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Publicado em 02 de Fevereiro às 14:20:19

Payroll (jan/24): Dados mais fortes devem postergar o início do corte de juros por parte do Fed

A criação líquida de 353 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em janeiro superou em muito o teto das expectativas de mercado (290 mil, Broadcast+). Somou-se a essa surpresa altista as revisões relativas aos meses de novembro e dezembro, que adicionaram 126 mil postos de trabalho. O número de novembro saiu de 173 mil para 182 mil, enquanto o de dezembro saiu de 216 mil para 333 mil. Somando o resultado de janeiro com as revisões dos dois meses anteriores, houve 479 mil empregos adicionados, um número bem mais expressivo frente a mediana das expectativas para esse primeiro mês do ano, de 195 mil. O setor de serviços voltou a apresentar aumento na geração de postos de trabalho, respondendo por 289 mil dos 317 mil empregos criados pelo setor privado. Com isso, o número de empregos se encontra 5,39 milhões acima do observado no pré-pandemia (fev/20).

A taxa de desemprego repetiu em janeiro o mesmo número de dezembro (3,7%), contrariando, mais uma vez, as expectativas do mercado de alta de 0,1 p.p. para 3,8% (Bloomberg). No mês, o número de desocupados recuou 144 mil, totalizando 6,12 milhões de americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego continua a se situar ainda bem abaixo da taxa de desemprego natural (4,4%, CBO), dando sinais de que, apesar do maior alinhamento recente entre a demanda e a oferta de trabalhadores, a política monetária empreendida pelo Banco Central norte-americano (Fed) ainda tem um caminho a percorrer para reestabelecer o equilíbrio no mercado de trabalho.

Depois de uma lenta trajetória de recuperação iniciada com a reabertura da economia no pós-pandemia, a taxa de participação da força de trabalho surpreendeu, permanecendo em 62,5% enquanto as estimativas apontavam na direção de uma alta de 0,1 p.p., para 62,6%. Essa não elevação da taxa de participação é um dos motivos pelos quais a taxa de desemprego não foi pressionada, permanecendo estável em 3,7%. A razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) se recuperou na margem, saindo de 60,1% para 60,2%. Com estes resultados, a primeira medida agora se encontra 0,8 p.p. abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20), enquanto a segunda se encontra 0,9 p.p. aquém.

A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,19 (0,6% m/m), 0,3 p.p. acima das expectativas do mercado (0,3% m/m), alcançando o nível de US$ 34,55 por hora trabalhada em janeiro. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,5%, contrariando as projeções de desaceleração para 4,1%. Com isso, os salários estão encontrando dificuldades para cair abaixo de 4,0% a/a, permanecendo bem acima da meta de inflação de 2,0%.

Confirmando a perda de correlação com o payroll desde a mudança metodológica adotada em 2022, a criação de vagas no setor privado (ADP) foi de 107 mil em janeiro, abaixo das expectativas de 145 mil, enquanto o payroll superou, em muito, o teto das estimativas. Um dado que veio mais em linha com as projeções foi o do número de vagas em aberto (JOLTS), uma métrica de demanda por mão de obra, que registrou 9,026 milhões em dezembro ante expectativa de 8,714 milhões. Outras variáveis nessa linha foram: o índice de custo de emprego, que subiu 0,9% no 4º trimestre de 2023, ante expectativa de alta de 1,0%, e o prêmio para quem troca de emprego, que atingiu em dezembro uma nova mínima desde maio de 2021, ao avançar 7,2%.

Por fim, os dados recentes do mercado de trabalho, com a geração de empregos e os salários surpreendendo muito para cima, confirmam a nossa visão de que o otimismo recente do mercado foi exagerado, com o início esperado para o ciclo de afrouxamento monetário devendo passar da reunião do Fed de maio para a de junho. Ainda assim, esperamos que em 2024, o ritmo mensal de criação de vagas deve desacelerar para cerca de 150 mil, ante os 255 mil registrados em 2023. Essa redução estaria em consonância com o cenário de “pouso suave”, refletindo os efeitos defasados de uma política monetária ainda restritiva sobre a economia.

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