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Publicado em 04 de Agosto às 15:26:39

Payroll (jul/23): Taxa de desemprego volta a recuar para 3,5%

A criação líquida de 187 mil empregos em setores não-agrícolas (nonfarm payroll) nos EUA em julho voltou a vir abaixo das expectativas (200 mil, Bloomberg). Além disso, as revisões relativas aos meses de maio e junho subtraíram 49 mil empregos. O número de maio saiu de 306 mil para 281 mil, enquanto o de junho saiu de 209 mil para 185 mil. Somando o resultado de julho com as revisões dos dois meses anteriores, houve apenas 138 mil empregos adicionados, um número mais modesto frente aos 187 mil. Já no acumulado do ano até julho, a criação de postos de trabalho foi da ordem de 1,81 milhão.

Assim como nos meses anteriores, a maior contribuição para a criação de vagas de trabalho em julho veio do setor de serviços. A Prestação de Serviços Privados contribuiu com 154 mil vagas em julho, num aumento considerável frente ao número revisado de junho de 97 mil. Dentro desse setor, a maior geração de vagas veio dos Serviços Profissionais e Empresariais, que adicionaram 100 mil postos. O setor governamental também continuou a contribuir positivamente para a criação de vagas, com a adição de 15 mil empregos, numa desaceleração frente a média dos seis primeiros meses do ano (59 mil). Já nos setores mais sensíveis a taxa de juros, houve a criação de 19 mil empregos na Construção e de 18 mil na Produção de Bens. A geração de vagas no setor de Atividades Financeiras continuou a se recuperar, criando 19 mil empregos e evidenciando que a crise bancária já foi superada. Em julho, quatro setores registraram destruição de vagas: Ajuda Temporária (-22 mil), Informação (-12 mil), Serviços Profissionais de Negócios (-8 mil) e Manufaturas (-2 mil). Com esses dados de julho, o número de empregos nos setores não-agrícolas se encontra 3,97 milhões acima do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20).

A taxa de desemprego de junho foi mantida em 3,6%, enquanto a de julho contrariou as expectativas de estabilidade e apresentou redução de 0,1 p.p, para 3,5% da força de trabalho. No mês, o número de desocupados recuou 116 mil, totalizando 5,84 milhões de americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego volta a se afastar da taxa de desemprego natural (4,4%, CBO), dando sinais de que o aperto de política monetária empreendido pelo banco central norte-americano (Fed) até aqui ainda não atingiu essa métrica do mercado de trabalho.

Em julho, o número de desempregados a longo prazo (27 semanas ou mais) avançou marginalmente, de 1,11 milhão para 1,16 milhão, voltando a ficar acima do patamar pré-pandemia (1,11 milhão). Atualmente, este grupo representa 19,9% do total de desempregados, num aumento frente aos 18,5% de junho, mas voltando a ultrapassar os 19,5% vigentes no período pré-pandemia (fev/20). Essa aparente estabilização em patamar próximo ao que vigorava antes da eclosão da pandemia indica que um potencial efeito de histerese não parece estar se abatendo sobre o mercado de trabalho norte-americano. Se fosse esse o caso, o número de desempregados a longo prazo estaria em patamar bem mais elevado, correspondendo a uma parcela bem maior do total de desempregados por conta da perda de capital humano por parte dos trabalhadores que ficam muito tempo afastados do mundo do trabalho incidir mais fortemente justamente sobre esse grupo. Já o número de indivíduos empregados a tempo parcial por razões econômicas voltou a apresentar queda após um repique em junho. A queda foi de 191 mil, alcançando 4,00 milhões e permanecendo abaixo do nível observado em fevereiro de 2020 (4,39 milhões).

O fato do número de vagas em aberto (Jolts), uma métrica de demanda por mão de obra, ter vindo abaixo do esperado em junho (9,58 milhões, ante expectativa de 9,8 milhões), numa redução marginal frente aos 9,62 milhões de maio, juntamente com a redução de 142 mil no número de indivíduos fora da força de trabalho que querem um emprego em julho, ajudou a manter a taxa de participação estável e permitiu a queda na taxa de desemprego, com parte dessa redução no número de vagas em aberto se dando pelo seu preenchimento. Dentre as razões para o desemprego destacam-se as pessoas que perderam o emprego (2,62 milhões ante 2,90 milhões), as que se demitiram (852 mil ante 794 mil), as que estão entrando novamente na força de trabalho (1,85 milhões ante 1,75 milhões) e os novos entrantes na força de trabalho (503 mil ante 558 mil).

A taxa de participação da força de trabalho registrou estabilidade pelo quarto mês seguido, permanecendo inalterada no patamar de 62,6% em julho, resultado que veio de acordo com as expectativas do mercado que tinham como consenso a manutenção da taxa. A razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) aumentou 0,1 p.p. em relação a junho, se encontrando agora em 60,4%. Com estes resultados, ambas as medidas se encontram 0,7 p.p. abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20). Vale destacar que, levando em conta apenas os indivíduos entre 25 e 54 anos de idade (“prime-age”), ambas as variáveis já se encontram acima do patamar que vigorava antes da eclosão da pandemia (83,4% e 80,9%, ante 83,0% e 80,5% respectivamente), evidenciando que as parcelas da população que ainda não retornaram para a força de trabalho se situam nos dois extremos do espectro de idade.

A média de ganhos salariais por hora aumentou US$ 0,14 (0,4% m/m), 0,1 p.p. acima das expectativas do mercado, alcançando o nível de US$ 33,74 por hora trabalhada em julho. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,4%, levemente acima das estimativas (4,2%). Adicionalmente, a última divulgação da criação de vagas no setor privado (ADP) referente ao mês de julho mostrou que os salários tiveram uma expansão média anual de 6,2%. Com isso, os salários parecem encontrar dificuldades para apresentarem uma trajetória de queda mais consistente. Ambas as métricas ainda seguem substancialmente acima da meta de inflação de 2,0% ao ano, o que indica que a tarefa do Fed de desaquecer o mercado de trabalho permanece desafiadora.

Continuou a chamar atenção a enorme discrepância existente entre a criação de vagas no setor privado (ADP), que registrou 324 mil em julho, e a criação de vagas em setores não-agrícolas (payroll), que alcançou só 187 mil mesmo com o setor público contribuindo positivamente com 15 mil vagas no mês. Essa diferença observada tanto na criação de vagas como nos salários pode estar se dando por conta da pesquisa da ADP ter adotado uma nova metodologia no ano passado, o que a está desqualificando como uma prévia confiável do payroll. Apesar disso, a composição das duas métricas foi parecida, com o momento favorável vivido pelo setor de serviços e o mau momento do setor industrial sendo bem capturados em ambas. Um ponto importante retratado pela pesquisa ADP foi que o crescimento da folha de pagamentos se deu majoritariamente em empresas pequenas (de até 250 empregados), enquanto as empresas de maior porte voltaram a promover reduções nos seus quadros de funcionários.

Por fim, temos que esses resultados deixam sinais mistos para o banco central norte-americano (Fed). Se por um lado a combinação de uma queda na taxa de desemprego com os salários rodando em patamares teimosamente altos na métrica de doze meses continua a alimentar as chances de uma nova alta de juros de 25 pontos-base, por outro os dados mais benéficos vindos do custo unitário do trabalho (1,6% t/t anualizado, ante expectativas de 2,5%) e da produtividade do trabalho (3,7% t/t anualizado, ante expectativas de 2,2%) tanto no segundo trimestre como de revisões favoráveis no primeiro trimestre ajudam a reduzir um pouco a necessidade de uma alta de juros adicional nesse segundo semestre do ano.

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