece estar se abatendo sobre o mercado de trabalho norte-americano. Se fosse esse o caso, o número de desempregados a longo prazo estaria em patamar bem mais elevado, correspondendo a uma parcela bem maior do total de desempregados por conta da perda de capital humano por parte dos trabalhadores que ficam muito tempo afastados do mundo do trabalho incidir mais fortemente justamente sobre esse grupo. Já o número de indivíduos empregados a tempo parcial por razões econômicas voltou a subir após apresentar queda em julho. A alta foi de 221 mil, alcançando 4,22 milhões e permanecendo abaixo do nível observado em fevereiro de 2020 (4,39 milhões).

O fato do número de vagas em aberto (JOLTS), uma métrica de demanda por mão de obra, ter vindo bem abaixo do esperado em julho (8,83 milhões, ante expectativa de 9,48 milhões) e o número de junho ter sido revisado para baixo (de 9,58 milhões para 9,16 milhões) juntamente com o aumento de 123 mil no número de indivíduos fora da força de trabalho que querem um emprego, contribuiu para pressionar a taxa de participação e, consequentemente, a taxa de desemprego. Dentre as razões para o desemprego destacam-se as pessoas que perderam o emprego (2,91 milhões ante 2,62 milhões), as que se demitiram (801 mil ante 852 mil), as que estão entrando novamente na força de trabalho (1,93 milhões ante 1,85 milhões) e os novos entrantes na força de trabalho (597 mil ante 503 mil).

Depois de cinco meses seguidos de manutenção no patamar de 62,6%, a taxa de participação da força de trabalho subiu 0,2 p.p. em agosto, para 62,8%, contrariando as expectativas de estabilidade. A razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) se manteve inalterada em relação a julho, permanecendo em 60,4%. Com estes resultados, a primeira medida agora se encontra só 0,5 p.p. abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20), enquanto a segunda permanece 0,7 p.p. abaixo. Vale destacar que, levando em conta apenas os indivíduos entre 25 e 54 anos de idade (“prime-age”), ambas as variáveis já se encontram acima do patamar que vigorava antes da eclosão da pandemia (83,5% e 80,9%, ante 83,0% e 80,5% respectivamente), evidenciando que as parcelas da população que ainda não retornaram para a força de trabalho se situam nos dois extremos do espectro de idade, principalmente dentre os mais velhos.

A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,08 (0,2% m/m), 0,1 p.p. abaixo das expectativas do mercado, alcançando o nível de US$ 33,82 por hora trabalhada em agosto. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,3%, bem em linha com as estimativas. Adicionalmente, a última divulgação da criação de vagas no setor privado (ADP) referente ao mês de agosto mostrou que os salários tiveram uma expansão média anual de 5,9%. Com isso, os salários parecem encontrar dificuldades para apresentarem uma trajetória de queda mais consistente. Ambas as métricas ainda seguem substancialmente acima da meta de inflação de 2,0% ao ano, o que indica que a tarefa do Fed de arrefecer o crescimento dos salários permanece desafiadora.

Conforme o esperado após o fim do excesso de poupança das famílias, várias métricas do mercado de trabalho passaram a indicar o início de um processo de retorno dos indivíduos para a força de trabalho. Essa busca por emprego deve se intensificar nos próximos meses, continuando a pressionar a taxa de participação e a taxa de desemprego, principalmente num contexto no qual a demanda por mão de obra (JOLTS) já vem surpreendendo para baixo. Esse fenômeno, caso ocorra de forma muito acentuada, poderia colocar em risco o cenário base atual da ocorrência de um “pouso suave”. Por outro lado, caso se dê de forma mais moderada, esse movimento pode contribuir para satisfazer uma das condições impostas pelo presidente do banco central norte-americano (Fed), Jerome Powell, para não promover mais nenhum aumento da fed funds rate, que é justamente um maior equilíbrio entre as condições de oferta e demanda no mercado de trabalho.

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