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Publicado em 10 de Março às 14:46:23

Payroll (fev/23): Criação de vagas de emprego surpreende para cima novamente (311 mil)

A criação líquida de 311 mil empregos em setores não agrícolas (nonfarm payroll) nos EUA voltou a surpreender as expectativas dos analistas que esperavam a criação de apenas 225 mil vagas (mediana, Bloomberg) em fevereiro. O resultado veio próximo do teto das projeções (325 mil). Por outro lado, as revisões relativas aos meses de dezembro e janeiro subtraíram 34 mil empregos. O número de janeiro saiu de 517 mil para 504 mil, enquanto o número de dezembro saiu de 260 mil para 239 mil. Somando o resultado de fevereiro com as revisões dos dois meses anteriores, houve 277 mil empregos adicionados.

Assim como em janeiro, a maior contribuição para a criação de vagas de trabalho em fevereiro veio do setor de serviços. O setor Prestação de Serviços Privados contribuiu com 245 mil vagas em fevereiro, numa redução frente ao número revisado de janeiro de 335 mil, mas ainda vindo forte. Adicionalmente, o setor governamental também contribuiu bem, com a adição de 48 mil empregos, ante um número expressivo de 118 mil em janeiro e de modestos 7 mil em dezembro. Com este resultado, o número de empregos nos setores não agrícolas se encontra 3 milhões acima do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).

A taxa de desemprego de janeiro foi mantida em 3,4%, com a alta de 0,2 p.p. que ocorreu na passagem de janeiro para fevereiro levando-a para 3,6% da força de trabalho enquanto o consenso de mercado era que ela se mantivesse estável em 3,4% da força de trabalho. No mês de fevereiro, o número de desocupados aumentou em 242 mil, totalizando 5,94 milhões de americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego reverte a sua trajetória de queda e passa a se aproximar da taxa de desemprego natural (4,0%), sinalizando algum desaquecimento no mercado de trabalho americano.

Em fevereiro, o número de desempregados a longo prazo (27 semanas ou mais) recuou marginalmente, de 1,11 milhão para 1,06 milhão, caindo abaixo do patamar pré-pandemia (1,11 milhão). Atualmente, este grupo representa 17,8% do total de desempregados, numa redução frente a razão de 19,5% de janeiro. Já o número de indivíduos empregados a tempo parcial por razões econômicas avançou em 17 mil, para 4,07 milhões, se mantendo abaixo do nível observado em fevereiro de 2020 (4,39 milhões).

O número de indivíduos fora da força de trabalho que querem um emprego diminuiu em 211 mil na passagem de janeiro para fevereiro, totalizando 5,1 milhões, e seguindo acima do patamar observado durante o pré-pandemia (5,05 milhões). Dentre as razões para o desemprego destacam-se as pessoas que perderam o emprego (2,75 milhões ante 2,53 milhões), as que se demitiram (891 mil ante 884 mil), as que estão entrando novamente na força de trabalho (1,85 milhões ante 1,82 milhões) e os novos entrantes na força de trabalho (515 mil ante 531 mil).

A taxa de participação da força de trabalho avançou 0,1 p.p. em relação a leitura do mês anterior ao registrar 62,5% em fevereiro, surpreendendo positivamente o mercado que tinha como consenso a manutenção da taxa em 62,4%. Por sua vez, a razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) se manteve estável em 60,2%. Com estes resultados, a primeira medida se encontra 0,8 p.p abaixo enquanto a segunda se encontra 0,9 p.p. aquém do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).

A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,08 (0,2% m/m), vindo abaixo das expectativas do mercado (0,3% m/m), alcançando o nível de US$ 33,09 por hora trabalhada. Com este resultado, o salário médio por hora acumulou alta de 4,6% em doze meses, levemente abaixo das estimativas (4,7%). Mesmo assim houve aceleração de 0,2 p.p. na passagem de janeiro para fevereiro, interrompendo a trajetória de queda dos salários. Com isso, esta medida ainda segue substancialmente acima da meta de inflação de 2,0% ao ano, o que indica que o esforço do banco central norte-americano (Fed) para desaquecer o mercado de trabalho não será livre de solavancos.

Os dados mais recentes de emprego apresentaram sinais mistos. Do lado inflacionário tivemos as surpresas para cima na criação de vagas no setor privado (ADP), na abertura de postos de trabalho (JOLTS) e na criação de vagas em setores não agrícolas (payroll), enquanto do lado desinflacionário tivemos a alta na taxa de desemprego e na taxa de participação, além do fato dos salários terrem crescido abaixo do esperado. Vale destacar também que o crescimento da folha de empregos ocorreu principalmente nos serviços nos quais a produtividade do trabalho é mais baixa (hospitalidade e lazer), enquanto nas ocupações no setor de serviços nas quais a produtividade é mais alta (financeiro e informação) houve até fechamento de postos de trabalho. Isso, junto com a moderação da alta dos salários, se traduz num cenário mais benéfico para a inflação uma vez que se os salários tivessem subido mais fortemente eles não estariam em consonância com os ganhos de produtividade. Outro ponto positivo é que a inflação está cada vez menos influenciada por pressões de custos e cada vez mais influenciada por questões relacionadas a margens corporativas mais altas (lucros superando salários) por parte das empresas dado o poder das mesmas em definir preços. Uma inflação com essas características é mais fácil de combater do que uma inflação gerada por uma espiral de preços e salários, dado que ela tende arrefecer pela ação das próprias empresas que, desejando evitar a perda de fatia de mercado, passam a limitar as altas de preços.

Visto isso, o resultado desse payroll de fevereiro mantém em aberto a magnitude da alta de juros (25 ou 50 pontos-base) pela qual o Fed deve optar na próxima reunião em 22 de março. Dados os sinais mistos do relatório de emprego de fevereiro, o dado derradeiro no qual o Fed deve se basear para tomar uma decisão sobre a alta de juros deve ser a próxima divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI), também relativa a fevereiro. Um ponto que é dado mais como certo é que independentemente da magnitude da próxima alta de juros, a autoridade monetária vai levar a fed funds rate para patamar além da taxa terminal de 5,25% (limite superior) projetada pelos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em dezembro, se aproximando de algo mais próximo a 6,00%. A criação robusta de vagas torna eventuais quedas de juros no final desse ano desaconselháveis e, portanto, menos prováveis. Vale destacar também que como a criação de vagas de emprego em fevereiro continuaram concentradas no setor de serviços, a métrica de inflação de serviços ex-habitação (que representa mais da metade do núcleo de inflação) citada pelo presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, deve apresentar uma forte inércia nos próximos meses, e com isso não entregar a desinflação desejada.

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