A criação líquida de apenas 12 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em outubro frustrou, em muito, as expectativas do mercado (100 mil, Bloomberg). Além disso, as revisões relativas aos meses de agosto e setembro subtraíram 112 mil postos de trabalho. O número de agosto saiu de 159 mil para 78 mil, enquanto o de setembro saiu de 254 mil para 223 mil. Somando o resultado de outubro com as revisões dos dois meses anteriores, foram retirados significativos 100 mil empregos.
Apesar do dado de geração de vagas ter surpreendido negativamente, esse resultado era de certa forma esperado em decorrência da passagem dos furacões pelo sul dos EUA. Assim como acreditávamos que os temores de grande parte do mercado com o resultado ruim do payroll de julho eram injustificados, acreditamos que o número igualmente ruim desse payroll de outubro deve ser apenas pontual e deverá ser seguida de uma recuperação nos meses seguintes, numa dinâmica muito parecida com a que ocorreu com o dado da geração de vagas em setores não-agrícolas de julho, que veio mais fraco e foi seguido de dois meses consecutivos de recuperação.
Conforme o esperado, a taxa de desemprego permaneceu em 4,1% da força de trabalho. Em outubro, o número de desocupados avançou 150 mil, totalizando 6,98 milhões de norte-americanos. Mesmo com a taxa de desemprego se estabilizando em um patamar abaixo da taxa de desemprego natural de 4,4% estimada pelo Congressional Budget Office (CBO), o banco central norte-americano (Fed) deve continuar a privilegiar o mercado de trabalho ao tentar, daqui para frente, equilibrar os riscos do seu mandato dual.
Em outubro, a taxa de participação recuou 0,1 p.p., para 62,6%, frustrando as expectativas de estabilidade (62,7%). Já a razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) devolveu a alta de 0,2 p.p. registrada em setembro e voltou para o mesmo patamar de agosto (60,0%). Com os resultados, a primeira medida agora se encontra 0,7 p.p. abaixo do patamar observado no período pré-pandemia (fev/20), enquanto a segunda se encontra 1,1 p.p. aquém.
A média de ganhos salariais por hora subiu US$ 0,13 (0,4% m/m), vindo acima das expectativas do mercado (0,3% m/m), alcançando o nível de US$ 35,46 por hora trabalhada em outubro. Em doze meses, o salário médio por hora acumulou alta de 4,0% a/a, acelerando de 3,9% em setembro, vindo ao encontro das estimativas. Os dados recentes mostram que os salários vêm apresentando resistência em exibir uma trajetória consistente de queda que seja compatível com a convergência da inflação para a meta de 2,0%.
A criação de vagas no setor privado (ADP) foi de 233 mil em outubro, bem acima das expectativas de 108 mil, resultado que divergiu muito do payroll. Já o resultado do mês de setembro sofreu uma leve revisão altista, de 143 mil para 159 mil postos. Por essa mesma métrica da pesquisa ADP, a expansão média dos salários no setor privado saiu de 4,7% a/a para 4,6% a/a na passagem de setembro para outubro, esboçando uma maior convergência em direção a taxa de variação dos salários dos setores não-agrícolas (payroll), de 4,0% a/a. Por outro lado, o número de vagas em aberto (JOLTS), uma métrica de demanda por mão de obra, surpreendeu negativamente, registrando 7,44 milhões em setembro ante expectativa de 7,95 milhões. Ao contrário do ADP, a revisão do mês anterior foi para baixo, saindo de 8,04 milhões para 7,86 milhões em agosto.