A criação líquida de 119 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em setembro veio bem acima do esperado pelo mercado (51 mil, Bloomberg). Já as revisões relativas aos meses de julho e agosto subtraíram 33 mil postos de trabalho. O número de julho saiu de 79 mil para 72 mil, enquanto o de agosto recuou de 22 mil para -4 mil. Somando o resultado de setembro com as revisões dos dois meses anteriores o saldo líquido ficou em 86 mil empregos, um número ainda bem acima das projeções. As aberturas mostraram que o setor privado contribuiu com 97 mil postos no mês, enquanto o setor público contribuiu com 22 mil postos, com o governo federal sendo responsável pelo fechamento de vagas (-3 mil) pelo oitavo mês consecutivo.
A elevação da taxa de desemprego surpreendeu o consenso de mercado, saindo de 4,3% para 4,4% enquanto a expectativa era de manutenção em 4,3% (Bloomberg). Em setembro, o número de desocupados avançou 219 mil, alcançando 7,60 milhões de norte-americanos. Com a taxa de desemprego se situando exatamente no mesmo nível da estimada pelo Congressional Budget Office (CBO), embora não esteja havendo pressão inflacionária oriunda do mercado de trabalho, este também não está contribuindo mais enfaticamente para o processo de desinflação. Por sua vez, a taxa de participação subiu de 62,3% para 62,4% da força de trabalho puxada por um aumento da PEA acima da população ocupada (PO). Já a razão entre o total de empregados e a população em idade ativa (employment-population ratio) também aumentou, de 59,6% para 59,7%.
A média de ganhos salariais por hora subiu US$ 0,09 (0,25% m/m), vindo abaixo da expectativa do mercado (0,3% m/m, Bloomberg), atingindo o nível de US$ 36,67 por hora trabalhada em setembro. Em 12 meses, o salário médio por hora acumulou alta de 3,79% a/a, ficando acima das estimativas (3,7% a/a). Ainda que aquém do esperado, há continuidade da trajetória de lento arrefecimento dos salários que havia sido interrompida em julho.
Com a estabilização do front comercial, que deixou de ser uma fonte de incertezas após os EUA alcançarem acordos com uma série de países, a demanda por mão de obra expressa pelos dados (JOLTS) ficou praticamente inalterada de julho para agosto (7,227 milhões, ante 7,208 milhões) após o dado de julho sofrer leve revisão altista, saindo de 7,181 milhões para 7,208 milhões. Já a criação de vagas no setor privado, medida pela métrica do ADP, foi mais um dado a exibir um resultado moderado, registrando a criação de 42 mil postos em outubro, ante expectativa de 38 mil (Broadcast+). O dado de setembro sofreu uma leve revisão (de -32 mil para -29 mil). Já os salários repetiram em outubro a mesma variação média anual observada em setembro (4,5% a/a).
Esse sinal de alento exibido pelo mercado de trabalho norte americano no payroll de setembro, ainda que relevante, não fornece informação tão precisa sobre o real estado da economia americana pelo fato de ser referente a um período anterior ao shutdown do governo. Por conta de o governo ter ficado fechado por um período recorde, de mais de 40 dias, os impactos sobre a atividade econômica e sobre o mercado de trabalho, especialmente o do setor público, não foram desprezíveis, de modo que a economia nesse 4º trimestre do ano deve estar exibindo uma maior fraqueza. Adicionalmente, o fato de que o payroll de outubro não será divulgado e os principais dados referentes a novembro só serão conhecidos depois da reunião do banco central em 10 de dezembro faz com que a melhor opção para o FED seja a de dar continuidade ao ciclo de corte de juros na última reunião do ano. O espaço para o FED continuar afrouxar a política monetária deve deixar de existir em 2026, quando um conjunto de fatores (fim do shutdown do governo, impulsos fiscais da “One Big Beautiful Bill” e implementação da agenda de desregulamentação da administração Trump) deve contribuir para uma recuperação da atividade econômica.
