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Publicado em 03 de Julho às 18:38:58

Payroll (Jun/25): Mercado de trabalho surpreende e segue resiliente, mas com uma composição não tão favorável

A criação líquida de 147 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em junho superou as expectativas do mercado (106 mil, Bloomberg). Já as revisões relativas aos meses de abril e maio adicionaram 16 mil postos de trabalho. O número de abril saiu de 147 mil para 158 mil, enquanto o de maio avançou de 139 mil para 144 mil. Somando o resultado de junho com as revisões dos dois meses anteriores foram adicionados 163 mil empregos, um número ainda mais robusto. Mas aberturas mostraram que o setor privado contribuiu com apenas 74 mil postos no mês, resultado aquém das expectativas (100 mil, Bloomberg). Por sua vez, o setor público contribuiu com 73 mil postos mesmo com o governo federal tendo fechado vagas (-7 mil) pelo quinto mês consecutivo.

A taxa de desemprego surpreendeu o consenso de mercado, que era de elevação de 4,2% para 4,3%, caindo para 4,1% da força de trabalho. Em junho, o número de desocupados apresentou recuo de 222 mil, alcançando 7,02 milhões de norte-americanos. Com a taxa de desemprego se afastando ainda mais da taxa natural de 4,4% estimada pelo Congressional Budget Office (CBO), esse fator contribui para atenuar os receios de uma atividade econômica mais fraca. Na nossa visão, enquanto o emprego continuar robusto e as famílias em condições financeiras saudáveis (renda e poupança elevadas), dificilmente veremos uma desaceleração mais significativa da atividade pelo fato de o consumo privado ser responsável por uma parcela de cerca de 70% do PIB do país.

Em junho, a taxa de participação contrariou as expectativas de estabilidade e recuou de 62,4% para 62,3% da força de trabalho. Já a razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) permaneceu em 59,7%. Com os resultados, a primeira medida agora se encontra 1,0 p.p. abaixo do patamar pré-pandemia (fev/20), enquanto a segunda se encontra 1,4 p.p. aquém.

A média de ganhos salariais por hora subiu US$ 0,08 (0,22% m/m), não alcançando as expectativas do mercado (0,3% m/m, Bloomberg) e atingindo o nível de US$ 36,30 por hora trabalhada em junho. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 3,71% a/a, frustrando as expectativas de manutenção no mesmo patamar de maio (3,8% a/a). Esse dado dá sequência aos seis meses anteriores de arrefecimento dos salários que, embora lento, mantém a trajetória de queda que é compatível com uma inflação cheia convergente para a meta de 2,0%.

Olhando o mercado de trabalho por uma métrica de demanda por mão de obra (JOLTS) também pôde-se observar robustez, com a recuperação do ímpeto dos empresários em realizar novas contratações após uma redução parcial das incertezas no curto prazo. Além do número de abril ter sofrido uma revisão altista de 7,391 milhões para 7,395 milhões, os postos de trabalho em aberto em maio saltaram para 7,769 milhões, vindo bem acima do esperado (7,3 milhões, Bloomberg). Por outro lado, a única métrica a exibir fraqueza foi a do ADP (criação de vagas no setor privado), que mostrou destruição de 33 mil postos em junho quando as estimativas apontavam para a criação de 98 mil (Bloomberg), evidenciando a grande disparidade que pode existir entre dados do mercado de trabalho observados sob essa métrica e pelo payroll desde a mudança na metodologia de cálculo do ADP. Além disso, a revisão do dado de maio retirou 8 mil postos de trabalho (29 mil, ante 37 mil). Assim como no caso do payroll, os salários continuaram em tendência de desaceleração, saindo de 4,5% a/a para 4,4% a/a.

Apesar da grande maioria dos dados referentes ao mercado de trabalho terem vindo fortes, o fato de metade (73 mil de 147 mil) dos empregos gerados em junho terem vindo dos governos regionais (estaduais e locais) e de setores como educação e saúde terem sido responsáveis por 51 mil postos mostra a perda de fôlego do setor privado mais cíclico, num sinal mais claro de desaceleração. A despeito disso, o mercado de trabalho americano permanece numa boa situação por ora, permitindo ao FED focar mais no mandato de inflação.

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