A criação líquida de 142 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em agosto veio um pouco abaixo do esperado pelo mercado (165 mil, Bloomberg). Além disso, as revisões relativas aos meses de junho e julho subtraíram 86 mil postos de trabalho. O número de junho saiu de 179 mil para 118 mil, enquanto o de julho saiu de 114 mil para 89 mil. Somando o resultado de agosto com as revisões dos dois meses anteriores, houve apenas 56 mil empregos adicionados, um número muito mais fraco do que o já indicado pela surpresa baixista do payroll para o mês.
A taxa de desemprego reverteu quatro meses seguidos de alta e recuou 0,1 p.p. em agosto, saindo de 4,3% para 4,2% da força de trabalho, vindo ao encontro das expectativas. No mês, o número de desocupados recuou 48 mil, totalizando 7,12 milhões de norte-americanos. Mesmo com a taxa de desemprego continuando abaixo da taxa de desemprego natural de 4,4% estimada pelo Congressional Budget Office (CBO), o banco central norte-americano (Fed) deve privilegiar o mercado de trabalho ao tentar, daqui para frente, equilibrar os riscos do seu mandato dual.
Em agosto, a taxa de participação se manteve inalterada em 62,7% da força de trabalho, vindo em linha com as projeções de estabilidade. Já a razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) também não registrou alteração na passagem de julho para agosto, permanecendo em 60,0%. Com os resultados, a primeira medida agora se encontra 0,6 p.p. abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20), enquanto a segunda se encontra 1,1 p.p. aquém.
A média de ganhos salariais por hora subiu US$ 0,14 (0,40% m/m), vindo acima das expectativas do mercado (0,3% m/m), alcançando o nível de US$ 35,21 por hora trabalhada em agosto. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 3,8%, também superando as projeções dos analistas (3,7% a/a). Com isso, os salários interromperam a tendência de queda, voltando para o mesmo patamar de junho (3,83% a/a).
A criação de vagas no setor privado (ADP) foi de 99 mil em agosto, vindo abaixo das expectativas de 141 mil (Bloomberg). Já o número de vagas em aberto (JOLTS), uma métrica de demanda por mão de obra, também surpreendeu negativamente, registrando 7,67 milhões em julho ante expectativa de 8,1 milhões. A interrupção do movimento de arrefecimento dos salários do setor privado pela métrica da pesquisa ADP se configurou como uma boa prévia para o payroll de agosto, mesmo com ambas ainda apresentando alguma divergência com relação ao nível. Enquanto os salários do setor privado (ADP) apresentaram em agosto a mesma taxa de variação anual de julho (4,8% a/a), a taxa de variação dos salários dos setores não-agrícolas (payroll) saltou de 3,6% a/a para 3,8% a/a no mesmo período.
Esse segundo payroll mais fraco do que o esperado em termos de criação de vagas reforça a percepção de que o mercado de trabalho norte-americano continua a desacelerar. Um ponto específico que também vem chamando atenção são as constantes revisões baixistas de diversas métricas, sugerindo que as primeiras divulgações dos dados estão recorrentemente superestimadas, o que faz transparecer que o mercado de trabalho ainda estaria mais robusto do que ele realmente está. Além do payroll, exemplos disso também puderam ser observados na revisão baixista da geração de empregos pelo ADP em julho (que saiu de 122 mil para 111 mil) e a diminuição dos postos em aberto pelo JOLTS em junho (de 8,184 milhões para 7,910 milhões). A despeito disso, os dados mistos desse payroll de agosto, que mostrou um recuo da taxa de desemprego e uma surpresa altista no tocante ao crescimento dos salários contribuiu para afastar os temores de que a economia americana estaria entrando num processo de desaceleração mais forte. Em vista disso, optamos por manter a nossa aposta de que o Fed iniciará o ciclo de afrouxamento monetário com um corte de menor magnitude (25 bps) em setembro.