A criação líquida de 303 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em março superou, em muito, a mediana das expectativas do mercado (214 mil, Bloomberg). Somou-se a essa surpresa altista as revisões relativas aos meses de janeiro e fevereiro, que adicionaram 22 mil postos de trabalho. O número de janeiro saiu de 229 mil para 256 mil, enquanto o de fevereiro saiu de 275 mil para 270 mil. Somando o resultado de março com as revisões dos dois meses anteriores, houve 325 mil empregos adicionados, um número ainda mais forte frente as expectativas para esse terceiro mês do ano. O setor de serviços repetiu o número de geração de postos de trabalho de fevereiro, sendo responsável por 190 mil dos 232 mil empregos criados pelo setor privado agora em março. Com isso, o número de empregos se encontra 5,82 milhões acima do observado no pré-pandemia (fev/20).
A taxa de desemprego recuou 0,1 p.p. em março, saindo de 3,9% para 3,8% da força de trabalho, vindo, desta vez, em linha com as expectativas do mercado (Bloomberg). No mês, o número de desocupados recuou 29 mil, totalizando 6,43 milhões de norte-americanos. Com este resultado, a taxa de desemprego se afasta ainda mais da taxa de desemprego natural de 4,4% estimada pelo Congressional Budget Office (CBO), dando sinais de que, apesar do maior alinhamento recente entre a demanda e a oferta de trabalhadores, a política monetária empreendida pelo Banco Central (Federal Reserve) ainda tem um caminho a percorrer para reestabelecer a estabilidade de preços.
Depois de uma lenta trajetória de recuperação iniciada com a reabertura da economia no pós-pandemia, a taxa de participação da força de trabalho surpreendeu para cima, saltando para 62,7% enquanto as estimativas apontavam na direção de uma alta mais modesta de apenas 0,1 p.p., para 62,6%. A razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) reverteu o recuo visto em fevereiro, saindo de 60,1% para 60,3% em março. Com estes resultados, a primeira medida agora se encontra 0,6 p.p. abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20), enquanto a segunda se encontra 0,8 p.p. aquém.
A média de ganhos salariais por hora subiu US$ 0,12 (0,35% m/m), levemente acima das expectativas do mercado (0,3% m/m), alcançando o nível de US$ 34,69 por hora trabalhada em março. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,14%, também vindo marginalmente acima das projeções dos analistas (4,10% a/a, Bloomberg). Apesar da desaceleração de 0,14 p.p., os salários ainda permanecem em patamar bem acima da meta de inflação de 2,0%.
A criação de vagas no setor privado (ADP) foi de 184 mil em março, superando as expectativas de 150 mil. Já o número de vagas em aberto (JOLTS), uma métrica de demanda por mão de obra, veio mais em linha com as projeções e registrou 8,76 milhões em fevereiro ante expectativa de 8,77 milhões. Diferentemente dos meses anteriores, o payroll e o ADP apresentaram números mais próximos nas suas respectivas métricas de crescimento dos salários. Enquanto os salários do setor privado (ADP) desaceleraram para 5,1% a/a em março, os salários dos setores não agrícolas (payroll) cresceram 4,14% a/a no mesmo período. Por outro lado, o crescimento dos salários daqueles indivíduos que mudaram de emprego no setor privado foi de significativos 10% a/a.
A maior pujança do mercado de trabalho norte-americano sugere que a imigração está desemprenhando um papel chave na ampliação da oferta de mão de obra, permitindo um maior alinhamento entre a demanda e a oferta de trabalhadores. Se não fosse por essa maior oferta de trabalhadores, o mercado de trabalho americano se encontraria muito mais pressionado do que o observado hoje. Ainda assim, com o crescimento dos salários rodando em patamar duas vezes maior do que a meta de inflação, aumentam-se consideravelmente as chances de o início do corte de juros nos EUA se dar apenas no segundo semestre do ano.





