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Publicado em 03 de Fevereiro às 15:22:42

Payroll (jan/23): Criação de vagas surpreende para cima (517 mil) e taxa de desemprego cai para 3,4%

A criação líquida de 517 mil empregos em setores não agrícolas (nonfarm payroll) nos EUA surpreendeu muito as expectativas dos analistas que esperavam a criação de apenas 188 mil vagas (mediana, Bloomberg) em janeiro. Além disso, revisões positivas nos meses de novembro e dezembro adicionaram 71 mil empregos criados a mais. O número de novembro saiu de 256 mil para 290 mil, enquanto o número de dezembro saiu de 223 mil para 260 mil.

Somando o resultado de janeiro com as revisões dos dois meses anteriores, houve 588 mil empregos adicionados. Os números mensais continuam vindo muito acima das 100 mil vagas que, segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, é o número consistente com a taxa de crescimento populacional da economia americana.

Em janeiro, a surpresa de 329 mil vagas criadas veio, quase na sua totalidade, do setor de serviços. O setor Prestação de Serviços Privados contribuiu com 397 mil vagas em janeiro, um salto expressivo frente as 226 mil vagas criadas em dezembro. Serviços Empresariais foram responsáveis pela criação líquida de 82 mil vagas no primeiro mês de 2023, mais do que o dobro do que as 39 mil vagas de dezembro. Já os Serviços de Ajuda Temporária deixaram para trás dois meses seguidos de destruição de vagas numa média de 45 mil por mês e deram lugar a criação de 26 mil vagas em janeiro. Serviços Privados de Educação e Saúde geraram 105 mil empregos, ante 76 mil no último mês do ano passado. Serviços de Lazer e Hospitalidade dobraram em janeiro a criação de vagas de dezembro (de 64 mil para 128 mil). Adicionalmente, o setor governamental também contribuiu para o resultado surpreendente de janeiro com a adição de 74 mil empregos, ante um número negativo de 9 mil no mês anterior. Com este resultado, o número de empregos nos setores não agrícolas se encontra 2,7 milhões acima do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).

A taxa de desemprego de dezembro foi mantida em 3,5%, com a queda de 0,1 p.p. que ocorreu na passagem de dezembro para janeiro, levando-a para 3,4% da força de trabalho. Esse resultado veio na direção contrária do que o esperado pelo mercado, que aguardava alta de 0,1 p.p. para 3,6%. No mês de janeiro, o número de desocupados diminuiu em 28 mil, totalizando 5,69 milhões de americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego aprofunda a sua queda, se afastando ainda mais da taxa de desemprego natural (4,0%), sinalizando que o mercado de trabalho americano segue aquecido.

Em janeiro, o número de desempregados a longo prazo (27 semanas ou mais) cresceu marginalmente, de 1,07 milhão para 1,11 milhão, retornando para o patamar pré-pandemia (fev/20). Atualmente, este grupo representa 19,5% do total de desempregados. Já o número de indivíduos empregados a tempo parcial por razões econômicas avançou em 172 mil, para 4,05 milhões, se mantendo abaixo do nível observado em fevereiro de 2020 (4,39 milhões).

O número de indivíduos fora da força de trabalho que querem um emprego aumentou em 138 mil na passagem de dezembro para janeiro (deixando para trás três meses de diminuição), totalizando 5,31 milhões, e seguindo acima do patamar observado durante o pré-pandemia (5,05 milhões). Dentre as razões para o desemprego destacam-se as pessoas que perderam o emprego (2,53 milhões ante 2,63 milhões), as que se demitiram (884 mil ante 825 mil), as que estão entrando novamente na força de trabalho (1,82 milhões ante 1,77 milhões) e os novos entrantes na força de trabalho (531 mil ante 497 mil).

A taxa de participação da força de trabalho avançou 0,1 p.p. em relaçãoem relação à a leitura do mês anterior ao registrar 62,4% em janeiro, surpreendendo positivamente o mercado que tinha como consenso a manutenção da taxa em 62,3%. Por sua vez, a razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) avançou 0,1 p.p., para 60,2%. Com estes resultados, ambas medidas se encontram 0,9 p.p. abaixo do patamar observado em fevereiro de 2020.

A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,10 (0,3% m/m), vindo em linha com o esperado pelo mercado, alcançando o nível de US$ 33,03 por hora trabalhada. Com este resultado, em 12 meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,4%, levemente acima das estimativas (4,3%). Nessa mesma métrica houve desaceleração de 0,4 p.p. na passagem de dezembro para janeiro, acelerando um pouco a tendência de arrefecimento na dinâmica dos salários. Contudo, esta medida ainda segue substancialmente acima da meta de inflação de 2,0% ao ano, o que indica que o banco central norte-americano tem algum caminho a percorrer para desaquecer o mercado de trabalho.

A combinação de um resultado robusto na criação de vagas, com a taxa de desemprego caindo, a taxa de participação aumentando e os ganhos salariais esfriando indica que as principais variáveis relativas ao mercado de trabalho estão se movendo ainda muito lentamente em direção aos patamares que o Fed deseja. O resultado desse payroll de janeiro não deve fazer o Fed alterar o seu plano de voo de empreender altas de juros de 25 pontos-base daqui em diante. O que pode mudar é o número de altas dessa magnitude adotadas nas reuniões futuras, com a autoridade monetária podendo levar a taxa de juros para patamar além da taxa terminal de 5,25% (limite superior) projetada pelos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) ou então manter a fed funds rate em nível elevado por mais tempo. A criação robusta de vagas torna eventuais quedas de juros no final desse ano desaconselháveis e, portanto, menos prováveis. Vale destacar também que como as surpresas nos dados de emprego de janeiro vieram justamente do setor de serviços, a métrica de inflação do setor de serviços ex-habitação (que representa mais da metade do núcleo de inflação) citada pelo presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, deve apresentar uma forte inércia nos próximos meses, e com isso não entregar a desinflação desejada. Por fim, a tese do “last mile”, de que os últimos pontos de porcentagem restantes para trazer a inflação cheia de volta para a meta de 2,0% ao ano serão muito penosos de se conseguir, ganha mais respaldo com a divulgação desse dado de geração robusta de empregos.

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